Lei seca está fazendo água

Lauro Jardim:

A PRF já havia alertado há um mês para essa desaceleração na eficácia da lei e reforçará agora a necessidade de os motoristas respeitarem a regra. O número de autuações a motoristas pegos alcoolizados nesses quatro meses ficou 54,7% maior que no mesmo período do ano passado. E mais, após dois meses de afrouxamento da fiscalização, com uma redução do número de flagrantes, eles voltaram a crescer nas estradas, apesar de isso não ter se refletido diretamente em um aumento na redução do número de mortes. Ou seja, o motorista está sendo mais fiscalizado, mas continua indo para as estradas alcoolizado.

Comento:

Roberto Campos costumava comentar que tudo que é rigorosamente proibido acaba sendo ligeiramente permitido. O problema do alto índice de acidentes no Brasil não era o nível permitido de álcool nas estradas. Não havia necessidade de estruprar a constituição para promover demagogia.

O grande foco era a impunidade. Não adianta querer ser rigoroso com quem não cometeu nenhum crime e ser extremamente tolerante com quem o faz. Existem exemplos mil, o mais famoso deles é do jogador Edmundo. Embriagou-se, matou e até hoje está livre. Quantos mais estão na mesma situação? Quantos já realmente cumpriram alguma pena pelos acidentes que provocaram?

Outro problema crônico é as péssimas condições das estradas federais. Fica difícil investir na malha rodoviária quando o estado não dispõe de recursos para investimento e manutenção tendo em vista a prisão assistencialista que a carta de 88 provocou. A saída seria a iniciativa privada, mas o pedágio acaba caríssimo pelo alto custo de promover qualquer atividade econômica no país.

Soma-se isso ao espírito de desrespeito ao próximo e temos a tragédia que vemos ano após ano. Com a lei seca, tirou-se o foco das verdadeiras causas do problema. Passada a euforia inicial, a lei só funcionará mesmo para aqueles que nunca foram o problema, os bebedores moderados, aqueles que não costumam se exaltar.

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