Tenho lido muito sobre os problemas da democracia, considerado o melhor regime político criado pelo homem, e por isso mesmo longe de ser perfeito. Recentemente li textos de João Pereira Coutinho, Olavo de Carvalho e um audio do falecido José Munir Nasser, em aula sobre Ortodoxia, do Chesterton.
Todos alertam para o mesmo ponto: Platão e Aristóteles consideravam a democracia a perversão de um regime possível, a República (ou Cidadania). Aristóteles, lembra José Munir, alertava em seu livro Política que os cargos do executivo não deviam ser alvo de eleições. Apenas os representantes (legislativos) deveriam ser eleitos. Por que o estagirita assim considerava? Porque os governantes não poderiam ficar reféns das vontades dos eleitores. Aliás, Aristóteles dizia também que não devia se incentivar a participação política para evitar que aqueles que não se importam, nem procuram se educar, passassem a ter voto. Anti-democrático? Sim, mas é este o ponto. Aristóteles não considerava a democracia um modelo virtuoso. O que não significa que defendesse uma tirania, para ele o pior dos regimes.
Lembro que Chesterton também chamava atenção que a democracia estava sempre a um passo da tirania. Bastava que o povo perdesse a paciência e resolvesse dar poderes especiais para uma pessoa ou grupo resolver logo os problemas da sociedade (veja os episódios 1 a 3 de Guerra nas Estrelas, uma aula de como a democracia se torna uma tirania).
Coincidência ou não, hoje estava lendo Rites of Spring, o livro de Modris Eksteins sobre a Grande Guerra. Ele narra no Capítulo 2, Berlin, como as multidões foram as ruas na Alemanha para exigir a guerra quando o Arqueduque Francisco Ferdinando foi assassinado em Seravejo. Os moderados do governo _ sim, eles existiam! _ e a oposição de sociais-democratas e socialistas, todos contra a guerra, se viram obrigados a votar no parlamento pela guerra, pois viram que não havia como ir contra tamanha vontade popular. O Kaiser, que sempre trabalhou no limite, forçando a política externa sempre a um passo de um conflito, também não teve como resistir. Em resumo, os políticos se viram pressionados pelo povo a se lançar em uma aventura que sabiam ter pouca chances de sucesso pelo tamanho da aliança França-Inglaterra-Rússia. Pode-se dizer que foram altamente democráticos e escutaram a vontade popular.
O resultado foram algumas dezenas de milhões de mortos.