É próprio de uma civilização materialista reduzir tudo à matéria. Nada é mais revelador desta impressão que a frase usada para explicar a eleição de Bill Clinton: “é a economia, estúpido”. É apenas a versão moderna do núcleo do pensamento de Karl Marx, que rejeitava toda a transcendência e reduzia o homem ao seu componente econômico.
Não é de hoje que o Brasil está mentalmente preso nesta concepção. No debate público, as poucas questões que fogem ao econômico são relegadas a segundo plano, como se fossem luxo. Analisamos nossos políticos sempre pela lente do dinheiro: quanto ganham, quanto gastam, quanto custa um mandato, qual o valor dos projetos, etc. Há uma perspectiva quase geral que o nosso principal problema é de enriquecimento. Quando se fala em desenvolvimento, tudo se resumo ao econômico.
Eu não acredito nisso. Em contrário, creio que o principal problema é cultural. Um povo precisa ter as idéias no lugar para produzir riqueza. Precisamos de um choque de cultura. Aqui cabe uma importante distinção, não falo de alta cultura teórica, mas da cultura do senso comum, das idéias eternas de solidariedade, colaboração, dedicação, busca do crescimento pessoal e tantas outras. Entender, por exemplo, que para qualquer sistema econômico funcionar há uma base de moralidade que deve existir. A confiança entre as pessoas é uma das condições necessárias para o verdadeiro desenvolvimento.
Não quer dizer que eu endosse a idéia que tudo é educação. Ao contrário, com essa educação que temos aí, que aliás nem deveria ser chamada de educação, este sistema de ensino, cada real a mais colocado e um real perdido. O seu grande produto é matar nas crianças a capacidade natural de perguntar, imaginar e ser criativo. Tem vezes que acho que toda minha vida tem sido uma grande jornada de destruir os hábitos que a escola me ensinou e substituí-los por uma verdadeira cultura, uma cultura com base no que é eterno.
Em resumo, não acredito que o Brasil possa se desenvolver de fato sem cultivar as idéias corretas primeiro. Acho até que já fomos longe demais com o pouco que temos e qualquer ganho que se possa ter sempre será marginal. Ou seja, estamos condenados à estagnação. A internet abriu espaço para que idéias possam circular livremente, mas até isso está ameaçado. Não faltam filo-totalitários, togados ou não, querendo suprimir a liberdade de expressão para nos manter prisioneiros do conformismo, esta matrix brasileira que nos reduz a um imenso rebanho. O que o Brasil precisa é de uma conversão cultural, um voltar-se para as verdadeiras idéias do espírito, abandonando de vez as ilusões materialistas. O grande desafio é como despertar este sentimento em uma quantidade de pessoas que possam liderar este esforço de mudança. O que não faltará nunca são os agentes do caos, conscientes ou não, capazes de tudo para matar nos homens a liberdade de pensar.