Brasilianos

Esqueci de comentar o excelente (como sempre) artigo de Stephen Kanitz na Veja da semana passada, tratando do tema “Brasileiros e Brasilianos”.

Kanitz remete ao uso da própria língua ao denominar de brasileiros todos nós que habitamos este país. Lembra que brasileiro rima com padeiro, carpinteiro, leiteiro; refere-se às profissões. Por outro lado temos italiano, americano, australiano. Mais do que uma nacionalidade, é uma declaração de cidadania. Faz a distinção de brasileiro e brasiliano nos seguintes termos: o primeiro é uma profissão, aquele que vê no Brasil uma terra a ser explorada, o mais rápido possível. O segundo, vê o Brasil como uma comunidade, como a expressão de uma família.

Brasilianos investem na Bolsa de Valores de São Paulo. Brasileiros investem em offshores nas Ilhas Cayman ou vivem seis meses por ano na Inglaterra para não pagar impostos no Brasil. Brasileiros adoram o livro O Ócio Criativo, de Domenico de Masi, enquanto os brasilianos não encontram livro algum com o título O Trabalho Produtivo, algo preocupante. Como dizia o ministro Delfim Netto, o sonho de todo brasileiro é mamar nas tetas de alguém. Quem está destruindo lentamente este país são os brasileiros, algo que você, leitor, havia muito tempo já desconfiava.

A vida social, segundo os clássicos, deve ser organizada em função de valores comuns e a disposição de fazer o possível para defendê-los, participando do desenvolvimento da própria comunidade. Envolve responsabilidades, fazer sua parte para o bem comum. Quantos de nós se dispõem a exercer uma função não renumerada em proveito de bem comum? Que envolva em uso do próprio tempo? Até nas coisas mais simples, quantos evitam jogar lixo nas ruas porque entendem que um local público pertence a todos, e não a ninguém?

Um dos motivos para nossa miséria, mais cultural e moral do que econômica, é a absoluta falta de sentido de comunidade para uma grande parcela da população, em todas as classes. Não existe esta comunhão de valores, nem a disposição de assumir responsabilidades dentro desta comunidade. Quantas vezes escutamos a frase “não vamos fazer isso não, dá muito trabalho…”

Qual é a proporção de brasilianos e relação aos brasileiros?

É o questionamento de Kanitz. O artigo pode ser lido aqui.

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