Sábado Santo e o mundo de hoje

Sábado Santo: dia do sepultamento de Deus; não é isso, de maneira impressionante, o nosso dia? O nosso século não começa a ser um grande Sábado Santo, dia da ausência de Deus, na qual até os discípulos têm um vazio congelante no coração, que aumenta cada vez mais, e por isso se preparam, cheios de vergonha e angústia, para voltar para casa, e se dirigem taciturnos e destroçados, em seu desespero, para Emaús, sem se dar conta em hipótese alguma que aquele que acreditavam morto está entre eles? Deus morreu e nós o matamos: será que nós percebemos mesmo que essa frase é tomada quase ao pé da letra pela tradição cristã, e que nós muitas vezes em nossas viae crucis já repetirmos algo semelhante sem nos darmos conta da gravidade tremenda do que dizíamos? Nós o matamos, encerrando-o no invólucro rançoso dos pensamentos habituais, exilando-o numa forma de piedade sem conteúdo de realidade e perdida entre fases feitas ou preciosidades arqueológicas; nós o matamos por meio da ambiguidade de nossa vida, que estendeu um véu de escuridão também sobre ele: de fato, o que mais poderia ter tornado Deus problemático neste mundo, senão a problematização da fé e do amor daqueles que creem nele?

Bento XVI

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *