Um tema que aparece nestes dias de quarentena é o da solidão. Estamos com a imagem das famílias reunidas em casa, sem poder sair, mas e o outro lado? E as pessoas que vivem sozinhas?
A solidão em si, não é um problema como mostra o interessante livro The Loner´s Manifesto, de Anneli Rufus, que li anos atrás (dica do J P Coutinho), afinal, defende ela, todos temos necessidade de nossos momentos solitários. O problema é a incapacidade de lidar com a solidão, um mal real para muitas pessoas.
A modernidade, principalmente quando nos deixamos levar pelo niilismo, pela ausência de um norte moral para nos guiar nos momentos de dificuldade, ampliou esta incapacidade, principalmente nos grandes centros urbanos. Eric Rohmer nos mostra o sofrimento causado pela solidão através da personagem Delphine (Marie Riviére) no filme O Raio Verde.
Solidão não é estar sozinha. Delphine sente solidão mesmo em companhia de outras pessoas, mesmo com as amigas. Ela chora constantemente no meio de conversas, de momentos que deveria estar se divertindo. Seja em Paris, na praia, nos alpes. As cenas da praia em Biarritz é emblemática: uma praia lotada, digna de Copacabana num domingo de sol, e ela lá, solitária e sofrendo.
No fim, quase em um ato de desespero, resolve dar uma chance para a graça e busca um sinal de esperança. Quero quer que foi o que viu no raio verde, o último raio do sol poente. Que seu último choro tenha sido de alívio e não de desespero.
