Um pouco sobre a crise financeira

Desde que a bolha imobiliária estourou e a crise financeira tornou-se evidente, evitei de tirar conclusões e assumi minha total ignorância. O que não quer dizer que tenha me refugiado nela, muito pelo contrário. Comecei a ler sobre o assunto, nas mais variadas fontes.

Ficou evidente neste processo, que me faltava uma base de conhecimentos econômicos para entender bem o que estava se passando. Por isso comecei a ler livros de introdução à economia. Estou no meu terceiro, este bem mais completo do que os outros dois. Trata-se de “Introdução à Economia”, de Mankiw. O livro tem mais de 800 páginas, estou na 250. Pretendo terminá-lo até o meio do ano.

Não vou me tornar um economista em três livros, mas pelo menos começo a tomar consciência de minha própria ignorância, o que é sempre o primeiro passo para a compreensão da realidade. Como dizia Sócrates, só sei que nada sei.

Durante este tempo tenho lido, sempre que possível, artigos sobre a crise financeira. Os economistas e analistas discordam sobre as causas e efeitos; muitas hipóteses surgiram para explicar o que aconteceu. Na maioria das vezes, estas hipóteses são colocadas como certezas, parece que todo mundo sabe o que está acontecendo com o mundo.

Os comunistas dizem que é o fim do capitalismo. A sede de lucro está na raiz de todo o problema, é o sistema se auto destruindo como previa Marx, embora com um certo atraso. Para eles a solução é a de sempre. Acabar com o lucro e a propriedade privada, estatizar a economia. Só o planejamento centralizado seria capaz de deixar o mundo livre das crises econômicas e financeiras.

Os sociais democratas, liberais americanos e outras versão “lights” do socialismo, acreditam que o problema está no neo-liberalismo. Eles estão convictos que a economia estava funcionando totalmente livre, sem a presença do estado, e aí estaria o problema. Banqueiros passaram a emprestar dinheiro irresponsavelmente criando uma bolha que agora estourou, fruto também da busca pelo lucro. Durante a bonança, os banqueiros lucraram sozinhos, agora eles querem o socorro do estado. Eles defendem a estatização de parte da economia e uma regulação mais dura com a finalidade de diminuir as margens de lucro e aproximar o mundo econômico do mundo financeiro.

Eles também criticam a sociedade de consumo. Os amaricanos teriam entrado em uma febre consumista sem precedentes e a capacidade de continuar comprando teria acabado, pois a fonte de recursos do sistema financeiro finalmente secou. A busca por lucros combinado com o consumismo teria provocado uma bolha especulativa que finalmente teria explodido na cara de todos.

Os economistas liberais conservadores argumentam no sentido oposto. Seria o excesso de regulamentação do estado que teria provocado a crise. Quando o estado intervém no mercado, gera desequilíbrios na lei da oferta e demanda, colocando a economia em perigo. Eles negam que o mercado estivessem trabalhando desregulado. Lembra que as empresas americanas que estavam no epicentro da bolha imobiliária eram fortemente controladas pelo governo americano que as levaram a emprestar dinheiro para pessoas sem capacidade de pagamento em uma espécie de política afirmativa aplicada à economia.

De maneira geral eles defendem que o governo corte impostos e reduza custos. Mais dinheiro nas mãos das pessoas significaria mais consumo e aquecimento da economia. São contra o pacote de Obama que teria o efeito de prolongar a crise causando uma depressão, mais ou menos como dizem que aconteceu na Grande Depressão da década de 30. Defendem também uma menor interferência do governo no mercado.

O misterioso Spengler, do Asian Times, defende que o problema está relacionado com a redução do número de filhos na população americana. Sem filhos, ou com apenas um, a geração do pós guerra teria investido no mercado imobiliário como forma de guardar suas economias para o futuro, já que não teria quem cuidasse deles na velhice. A valorização dos imóveis teria sido um grande atrativo para este fim, e a bolha imobiliária teria encontrado nos americanos em via de aposentadoria o combustível para seu crescimento.

Spengler defende que famílias constituídas, com vários filhos, gastam ao invés de investir. Este gasto mantém a economia funcionando dentro das leis de mercado. Além de cortar impostos, o governo deveria tomar medidas para incentivar a constituição das famílias como maiores reduções no imposto de renda por dependentes, subsídio para hipotecas de famílias com filhos e mesmo a revisão da lei do Aborto.

Bento XVI, em 1985, já apontava que o sistema financeiro entraria em colapso em função da degeneração moral da sociedade. Argumentava que o capitalismo precisava de uma base ética para funcionar, a partir do momento que esta base ruisse a economia caminharia junto. Segundo ele, as leis econômicas garantem a eficiência do mercado, mas são incapazes de garantir o que seria melhor para a sociedade. A dissociação da ética da economia através da secularização crescente das sociedades ocidentais deveria ser combatida, a economia precisaria desta base de valores para funcionar.

Este é um resumo das várias explicações para a crise financeira mundial. Algumas são bastante conflitantes, outras nem tanto. A busca da verdade é muitas vezes difícil, mas deixar de procurá-la torna o homem um prisioneiro das opiniões dos outros, um homem massa. Tenho estudado e observado para tentar chegar nas minhas próprias conclusões, tentar entender o mundo real e não ficar preso ao que temos na cabeça. Só a verdade liberta.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *