Fim do blog?

Por mais que tenha tentado, não consegui manter este blog atualizado. Simplesmente não consegui reservar o tempo que precisava. Tenho escrito mais profissionalmente, em outra mídia, com outro nome.

Foi uma grande jornada, com muitos momentos distintos.

Mas acho que chegou a hora de encerrar com dignidade e começar outro projeto, sem o peso de carregar um legado.

Os posts vão continuar por aqui, como um registro deste tempo todo, mas não pretendo atualizar mais.

Obrigado por todos que passarar por aqui e me deram a honra de ler estas tortas linhas.

Liberdade de Pensamento cumpriu seu papel.

Novo projeto no substack: https://marcosjunior1.substack.com/

Brasil na Ginástica Artística: Da Distância à Conquista

Brasil na Ginástica Artística: Da Distância à Conquista

Quem me conhece sabe que não sou de enaltecer demais o “quase lá”, mas temos que entender bem o contexto. No caso da medalha inédita de nossas meninas ontem na ginástica artística, não tem nada de “quase lá”. Talvez em relação à prata, mas nós, e o resto do mundo, ainda estão um pouco distante das americanas. Questão de tempo?

Tenho idade para lembar de Los Angeles, 1984. Foi a primeira olimpíada que o Brasil conquistou um número um pouco mais expressivo de medalhas (ajudado pelo boicote da URSS). Lembro bem da Luisa Parente, nossa esforçada ginasta, primeira a disputar os jogos. Não foi para nenhuma final. Na época vendo a disputa pensei que nunca chegaríamos lá, a distância foi muito grande.

Alguamas décadas depois vieram nossos primeiros talentos, tanto no feminino quanto no masculino. Individualmente aos poucos chegamos lá. Vieram as medalhas e me perguntei se não era um novo fenômeno “Guga Kurten”, ou seja, um fenômeno de um talento que aparece de vez em quando, mas que não trata de um esforço consistente de um país em ter sempre atleta de ponta competindo.

Pois esta medalha por equipes mostra que não. O Brasil atingiu realmente uma prateleira de destaque na modalidade, revelando atletas de forma constante. Uma combinação de talento e estrutura, incluindo treinadores e suas equipes. Por isso este bronze é muito importante, por isso vale ouro.

Foi emocionante ver nossas meninas superarem um início difícil, em que parecíamos longe da medalha, e conquistá-la no último momento, na última apresentação. Deu orgulho vê-las no pódio ontem. Mostrou que a combinação talento e esforço é possível em nosso país e isso não é pouco.

Notas: A Abolição do Homem

Notas: A Abolição do Homem

8 Notas sobre o livro A Abolição do Homem, do C S Lewis (1944).

  1. A educação moderna leva à supervalorização dos sentimentos, relativizando o juízo de valor que se torna uma expressão puramente subjetiva.
  2. O peito do homem tem função de subordinar o corpo ao intelecto, a emoção à razão. A modernidade está produzindo homens sem peito, ou seja, homem incapazes de ordenar os sentimentos pela razão.
  3. Os inovadores morais escolhem parte da tradição como base para os valores que criam, rejeitando parte que não lhes interessa. O único critério é o próprio sentimento.
  4. Apenas dentro do Tao (tradições comuns) é possível evoluir e não na criação de novos valores, especialmente quando criados sem conexão com a verdade que só o direito natural pode trazer.
  5. O projeto da nossa era é o domínio do homem sobre a natureza, mas num primeiro estágio nada mais é que o domínio do homem por um pequeno grupo de outros homens.
  6. Num segundo estágio, este homem que domina não se subordinando aos valores tradicionais (Tao), cria novos valores que para serem independentes precisam ser frutos do natureza irracional que supostamente dominou. Significa que a natureza triunfa sobre o homem no momento que este se julga vitorioso.
  7. A má ciência leva o homem a criar geraçãoes que serão subordinados ao pensamento de uma elite corrompida que os precedeu, sem que nem imaginem esta situação. Como esta elite é dominada pela natureza, o resultado será a abolição do homem.
  8. Uma ciência regenerada, que afirma o homem só poderá existir dentro do Tao e nunca fora dele.

Suma Teológica: uma aventura intelectual

Há alguns anos me aventurei na leitura da Suma Teológica, de São Tomás de Aquino. É realmente uma aventura pois é um monumento de umas 5 mil páginas. A minha edição é da Ecclesiae, dividida em 5 volumes, sento o terceiro, que terminei esta semana, o que trata das virtudes.

São 189 questões, cada uma dividida em artigos, que abordam diferentes aspectos da questão. Cada artigo começa com as objeções à tese que São Tomás vai defender, seguido de sua explicação e terminando com sua resposta a cada uma das objeções levantadas. Dificilmente tem como ser mais honesto que isso. A coerência da obra como um todo, com as questões servindo de suporte para as próximas, sem contradições, só tem explicação sobrenatural. Não há nada parecido no mundo que vivemos.

Depois de alguns anos de leitura, avalio que não estava preparado quando comecei. Talvez ainda não esteja, mas duvido muito que alguém realmente tenha o preparo suficiente para ler a Suma. Para nossa sorte, ela vai nos ensinando a medida que vamos lendo, vai nos tornando mais inteligentes porque ela nos mostra como devemos pensar as questões da vida. Um daqueles livros para passar a vida lendo.

São Tomás foi professor na Universidade de Paris, ainda no século XIII. A suma é um resumo das suas aulas de teologia, organizadas sistematicamente. Como pode existir uma obra assim, em um período marcado pelas ditas trevas, é um mistério. É uma defesa da doutrina da Igreja, mas feita com racionalidade e não com argumentos de autoridade. Mais que isso, ele coloca todas as objeções possíveis para tratá-las uma a uma. Se repararmos bem, a Suma está repleta de ataques à Igreja, antecipando tudo que falam dela hoje.

É difícil classificar São Tomás como um filósofo pois o que fez, no fundo, foi colocar a filosofia à serviço da teologia. Com certeza é um pensador, mas que desafia nosso próprio entendimento sobre seu papel na história das idéias. Acima de tudo é um doutor, pois nos ensina e é rigoroso em seu método. Talvez até o maior de todos a utilizar este título.

O vento está mudando?

Há algo diferente no ar, estou sentindo. Pode ser apenas um desejo, um fio de esperança que as coisas mudem e saiamos deste pesadelo kafkaneano que nos metemos (ou nos meteram), o que preferirem. Mas pode ser uma mudança real também.

Quando o vento muda de direção, ele não faz de uma hora para outra. Primeiro para de ventar, ficamos com a sensação de alguma coisa esquisita. Só depois ele começa lentamente a soprar novamente, ganhando velocidade aos poucos.

É esta a sensação que tenho hoje. Estava ventando muito em uma determinada direção, quase nos removendo toda a esperança. Este vento começou a perder a força e enfrentou os primeiros obstáculos. Pois este vento nunca teve a força toda que imaginamos que temos, até porque enfrenta algo muito poderoso, que é a verdade.

Bastou um pouco de organização e coragem para dar um susto. E veio o medo. Sim, percebo o medo dos arrogantes.

Vão cair. E vai ser lindo de acompanhar.

Por enquanto é mais esperança que análise. Mas não é assim que aconteceu alguns anos atrás?

O paradoxo do catolicismo brasileiro

Eram quase 17 horas quando cheguei na Catedral Imaculada Conceição, em Franca. Estou em viagem de trabalho e mesmo assim dou meu jeito de conseguir ir na missa de domingo. Um ponto positivo é que me dá uma perspectiva melhor sobre diferenças em estilo na condução do culto pelos diversos padres, mas não sobre isso que gostaria de falar.

O que me chamou atenção mesmo é que a Igreja estava cheia, coisa que tem sido comum. A única exceção foi a missa que assisti em Stanz, na Suiça. Uma catedral lindíssima, uma missa muito bonita, mas pouca gente numa manhã de domingo, e quase todos idosos. Não é o que tenho visto no Brasil.

Será que estamos vivendo um movimento diferente por aqui? Quando olhamos para o IBGE, a porcentagem de católicos tem caído, mas já ouvir que isso se deve principalmente porque praticamente todo mundo se declarava católico no país, mesmo que não tivesse nenhuma devoção verdadeira. Com o avanço das igrejas evangélicas, claro que foi deste pessoal que saíram os novos protestantes.

Só que muito católico tem descoberto a própria fé e se tornado assíduo nas missas, inclusive demandando confissão. É um fenômeno no mínimo interessante.

Acredito que isso tem muito a ver com o caos em que estamos vivendo. Não podemos nos enganar nisso, o Brasil é um país caótico. A Igreja é um refúgio, uma resistência da ordem e por que não dizer, de beleza. O homem precisa de ordem em sua vida e não vai ter isso em muitos lugares em nosso país, basta ver a feiura que tomou conta de nossas universidades.

Observo este fenômeno com atenção e otimismo. Muito do que acontece hoje no Brasil é porque sabem se aproveitar de um catolicismo fraco que professamos no dia a dia. Os políticos dominam a arte de manipular cristãos de mentirinha. Agora, se estes cristãos se tornarem mais concientes, mais ligados a própria fé, a coisa vai mudar de figura.

Um último ponto. Parece que quanto mais tradicional for o rito, maior a audiência. Não significa voltar a missa em latim, que por sinal é belíssima, mas de tirarem os exageros que foram colocando no culto, bem na linha do que o papa Bento XVI alertava. Menos cantoria, menos gente no altar e mais momentos solenes. Isso agrada. Para escutar moda de viola, o lugar é outro.

Guerreiro Ramos: por que?

Estou relendo a Nova Ciência das Organizações, do Alberto Guerreiro Ramos. Um dos pensadores que colocamos no esquecimento. Por que?

Neste livro, ele vai mostrando como nossa sociedade funciona a partir de um pressuposto errado, do que chama de sociedade centrada no mercado. Sabem aquela expressão “é a economia estúpido?”. Pois é. Está na raiz do problema pois no fundo o homem é muito mais do que isso e acaba se adaptando a se definir por uma concepção reducionista de sua própria existência. Somos muito mais que o homem econômico, mas esta percepção não interessa nos dias de hoje pois nos afastaria do consumismo que sustenta esta realidade disfuncional.

Não deveria nos espantar a quantidade de pessoas em tratamento psicológico ou com distúrbios emocionais. O homem amputado jamais terá o equilíbrio de lidar com a vida.

Apenas na sociedade industrial moderna, graças aos imperativos instituicionais, foi o indivíduo induzido a comportar-se como um ser econômico.

5 dicas de cultura: hereges, new york, ressurreição e Alice Cooper!

A cultura em grande parte trata de cultivar o nosso espírito. Para isso precisamos de coisas boas, seja pela leitura ou artes em geral. Semanalmente trago aqui 5 pílulas que me instigam, me fazendo refletir sobre a vida e nosso papel no mundo.

1. Um livro: Hereges

Quer entender o mundo moderno? Comece por aqui. No início do século XX, mais de uma década antes da I Guerra Mundial, Chesterton examinou as idéias que dominavam o debate público de sua época e apontava onde iam chegar. Impressionante o grau de acerto. Praticamente um profeta dos tempos que vivemos.

Link para o livro: Hereges

2. Um disco que estou escutando: New York (Lou Reed)

Esse escutei pela primeira vez hoje, seguindo uma dica no twitter. Primeira audição achei excelente. Já candidato a um favorito. Não conheço muita coisa do Lou Reed, apenas os excelentes Transformer e Berlim.

3. Um filme: Ressurreição (2016)

Filme apropriado para esta época do ano, mostra um centurião romano que recebe a missão de investigar o desaparecimento do corpo de Jesus para impedir que se espalhasse a notícia que surgia sobre sua ressurreição. A Bíblia é uma fonte inesgotável de boas histórias. Se pelos menos a indústria americana não tivesse se perdido na ideologia e colocado seus preconceitos acima de seus interesses econômicos. O grande problema dos filmes baseados na Bíblia é que, corretamente divulgados, seriam sucesso absoluto, colocariam o universo marvel no chinelo. Mas aí seria demais para os sensíveis suportarem.

imagem de filme Ressurreição

4. Um ícone: Ressurreição (1645)

Sou grande admirador dos ícones, especialmente da Igreja Bizantina. Este ícone, pintado em plena renascença, mostra Jesus resgatando Adão e Eva do inferno, após a sua ressurreição. Obra de Youssef Al-Musawwer.

imagem de um icone bizantino mostrando Jesus ressussitado

5. Uma frase:

Nem preciso completar

5 Dicas da semana: naufrágios, momentos, REM

A cultura em grande parte trata de cultivar o nosso espírito. Para isso precisamos de coisas boas, seja pela leitura ou artes em geral. Semanalmente trago aqui 5 pílulas que me instigam, me fazendo refletir sobre a vida e nosso papel no mundo.

1. Um livro que estou lendo: Robson Crusoé

Um clássico que ainda não tinha lido. Impressionante como você se consegue colocar no lugar do náufrago mais famoso do mundo e acompanhar suas reflexões sobre a vida. Momentos de tranquilidade e angústia se sucedem, assim como a busca de entender os caminhos da providência. Na origem de seus infortuneos, não faltaram avisos, como se Deus tivesse dando oportunidades para evitar o destino que lhe estava reservado.

Link para o livro: Robson Cruzoé

2. Um disco que estou escutando: Appetite for the People (REM, 1992)

Disco bastante melódico e interessante. Gosto particularmente da sonoridade da bateria.

Faixas para prestar atenção: The Sidewinder Sleeps Tonight, Man on the Moon

https://open.spotify.com/embed/track/7tLTov4Ax1pyGcaV4qWrP5?utm_source=generator

3. Um conceito: Tipping Point

O ponto de mutação foi popularizado pelo livro do Malcolm Gladwell. Trata-se daquele momento que muda uma determinada tendência. Muitas vezes este momento não é percebido na hora e só depois de algum tempo percebemos a importância dele. Lembrou-me de um outro livro, do Stephen Zweig, momentos luminosos da história. Esta semana pensei muito no tipping point. Musk que o diga.

Link para o livro: Ponto de Mutação

4. Um pintor: William Turner

Chesterton escreveu em algum texto que os pintores ingleses dominaram a arte de pintar a natureza, especialmente o clima. Para mim o maior exemplo é o William Turner. Suas paisagens marítimas são arrebatadoras, e traduzem com perfeição a luta do homem com a natureza.

Naufrágio de um cargueiro

5. Uma frase:

“Ninguém cresce sozinho”
Shunji Nashimura

É a frase inspiradora do grupo Jacto, que fabrica máquinas e implementos agrícolas, entre outras coisas. Tem uma história muito bonita de um imigrante japonês que chegou ao Brasil sem um centavo no bolso, sem falar português e criou um império.