Tentando entender a crise

Nestas horas é que sinto falta de conhecimentos maiores em economia. Como a grande maioria dos brasileiros fico vendo estas notícias sobre a crise que explodiu nos Estados Unidos sem entender quase nada. Pelo menos tenho uma certeza: não vou construir meu entendimento baseado em repórteres de jornal que conhecem até menos do que eu.

Diante de um problema tão complexo comecei a tentar separar de tantas notícias juntas a opinião de gente que entende do assunto, mesmo que fossem opiniões divergentes. Do confronto destas idéias estou tentando separar o que é comum, o que é objeto de consenso e o que faz mais sentido.

Comecei então pelas tais Fannie e Freddie. As duas são tratadas pela imprensa como duas empresas privadas que emprestaram mais do que poderia mostrando que o livre mercado não funciona. Uma das coisas que já entendi é que elas não são empresas particulares pois trabalham fortemente reguladas pelo governo.

Em 1992 o Congresso americano, dominado por democratas, estimulou as duas empresas para que aceitasses hipotecas de pessoas com baixa renda mensal promovendo operações de alto risco. Pior, foi estabelecido uma política de favorecimento às minorias levando o política de reparações para o sistema financeiro.

O governo Clinton aumentou a intervenção quando um dos seus secretários, Andrew Como, investigou a Fannie por discriminação racial e propôs que 50% do valor das hipotecas fosse destinada ás pessoas com baixa ou média renda mensal, ou seja, que poderiam ter dificuldades de pagar.

Outra informação interessante foi que os bancos foram orientados a aceitar o pagamento de benefícios sociais e de desemprego como renda para efeito de concessão de hipotecas.

O mercado imobiliário está longe portanto de estar operando pelas regras do livre mercado. Com o controle do executivo e legislativo por parte dos democratas as políticas afirmativas foram levadas ao sistema financeiro resultando na farta concessão de créditos para quem não tinha condições de pagar. O resultado foi uma bolha que foi crescendo até explodir agora na cara de Bush.

Para os que defendem a regulação econômica por parte dos políticos é bom observar o que escreveu o economista João Luiz Mauad:

O mercado europeu, com sua regulamentação ultra-rígida, não escapou à crise, havendo quem estime que os problemas por lá serão ainda piores que nos EUA. Por exemplo: o passivo total do Deutsche Bank é de, aproximadamente, 2 trilhões de euros, ou quase oitenta por cento do PIB alemão. Seu fator de alavancagem é de absurdas 50. Já o passivo do inglês Barclays é de 1,3 trilhões de libras esterlinas, maior, portanto que o próprio PIB da Inglaterra (fator de alavancagem de 60!). Ou seja: mesmo em meio a severas regulamentações, os bancos europeus não escaparam de apresentar taxas de exposição ao risco ainda maiores que as das empresas americanas.

Gregory Mankiw, no primeiro ano do governo Bush, alertou que o subsídio implícito a Fannie e Freddie, aliado a concessão de hipotecas a pessoas que não deveriam recebê-las estava criando um enorme risco a todo sistema financeiro.

Ann Coulter termina seu último artigo com uma constatação:

Now, at a cost of hundreds of billions of dollars, middle-class taxpayers are going to be forced to bail out the Democrats’ two most important constituent groups: rich Wall Street bankers and welfare recipients.

Isso se o governo americano realmente chegar a socorrer o sistema financeiro, coisa que o Congresso pode atrapalhar. Deveria? Esta é uma questão que sou absolutamente incapaz de fazer. Gente como Reinaldo Azevedo diz que sim, outros como Mauad diz taxativamente que não.

As primeiras conclusões que tiro desta crise é que sua causa não é o livre mercado como querem nos convencer, existem digitais do governo americano por toda parte. Outra, igualmente importante, é que interessa aos grandes capitalistas que o estado passe a regular o sistema financeiro pois é em ambientes regulados que a elite financeira afere maiores lucros com baixo risco; no fundo eles não gostam muito da estória de serem regulados pelo mercado.

Por isso Mauad termina seu último artigo afirmando que é preciso salvar o capitalismo dos capitalistas e defendendo a não intervenção do governo.

Cita o economista Luigi Zingales, da Universidade de Chicago, que faz um alerta:

Será que queremos viver num sistema onde os lucros são privados, mas as perdas socializadas? Ou queremos vivem num sistema em que as pessoas são responsáveis por suas decisões, onde o comportamento imprudente é penalizado e o comportamento prudente premiado?

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