27 de Setembro de 2005 – Não é difícil concluir que, dos dez últimos governos, os melhores foram militares. Os últimos 42 anos de nossa vida republicana foram divididos entres os cinco governos militares – de 1964 a 1985: Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e João Figueiredo – e os cinco pós-redemocratização: Sarney, Collor, Itamar, FHC e Lula. Os quatro últimos eleitos pelo voto direto.
Todas as forças que se opunham aos militares tiveram sua chance de exercer o poder ao longo dos últimos 21 anos. A oposição liberal, democrática, reunida no grupo do PMDB do qual faziam parte Tancredo Neves e Ulysses Guimarães, a que veio se juntar José Sarney, e os dissidentes do regime, como Aureliano Chaves, Marco Maciel e Antonio Carlos Magalhães, que formaram a Frente Liberal. Estes governaram com José Sarney, com saldo positivo, em que, a despeito da crise na área econômica, as grandes obras foram tocadas até o final, os índices sociais melhoraram e o processo político foi garantido pelo bom senso e pela firmeza do general Leônidas Pires Gonçalves. Sarney chegou ao poder depois de longa e vitoriosa carreira, tendo se portado como experiente estadista, apesar de pressionado por parte do PMDB e pelo que veio a ser depois o PSDB.
Collor trouxe, de fato, a modernidade para a vida brasileira. Reabriu os portos, provocou a busca da qualidade e da competitividade, começou o processo de privatização, mas foi vítima da irresponsabilidade do comando que escolheu para a equipe econômica e o mau comportamento, desde o ético até o moral, de muitos dos companheiros mais chegados. Mas as irregularidades apontadas nunca foram comprovadas. Ao contrário. Posteriormente, o Supremo Tribunal Federal inocentou o presidente. Não se pode negar a Collor a maior guinada na agenda do Brasil desde 1930 e que serve de exemplo até hoje a seus sucessores.
Itamar Franco administrou a crise política, conciliou, deu ao País exemplo de austeridade com simplicidade. Mostrou espírito público ao tocar projetos de interesse nacional, com os quais, em princípio, não concordaria em outras condições, como a emblemática privatização da CSN. E criou o Plano Real. Aqui, aliás, cabe uma ressalva. Talvez tenha errado ao ceder à pressão política para afastar o ministro Eliseu Resende, que concebeu, nas suas origens, o Plano Real.
Fernando Henrique Cardoso levou ao Planalto o primeiro grupo que incluiu intelectuais e militantes que fizeram oposição aos militares na periferia da luta armada. Equipe composta especialmente por um grupo que nunca escondeu o ressentimento e o revanchismo, em que a defasagem salarial dos militares se constitui em exemplo inquestionável. O revanchismo não foi percebido em toda a sua dimensão pela personalidade hábil e educada do presidente. A ética foi agredida na reeleição, a economia na ilusão do câmbio controlado e do endividamento descontrolado, além da ausência de uso da autoridade, em que o episódio da invasão de propriedade rural da família do presidente foi exemplo. Obras pouquíssimas, sendo destaque apenas a segunda etapa de Tucuruí. A herança maldita não é retórica política, portanto.
Em resposta ao comportamento arrogante do grupo que ficou no poder durante oito anos e à estagnação no processo de desenvolvimento, o País optou pela quarta tentativa de Luiz Inácio Lula da Silva se eleger, dando a ele uma vitória muito superior ao tamanho de seu partido. Cacoetes ideológicos do passado, entrega de funções a militantes despreparados e idiossincrasias com aliados levaram a um tipo de composição política totalmente equivocada. Entre doses de arrogância de uns e a falta de objetividade de outros, o governo vem se desgastando e não encontrou ainda o caminho do desenvolvimento e das realizações. Não está conseguindo executar nem o Orçamento aprovado, embora tido como insuficiente. A situação ainda não é desesperadora, mas exige mudanças de rumo, sem afetar os eficientes ministros que tocam a economia, o comércio exterior, a agricultura e o turismo. É preciso liberar recursos para transportes e energia, áreas em que o papel do Estado ainda é vital. E atender o social no saneamento e na habitação popular.
Não fica difícil concluir que, dos dez últimos governos, os quatro melhores foram militares que, exceto no período Geisel, deram ao País progresso, com ordem e austeridade, nos levando à oitava economia do mundo. Hoje, estamos entre as 14 ou 15 maiores.
Quanto à probidade de seus integrantes, vale o testemunho da vida modesta de suas viúvas e filhos. O saldo de realizações em obras públicas, no campo social, na segurança e na autoridade foi, efetivamente, muito positivo. O resto é elitismo ideológico puro.
Aristóteles Drummond – Jornalista.