Terminei ontem de ler Henrique IV, parte 2. Algumas notas:
- Juntamente com a parte I, a peça trata da transição do Príncipe Hal, que vive cercado de má influências, a começar por seu tutor Falstaff, em um dos grandes reis da Inglaterra, o famoso Henrique V.
- A parte 2 vai concluir esta jornada. Hal vai substituir como figura paternal o anárquico Falstaff pelo ponderado lorde juiz, um dos principais conselheiros de seu pai.
- Trata-se de uma aceitação de seu destino, que Hal vê claramente como um fardo que terá que carregar (a cena com a coroa é marcante).
- Muitos acham que ser de uma família real é ser um privilegiado. Hal comete todas as loucuras da juventude justamente porque sabe que um dia chegará ao fim e terá que viver um papel para o resto de sua vida. O próprio Henrique IV, em seu leito de morte, confessa ao filho que não foi feliz com a coroa.
- Henrique IV tornou-se rei de forma ilegítima. Por isso teve que lutar a vida inteira para manter a coroa e se desgastou até a morte.
- Quem trai um, trai outro.
- Falstaff é uma figura dionísica. Anárquico, com uma lei moral própria, mestre das trapaças, mas ao mesmo tempo generoso e capaz de realmente ter afeto. Em contraste, o Lorde Juiz é uma figura apolínia. Correto e ponderado, chegou a prender o príncipe Hal por desordem. Fiel a princípios, não muda de atitude com o novo rei. O predomínio do impulso dionísico faz parte da juventude, mas o homem maduro necessita de Apolo, ainda mais se tiver grandes responsabilidades.
- O afastamento, no fim, de Falstaffé necessário, mas nem por isso menos tocante.
- O Príncipe João é uma deformação do apolínio. Se o Lorde Juiz tem a reta razão como guia, João tem sua própria fonte de moral, como demonstra a forma como lidou com a rebelião. Eficiente e pragmático, evitou uma guerra, mas não se pode dizer que foi honesto.
- Henrique IV passou os últimos anos querendo conquistar Jerusalém sem saber que já a tinha em seu próprio palácio.

Falstaff e o Lorde Juiz: Dionísio e Apolo