Editorial Folha:
PESQUISA DATAFOLHA mostra uma recuperação da imagem do Congresso Nacional. Hoje, “apenas” 39% dos eleitores considera ruim ou péssimo o desempenho de senadores e deputados federais. Na avaliação anterior, de novembro, ainda marcada pela absolvição do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), esse percentual chegava a 45%. Não foi o fundo do poço. Em agosto de 2005, no auge do escândalo do mensalão, a marca bateu os 48%.
Já esteve pior, mas a avaliação do Congresso Nacional é realmente muito ruim, e com justiça. O que não é bom para a democracia e para o país pois o Congresso deve ser, usando a expressão do presidente do senado, a caixa de ressonância da opinião pública. É através do legislativo que se fiscaliza o estado e estabele seus limites através das leis; quando estas tarefas fundamentais são relegadas o cidadão fica sem defesas diante do leviatã.
Já escutei de um professor que o Brasil deveria ter apenas dois poderes, o executivo e o legislativo. Na prática estamos quase nisso, tamanha a interferência do governo no Congresso. Não é salutar que um senador deixe o cargo atrás de qualquer boquinha no executivo, não no presidencialismo.
Editorial Folha:
A TENTATIVA do governo fluminense de importar pediatras de outros Estados para atender às crianças contaminadas pelo vírus da dengue dá bem a medida da desorganização da medicina pública no país. Faltam pediatras não porque o Rio de Janeiro não os produza, mas porque não consegue motivá-los a trabalhar na rede oficial. Concursos são realizados, mas as vagas não são preenchidas. Essa tem sido uma constante no país.
A principal causa para o fenômeno são os baixos salários oferecidos por Estados e municípios, que, de forma paradoxal, não implicam necessariamente economia de recursos públicos.
O Brasil não é uma federação e aí está uma das raízes do problema de saúde pública. A concentração de impostos,e de poder, no governo federal provoca uma situação de dependência de estados e municípios o que afasta as decisões da população. Não é possível que o governador do segundo maior estado brasileiro tenha que ficar mendigando para conseguir fazer implementar sua políticas. O Brasil precisa de um pacto federativo para valer. Enquanto ele não vém o governo assiste de camarote os estados falidos tentando vencer desafios superiores às suas próprias capacidades.
Folha:
Quebrando acordo feito no Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou a obrigatoriedade de sindicatos, centrais sindicais, federações e confederações prestarem contas ao TCU (Tribunal de Contas da União). O veto a um artigo do projeto que reconheceu formalmente as centrais sindicais foi publicado em uma edição extra do “Diário Oficial” da União de anteontem e provocou reações da oposição.
Dizer o que? O presidente costuma dizer que não é que a corrupção tenha aumentado, mas que seu governo é mais transparente que os outros. Parece que mudou de idéia.
O Globo:
– Falta muito para fazer. Sou democrata. O Lula deseja fazer o seu sucessor. Mas digo que, se você perguntar aos brasileiros, o que os brasileiros desejam é que Lula fique por mais tempo no poder. Por quê? Porque está bem o Lula, vai bem o Lula, raramente encontramos um cidadão como ele para dirigir o país – disse Alencar à Rádio Bandeirantes. Perguntado se estava defendendo um terceiro mandato, Alencar respondeu:
– Nos EUA, são quatro anos mais quatro. Mas, nos anos 30, Roosevelt teve o terceiro mandato porque os EUA precisavam que ele continuasse.
As maiores democracias impedem a perpetuação no poder, deve haver algum motivo. Sempre que a popularidade do presidente estiver em alta aparecerá alguém jogando no ar a tese do terceiro mandato. Na pior das hipóteses serve como chantagem política.
A referência à Roosevelt é do jogo. O que Alencar não diz é que não havia limite para re-eleição na época. Logo depois foi instituído o limite por se entender que a experiência não havia sido válida. A troca de poder é necessária para a democracia. O que faz a democracia não é vontade da maioria, mas a defesa da minoria através das leis. A minoria tem o direito de eleger um novo presidente em 2010, mesmo que a maioria não concorde.
Augusto Nunes
“Sou cristão”, mentiu há cinco anos, no meio de uma entrevista, o chefão João Pedro Stédile, ajoelhado desde criancinha no altar de Joseph Stalin. Nem foi preciso pedir-lhe que recitasse a primeira parte da ave-maria. “Acredito em reencarnação”, tropeçou já na frase seguinte. Fez uma pausa e completou a brusca conversão ao espiritismo: “Não só acredito como quero viver outra vida rapidinho”.
Socialistas no Brasil tem a estranha mania de quererem ser cristãos, principalmente católicos. Advogam a tese absurda, que já escutei de um professor, que Jesus Cristo foi o primeiro socialista da história. Cristo foi claro: o meu reino não é deste mundo. O do comunismo é. Pretendem construir o paraíso na terra, até hoje só construíram o inferno. Mas tem gente que ainda acredita.
Estado de SP:
O bispo de Barra (BA), d. Luiz Cappio, reuniu-se ontem com entidades sindicais e condenou “as mentiras do governo Lula”. Ao lado da ex-senadora Heloísa Helena (PSOL-AL), ele denunciou o que acredita ser uma “situação de quase ditadura”. “O Executivo tem nas mãos o Legislativo e o Judiciário.” E voltou a criticar a transposição do Rio São Francisco. “É mentira. Esse projeto é para o capital”. Para Heloísa, o projeto é “uma farsa técnica e uma fraude política”.
Esse é bispo não pode ser um representante da Igreja. Condena o governo Lula por não ser comunista o suficiente, não é a toa que está ao lado de Heloísa Helena para gritar que a transposição é “um projeto para o capital”. Não tenho posição sobre a transposição pois quase nada sei sobre ela. Mas quando um religioso usa Marx para defender sua posição é melhor sair correndo e pegar um crucifixo.
Correio Braziliense:
Depois de pagarmos mais pelo gás boliviano, aproxima-se a hora em que, muito provavelmente, teremos de desembolsar mais também pela energia produzida em Itaipu. Fernando Lugo, candidato favorito à Presidência do Paraguai, se reúne hoje com Lula para discutir o assunto. Um acordo supostamente justo sobre o valor da cota de energia que cabe ao país vizinho e nos é vendida está no topo da pauta da reunião e da campanha do ex-bispo convertido em político de sucesso. Em meio a apertos de mãos e sorrisos, Lugo vem dizer educadamente, tal como já o fez o boliviano Evo Morales, que o Paraguai está sendo explorado pelos imperialistas brasileiros.
Sabem quem vai pagar a conta? Adivinhem?