O lado de Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que a não-renovação da concessão da RCTV pelo presidente venezuelano Hugo Chávez foi um ato tão democrático quanto seria a possível manutenção da concessão da emissora.

Em entrevista exclusiva à Folha (só para assinantes), Lula ressaltou que não dá para “ideologizar” o tema, pois o mesmo Estado que dá uma concessão é o mesmo que não dá.

Taí para não ficar mais dúvidas quanto ao lado que Lula escolheu no episódio. Tivesse o Brasil instituições frágeis, como as venezuelanas, já teria feito a mesma coisa. Como não pode, usa as armas que tem: a propaganda institucional. Falou bem do governo? Toma propaganda da Petrobrás, do Banco do Brasil, etc. Falou mal? Se vira com seus leitores.

O grande trunfo do governo é a quantidade de partidários lulistas espalhados pelas redações sempre prontos a defendê-lo, seja qual for o assunto. Alguns pensadores já começam a manifestar uma opinião preocupante: o nosso guia é mais perigoso que o venezuelano.

E explicam. As manifestações da última semana em Caracas mostram que a população está pelo menos dividida e consegue se reunir para protestar. Aqui no Brasil não temos nada parecido. Os não lulistas estão mudos, incapazes de se mobilizar. Chegará um dia em que os venezuelanos darão um basta ao Chavizmo e aprenderão a não flertar com populistas-socialistas.

Aqui vai ser bem mais difícil. A oportunidade de varrer o nosso guia nas urnas foi perdida, em grande parte por culpa da própria oposição. Nas próximas eleições, sempre partindo do princípio que não será candidato, sairá para preparar-se para 2014. A bomba que deixará no colo de seu sucessor é um passaporte para sua volta triunfal para mais 8 anos.

E não é só isso. Mesmo fora do poder deixará uma herança maldita, como gosta de falar. Uma estrutura estatal toda infectada de partidários lulistas, sempre prontos a usar a máquina pública em seu favor. É como uma infecção por vírus. Já existiam antes de assumir a presidência, se multiplicaram e não param de crescer. São silenciosos e resistentes em sua maioria. Exigiria grande força política para extirpá-los da máquina pública.

E não é só no Estado. Estão nas redações, nos sindicatos, qualquer forma de organização comunitária e, pior de tudo, nas Universidades e escolas. O lulismo criou condições para sobreviver e ser passado por gerações.

Esta é a verdadeira herança maldita.

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