Há uma narrativa que os protestos na América Latina estão sendo gerados pelo Foro de São Paulo, em reação ao avanço conservador nos últimos anos. Considerando que o primeiro efeito prático foi a renúncia de Evo Morales e a reconquista, pelo voto, do segundo mais importante país do continente sugere que não é bem assim. Há protestos de ambos os lados do espectro ideológicos.
Pouco se falou sobre o que Eric Voegelin considerava o problema central da democracia, a representatividade. Para que um regime democrático funcione, é preciso que a representatividade funcione.
Não se deve confundir, alertava ele, representatividade com voto e aparato eleitoral. Essa é só a parte mais visível e até em Cuba tem eleições. A grande questão, a meu ver, é se existem canais democráticos, tanto na estrutura do estado como fora dele (exemplo: a imprensa), para que a voz das pessoas seja ouvida.
Quando a pessoa comum percebe que nenhum partido a representa, que a mídia pensa o oposto dela, que não há instituições que possa brigar por ela, fica sem opções. A rua passa a ser sua plataforma.
Neste sentido, temo pelo que pode acontecer se o cerceamento da liberdade de expressão nas redes sociais continuarem. Estarão fechando um importante canal para que as pessoas se manifestem livremente, e que tem dado resultado (como a campanha pela reforma de previdência). A internet é uma importante válvula de escape para que vozes sejam ouvidas, mas tudo pode mudar se ele continuar no rumo de só permitir opiniões politicamente corretas, alinhadas ao estamento cultural corrompido que temos no Brasil.