Lá para Janeiro de 2019, quando Jair Bolsonaro assumiu a presidência, 10 em cada 9 jornalistas mostravam preocupação com o tal Estado de Direito. Lembro que uma das semi-deusas chegou a presenteá-lo com uma constituição. Havia, inclusive, reportagens mostrando preocupação que o novo presidente estava armando um golpe de estado para se tornar ditador. Artistas apareciam em defesa da democracia e, com lágrimas, falavam em medo de perder a liberdade.
Dois anos de pandemia e ninguém mais fala em Estado de Direito, nem mesmo aquele das tetas. Falar neste mito da democracia moderna se tornou altamente desconfortável porque teriam que questionar muita coisa que se fez no país nestes dois anos, tanto no sistema jurídico como na maioria dos executivos em nível estadual e municipal. Curiosamente o único que não usou o estado para fortalecer seus próprios poderes foi aquele que todos diziam que era uma ameaça.
Já pararam para pensar? A pandemia era a desculpa perfeita para violar o tal Estado de Direito e assumir poderes excepcionais, basta ver o que o filhote do Fidel está fazendo no reino do extremo-norte. Ao contrário, o presidente das bananas tentou usar o estado para frear os arroubos totalitários, o que foi frustrado pelos deuses do Olimpo, que se tornaram fãs de carteirinha de qualquer governante que colocasse a política e a força do estado contra as pessoas comuns. Será que não é ódio às pessoas comuns que une todos estes sinistros personagens? Fica o questionamento.
Vejo as cenas lamentáveis da cavalaria policial do Trudel avançando contra a multidão. Alguém me diz: a maioria do povo canadense apóia as medidas do governo e querem os tais truckers presos. Faz sentido. O uso de poderes totalitários não surge sem um bom apoio na população. Ao contrário do que se diz, o fundamento na democracia não é a decisão da maioria, mas o direito das minorias. A maioria só pode decidir dentro de certos limites. É quando estes limites são alargados ou eliminados que surgem as condições para a tirania.
A pandemia fez justamente isso. Se a maioria apóia uma medida sanitária, pouco importa o que pensa a minoria. Não existem direitos fundamentais para se apoiar; não existem limites para os podres constituídos. Criam-se as condições para que os tiranos apareçam, seja em São Paulo ou em Ottawa. Se no Brasil não vemos cenas como várias que vemos ao redor do mundo, em países que jamais imaginávamos usarem a força deste jeito, como Austrália e Canadá, é porque por aqui tivemos a sorte de não ter um tirano na presidência.
O tal Estado de Direito não resiste ao medo generalizado. Quando isso acontece, os tiranos se apossam dele, usando as melhores justificativas, e apoio de parte considerável da população, para oprimir. Sempre começa com a minoria, mas não se enganem.
Sua vez vai chegar.