Hoje no programa Painel da Globonews foi discutido as eleições americanas até aqui. O programa dividiu-se em dois blocos, no primeiro centrado na decisão republicana em torno de John McCain e no segundo em relação à disputa democrata entre Hilary e Obama. Apresento a seguir os principais pontos levantados na discussão:

  • John McCain enfrenta em seu partido uma desconfiança muito grande em seu próprio partido. O perfil mais moderado o coloca em uma posição que poderia ser considerado de “esquerda” dentro do partido republicano. Até que ponto conseguiria mobilizar o eleitorado conservador para as eleições?
  • No entanto, é uma figura com um certo carisma, um herói de guerra, de reputação ilibada. Seu maior problema é carregar a rejeição do governo Bush. Por mais que esteja dissociado do presidente americano, faz parte do partido do presidente e será o candidato da situação. Sua capacidade de se colocar como um candidato de mudança da situação atual é muito limitada.
  • Barack Obama tem como grande trunfo sua extraordinária capacidade midiática. Percebeu bem a insatisfação que aparece de forma difusa na sociedade americana, causada pelos rumos econômicos atuais e pela concentração de renda dos últimos 20 anos. Apresenta-se como o candidato da mudança, uma ruptura da política tradicional.
  • O problema é que até agora não apresentou uma proposta programática para os principais problemas que serão debatidos nas eleições. Isto o aproxima de um perfil “populista”; de certa forma quer um cheque em branco para mudanças. Que mudanças e como são duas questões que começam a inquietar não só os conservadores, como parte do eleitorado tradicional democrata e dos independentes.
  • Hilary Clinton é a candidata mais preparada do partido democrata. Tem o sucesso do governo Clinton para comparar com a era Bush, o que é um discurso poderosíssimo. Seu maior problema é seu concorrente no partido. A chamada por mudança começa a se alastrar como uma possível onda, e nestas condições seu nome passou a ser associado ao estabilishment, à política tradicional.
  • Nem Obama se apresenta como candidato negro, nem Hilary como candidata mulher, mas ambos começam a sedimentar nestes eleitorados uma importante base. No cenário de uma disputa mais acirrada poderão radicalizar nestas questões, o que poderá custar caro mais adiante.
  • O eleitorado americano vai mais além do que os eleitores registrados que participam das prévias. Estes são mais mobilizados, e se configuram como uma força para impulsionar os demais nas eleições. Muitas vezes se escolhe um candidato forte na militância mas que não atrai o eleitor médio, aquele que define o resultado de novembro. Historicamente os candidatos que se localizam mais no centro do espectro político costumam ter melhores condições para convencer este eleitor.
  • Esta seria uma importante vantagem de McCain contra Obama, pois este se afasta muito deste centro. Poderá em uma eleição criar um temor em relação ao seu nome que favoreceria o republicano. Esta vantagem desaparece diante de Clinton, com perfil mais próximo do centro. Uma questão que se levantou é que hoje não existe uma resposta para o atual lugar do centro tendo em vista o problema crônico do Iraque (e Irã) e a crise econômica que se configurou no fim do mandato Bush.
  • Qualquer que seja o candidato democrata, ele será o favorito. Entretanto, uma radicalização do conflito entre Obama e Hilary poderia favorecer o candidato republicando que poderia atrair parte do eleitorado democrata descontente ou se beneficiar por uma abstenção.
  • A chave para a eleição é até onde o eleitor americano estaria disposto a ir em termos de mudança. Daria um cheque em branco a Obama? Daria seu voto às mudanças propostas por Hilary, estas mais concretas e identificadas com o ideário histórico de seu partido? Ou ficaria com McCain, acreditando que seu afastamento de Bush seria suficiente para garantir uma mudança em relação ao atual governo?

Foi um debate importante para situar o brasileiro que não acompanha o desenrolar dos acontecimentos na maior nação do mundo. Alguém como eu. Os pitacos que tenho dado, são pitacos mesmo, frutos de uma observação ainda muito superfical. Tenho começado a perceber que a sociedade americana está em um processo de mudança, fruto do descontentamento, que tem abalado aos poucos o “american way of life”. Mas este é assunto para outros posts.

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