O Brasil de 2021: crise sacrificial

No capítulo 3 de a violência e o sagrado, Rene Girard utiliza a peça Édipo Rei para explorar a hipótese da crise sacrificial, onde a violência de todos contra todos parece que vai explodir a qualquer momento.

Surge então um mecanismo, onde as pessoas vão ficando cada vez mais parecidas entre si e passam a canalizar seu ódio para uma única pessoa, que reúne as condições ideais para que possa receber toda culpa. Ela será apontada como a grande responsável e sua eliminação será a condição para estabelecer a paz novamente. É o que Girard chamou de vítima propiciatória. Ela é propícia para canalizar toda a violência.

O antagonismo de cada qual contra cada qual é substituído pela união de todos contra um. (…) Os homens querem convencer-se de que seus males dependem de um responsável único do qual será fácil se desembaraçar.

Não falta no capítulo inclusive uma menção à peste que assola Tebas, uma das formas que a violência de todos contra todos se manifesta.

O Brasil está vivendo um alinhamento onde forças vistas como antagonistas (sorry, não resisti) passam a não somente se alinhar, mas a se tornarem indiferenciadas (onde termina o MBL e começa o PSOL, ninguém mais sabe). No movimento é preciso que todos tenham claro que o responsável é um só, que deve ser violentamente afastado.

O que segura este mecanismo é que para funcionar a sociedade deve realmente acreditar na culpa da vítima. As castas já estão convencidas, mas falta aquele detalhe: o povo.

Mas os abutres não precisam ficar tristes. Parece que estão, aos poucos, conseguindo o convencimento que precisam.

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