Semana passada assisti o terceiro filme da trilogia de Bergman sobre o silêncio de Deus. O Silêncio (1963), conta a estória de um dia na vida de duas irmãs, a intelectual Ester e a sensual Ana. Diante de um ataque de bronquite crônica de Ester, elas interrompem uma viagem de trem e se hospedam em um hotel em uma cidade não nominada, que vive a expectativa de uma guerra.
Minhas notas iniciais:
- Onde está o silêncio de Deus neste filme? Ao contrário dos dois outros filmes, nenhum das personagens formula indagação sobre Deus.
- Talvez a solução esteja no entendimento dos dois primeiros mandamentos: amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo.
- Se o foco de Luz de Inverno está na relação direta com Deus, O Silêncio tem seu centro na relação entre as pessoas.
- Se o padre encontra o silêncio de Deus talvez por sua incapacidade de se comunicar com as pessoas, a situação aqui parece invertida. As irmãs talvez falhem em se comunicar pela ausência de uma preocupação com Deus. Ambas se entregam a seus ídolos (sexo e vida intelectual).
- No fundo, as irmãs são iguais. Só muda o foco da atenção delas. Não sabem lidar com o amor entre elas e tudo vira uma oportunidade para agressão e causar dor.
- Quem mais fala no filme é o estranho camareiro, que parece se preocupar genuinamente com o sofrimento de Ester.
- O filho de Ana está entediado, pois é ignorado pelas irmãs pela maior parte do tempo. Talvez represente o futuro, que é sempre sacrificado quando nos deixamos levar por nossas intemperanças.
- Desta vez o filme não tem uma abertura para alguma otimismo. O destino das irmãs parece fadado à infelicidade. O que fica evidente é a falta de comunicação real entre elas. Mesmo quando conversam, se deixam levar pelo ressentimento e não abrem espaço para um entendimento verdadeiro.
- Como no primeiro filme, novamente Bergman sugere a questão do incesto. Por que? O que deseja comunicar?