Fui aluno de EMC na escola, lá nos longínquos anos 80. Sinceramente? Sempre achei uma matéria chata, pedante e sem sentido. Não acho que tenha me contribuído em nada; só roubou tempo que eu poderia estar dedicando a coisas mais importantes, como jogar bolinha de gude ou lendo Agatha Christie.
Já disse que concordo com a maioria das idéias do Bolsonaro, e discordo em algumas menos importantes. Esta é uma delas. Sou bem chestertoniano nesse aspecto de misturar escola com moral; tenho calafrios. Acho que lugar de ensinamento moral é em casa e na Igreja. A escola já ajudaria muito se não atrapalhasse.
Sim, aprendi algumas coisas sobre símbolos nacionais, mas é muito pouco para justificar uma disciplina. Acho sim que a escola pode participar do ensinamento do civismo, mas basta inserir nas aulas de história, português. Não vejo símbolo mais poderoso para uma nação do que a língua, e olhe como é maltratada, especialmente pelas escolas.
A maioria dos meus amigos são a favor da EMC nas escolas, como nos “nossos tempos”. Pois em favor dos “nossos tempos” me permito discordar. Se estamos falando de desagregação moral, precisamos de uma mudança de cultura, e isso é muito mais complicado. EMC com a cultura que temos? Acho que só piora. Afinal, a maioria de nossos professores acredita que é perfeitamente moral assassinar uma criança no ventre da mãe e que não é nada demais ter um presidiário governando um país. Vou dar mais palco para essa gente?
Precisamos de uma mudança de cultura, e de um resgate de coisas preciosas que perdemos, não tudo, pois não sou reacionário. Como dizia Chesterton, é uma falácia dizer que não se pode recuar os ponteiros do relógio. Podemos sim, é equipamento mecânico, criado por nós. Qualquer criança que já brincou com um relógio cuco já o fez, para ver o cuco cantar novamente. Podemos e devemos resgatar coisas perdidas ou esquecidas que foram preciosas para a humanidade.
Eu preferia voltar ao latim do que EMC. Ou uma disciplina voltada exclusivamente para a lógica. Ou jogar bolinha de gude no recreio. Nosso desafio maior hoje é ensinar nossas crianças a entender um texto; só isso já seria mais importante para uma educação moral do que tentar ensiná-la diretamente.
Precisamos de uma mudança cultural, que tem que começar, necessariamente pela alta cultura. Enquanto chamarmos Karnal ou Cortela de filósofos, estamos perdidos. Enquanto dermos palco para uma Marilena Chauí, nada avançaremos. Precisamos de filósofos, historiadores, escritores, pintores, artistas de primeira; coisa que quase não temos.
Precisamos entender que cultura não é show business, como dizia Bruno Tolentino (um poeta que pouco brasileiro tem condições de entender). Cultura é a forma de viver de um povo. Há mais cultura em uma cantiga de roda do que na maioria das peças teatrais encenadas no Brasil. Há mais cultura em uma pequena biblioteca escolar do que em toda TV Cultura.
A mudança efetiva do Brasil começa pelo resgate da alta cultura, não com vitória em eleições. A alta cultura é necessária para termos a cultura popular e vice-versa. Ambas se alimentam.
Precisamos da vitória do Bolsonaro hoje não para resolver os problemas mais profundos do país, mas para estancar a hemorragia. Dar uma parada na degradação cultural e moral que temos há pelo menos 50 anos. Segurar as pontas para ganharmos tempo.
Bolsonaro é um remédio para enfrentar os sintomas.
A doença só se curará com a produção de uma geração de pensadores comprometidos com a realidade e capazes de iniciar um processo de resgate cultural e moral do país.
E isso, só uma pessoa no Brasil, fala. Para muitos, um extremista radical. Em certo sentido, ele é. Pois sua tese é radical no sentido de sua profundidade. Ela realmente é uma proposta de mudança real.
E tudo que vejo me aponta que ele tem razão.