A vaidade e o jornalismo

O jornalismo tradicional está sendo destruído pela própria vaidade. E é preciso que isso aconteça para que se restabeleça seu verdadeiro papel.

Talvez o marco zero da auto-destruição do jornalismo seja Watergate. Foi um episódio que fez de dois jornalistas, celebridades. A partir daí, todo mundo queria ser o novo Woodward e Bernstein. Todo mundo sonha em derrubar um governo.

Ao mesmo tempo, temos um jornalismo em grande parte ideológico, em que falar de viés de esquerda é um enorme eufemismo.

Para piorar, um caso mais típico no Brasil, temos a imbecilização provocada pelo completo domínio cultural da esquerda a partir dos anos 60, que acabou com o debate público e criou uma geração que nunca experimentou o contraditório.

Em resumo, temos jornalistas despreparados, ideológicos e, acima de tudo, vaidosos. Receita para o desastre.

Três exemplos recentes mostram bem o quadro.

Entrevista do Jair Bolsonaro no Roda Viva. Em vez de fazerem entrevista, os jornalistas queriam destruir a candidatura do Capitão. O resultado foi vergonhoso, pois ao tentar fazer política contra um profissional, coisa que Bolsonaro efetivamente é, tomaram uma surra. O Roda Viva nada mais é que uma plataforma para que jornalistas sejam a estrela do espetáculo a custa de um entrevistado, seja ele quem for.

Jim Acosta. Vejam o vídeo completo. Ele não faz uma, mas duas perguntas ao Trump. O presidente responde as duas. Acosta tinha perguntado porque Trump tinha chamado a marcha dos hondurenhos que atravessavam o México de invasores. Trump explicou sua posição e o uso do termo. Acosta diz que não concorda e resolve dar uma aula do que seja invasor para Trump. Quando é interrompido pois tratava-se de uma coletiva e tinha mais gente para perguntar, resolve fazer uma terceira pergunta, agora sobre a Russia. O interesse público na coletiva é Trump e não acosta. Para comentar a resposta, o espaço é outro.

Por fim uma entrevista de Jordan Peterson à britânica Helen Lewis. Peterson tem um best seller na praça, fruto de seu trabalho como psicanalista e acadêmico. Ao invés de fazer jornalismo, ou seja, entrevistar o cara, ele resolve debater com ele. Esse é o maior exemplo de vaidade. Ela quer discutir como se fosse uma acadêmica, no mesmo nível de Peterson. Logicamente toma uma surra.

São três quadros que mostram o mesmo fenômeno, uma vaidade que faz com que o jornalista se coloque como centro da atenção, tentando usurpar do entrevistado a audiência que ele está recebendo.

O jornalismo está em desgraça não por causa de ideologia, mas da vaidade de jornalistas que não possuem o conhecimento que julgam possuir. Sofrem do efeito Dunning-Krueger (possuem conhecimentos superficiais e, por isso mesmo, acreditam saber muito mais do que realmente sabem).

Eles estão cavando as próprias covas.

allthepres

Jornalistas no espelho

 

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