Juca é com certeza o maior blogueiro de futebol do país; por vezes até de outros esportes, principalmente o volei. Acho até divertido seu eufemismo corinthiano, principalmente agora na disputa da segunda divisão. O problema é quando resolve deixar o esporte de lado e falar de política. Aí o bicho pega.
No domingo publicou um artigo na Folha para explicar porque não iria acompanhar os Jogos Olímpicos, o que tem todo o direito de fazer, diga-se de passagem. Expôs seus argumentos mas chamou-me a atenção o seguinte parágrafo:
Porque a China talvez seja o melhor exemplo, com todas as suas contradições, de como ainda não se achou um sistema razoável, tão óbvias são as mazelas do comunismo e do capitalismo reais.
O uso da palavra real é bastante explicativo. Sempre que alguém fala das mazelas e do desastre do comunismo real ao invés de simplesmente comunismo, é porque possui um coraçãozinho vermelho. Recusam-se a admitir que o regime implantado na URSS, na China, em Cuba, sejam o comunismo que sonham até hoje. Para eles, trata-se de um desvio, da teoria mal aplicada quando na verdade o regime implantado em Moscou, Pequim e Havana é justamente a tradução do pensamento marxista. Não existe diferença entre o socialismo real e o socialismo utópico.
Pelo menos Juca reconhece as violações dos direitos humanos na China, o que nem todos fazem. Existe toda uma intelectualidade que só vê violação de direitos humanos em Guantamo, e não em Havana. No Iraque, mas não na Geórgia. No Rio de Janeiro, mas não em Moscou.
Outro ponto que Juca acerta é o de entender que governos não podem ficar investindo em esporte da alto rendimento em países pobres, coisa que é defendida por gente como Hortência e Oscar que sonham em aplicar no Brasil o modelo cubano. Infelizmente duvido que reconheça o passo seguinte que é o investimento por parte da iniciativa privada, seja por clubes, empresas ou mesmo universidades (particulares naturalmente). Um modelo próximo do americano que consegue ter equipes altamente competitivas sem usar dinheiro público.
A concessão de Juca é achar que o país precisa enriquecer para investir em esportes de alto rendimento. Acho que não é este o caminho, um país não deveria investir em atletas de ponta. Deixe para a iniciativa privada. Simples assim.
Por fim fala em capitalismo real, como se existisse um capitalismo utópico. O capitalismo nunca foi uma ideologia, sempre foi real. É baseado em conceitos naturais de troca, existe muito antes de qualquer teórico conceituá-lo. Adam Smith em seu livro A Riqueza das Nações apenas procurou encontrar o que havia de comum nas nações mais ricas da Europa, antes de ser um ideal seu pensamento foi um retrato da realidade.
Eu nao vejo problema no governo investir no esporte. Realmente, pode-se deixar a coisa pra iniciativa privada mas e quando o suporte dado pela iniciativa privada nao eh o suficiente? Aqui no Canada investia-se muito mais no esporte e o Canada nao fazia feio – principalmente nos esportes aquaticos – ai foram cortando verbas daqui e ali com essa desculpa que o suporte da iniciativa provada era suficiente e o Canada soh foi pro buraco. A maioria dos atletas canadenses disputando olimpiadas com chances vem de provincias como Quebec onde ainda se investe muito em infraestrutura, acesso ao esporte e apoio aos atletas. A Adrienne era atleta de nivel internacional e soh podia participar em competicoes internacionais pq a provincia bancava a conta. Geralmente soh os atletas jah consagrados conseguem patrocinio de empresas privadas. Quando se mudou pra Toronto, que fica em outra provincia, o apoio do governo se reduziu a zero e o nivel dela caiu muito. Ela se qualificou para uma competicao na Russia mas nao pode ir. Teve que voltar pra Quebec pra poder ter alguma chance. No ultimo ano dela como atleta ela ganhou dois ouros e uma prata nas tres modalidades que ela disputou na competicao nacional e uma medalha de bronze no mundial. Fizeram ateh um reportagem sobre ela no principal jornal canadense como possivel estrela das olimpiadas de 2004. Mas ela acabou jogando a toalha antes por falta de apoio financeiro.
Tendo convivido com um atleta na familia eu sei que todo e qualquer apoio eh fundamental. Por isso nao descarto o apoio do governo. A Australia eh um bom exemplo de como isso pode dar certo. Acho que temos que buscar tanto a iniciativa privada como o apoio de instituicoes publicas.
Para qualquer discussão sobre investimento por parte de governo é bom sempre lembrar que não existe dinheiro de governo, existe dinheiro público, o que é bem diferente.
Dinheiro público é retirado da sociedade e delegamos ao governo a decisão de como aplicá-lo. Lembrando sempre que as necessidades são infinitas e os recursos são escassos, todo dinheiro aplicado pelo governo em uma determinada área é deixado de ser aplicado em outra.
Devemos sempre nos perguntar, esta utilização de dinheiro é a melhor possível? Existe outra que traga melhores benefícios?
Pelo que me disse, as universidades e escolas canadenses são todas públicas, o que já dá uma pista para o problema de falta de investimento privado pois uma das fontes para este investimentos seriam as universidades privadas.
O Canadá é um país com alta carga de impostos o que significa que há menos dinheiro na sociedade e em conseqüência, menos dinheiro para investir por parte das empresas.
Não seriam estas razões para falta de investimento privado? Acredito que a iniciativa privada é muito mais eficiente para empregar recursos do que qualquer governo, mesmo o do Canadá. Isso pelas características naturais de qualquer burocracia estatal.
O esporte é uma atividade altamente lucrativa, basta ver o volume de dinheiro em uma Olimpíada. Se falta investimento da iniciativa privada acho que deveríamos perguntar por que e atacar as causas e procurar saná-las.
O poder público pode e deve estar presente para promover o desenvolvimento do esporte como fonte de saúde e isso é feito principalmente por políticas públicas voltadas para a baixa renda,como iniciação esportiva, e não para projeção política através de grandes competições esportivas.