
A liturgia de ontem trás uma interessante passagem do livro do Êxodo, em que o Senhor faz vários alertas ao povo de Israel. O Pentateuco possui basicamente três conjuntos de leis: as litúrgicas, as rituais e as morais.
As primeiras referem-se às vestimentas, ao altar, o incenso, a ordenação sacerdotal. Em grande parte incorporou a tradição da Igreja Católica. O segundo conjunto, dos rituais, referem-se ao sacrifício, a circuncisão, purificação, alimentos puros. Quase tudo foi revogado pelo próprio Cristo que se tornou o cordeiro no sacrifício.
Já a terceira parte, as leis morais, é o tema da liturgia do último domingo. Na primeira leitura, cita-se um trecho do Êxodo que devem ter parecido muito estranhas dentro da cultura pagã da antiguidade.
O Senhor diz para não maltratarem os estrangeiros, pois Israel foi estrangeiro no Egito. Nem os orgãos e viúvas, que eram talvez as pessoas mais desemparadas da antiguidade. Também não devem explorar economicamente os que se encontram em situação de vulnerabilidade. Entre outros alertas.
Se lermos as tragédias gregas e os poemas de Homero, nada disso aparece por lá. Os gregos, assim como as demais civilizações da época, exaltavam o homem forte e tinham um ideal de justiça muito implacável. Não foi por acaso que Nietzsche, em seu resgate desta cultura antiga, tenha rotulado o cristianismo de moral de escravos, em contraste à moral dos senhores.
Pois a lei moral que o cristianismo nos trás vai além da justiça pagã e sua cultura, vai ao encontro dos humildes e mais pobres, introduzindo a caridade e a empatia como critérios sociais. O próprio Cristo foi a resposta ao clamor da maioria dos povos antigos que não encontravam em sua cultura as respostas por seus anseios mais profundos, de origem e finalidade da vida humana. A bela liturgia de domingo nos recorda que tudo isso já se encontrava no Antigo Testamento e os dez mandamentos serão válidos sempre, pois são leis atemporais que vigorarão enquanto existir o homem na terra.