Gosto de brincar com minha esposa e filha que meu maior desejo é me tornar um flaneur. A palavra é francesa, mas entrei em contato com ela em um dos livros do Nassim Taleb e significa algo como um observador, uma pessoa que anda pela ruas em atitude desinteressada, mas atenta ao que acontece. Elas logo acham que estou de vagabundagem, mas não se trata disso. O que me interessa realmente é a natureza humana e seus dramas.
Nestes dias tenho reparado em quantas pessoas conhecidos que estão enfrentando situações pesadas. Em algum lugar li uma frase que me fez pensar: trate bem todas as pessoas que encontrar, você não sabe o peso que estão carregando. É por aí. Por maior que seja o sucesso de uma pessoa, nada indica que por trás daquela imagem não tenha uma realidade de sofrimento e angústia.
A pandemia só acrescentou mais um fator, o da ansiedade pela possibilidade de adquirir uma doença que pode matar em dias e, principalmente, o das perdas. Todo mundo perdeu um amigo ou parente nestes quase dois anos; todo mundo teve que lidar com a perda. Para uma mente reflexiva, é muita coisa para se pensar. É o tipo de coisa que me interessa, como lidamos com a dor? Como vencemos esta sensação de impotência misturada com injustiça? A cada caso, mais perguntas me faço, mais penso.
Não se trata de uma vã curiosidade ou alguma forma de morbidez, mas do desejo sincero de entender quem nós somos, pois a natureza humana é fascinante, tanto nos seus dias ruins quanto nos dias bons. Infelizmente estamos em uma época de sofrimento (e muita loucura). Como se diz por aí: dias melhores virão.