Uma Lástima

O governo brasileiro está fazendo tudo o que pode para transformar a visita do papa em um espetáculo de grosseria e vulgaridade. Só não consegue porque do outro lado existe um homem que se preparou e estudou durante toda sua vida para exercer a sua função.

Coube ao Ministro da Saúde o papelão maior até aqui. Já comentei neste blog de sua entrevista no Roda Vida. Nela saiu-se muito bem, apesar de não ter concordado com seus argumentos em defesa da “discussão” sobre a legalidade do aborto.

Por que “discussão” está entre aspas? Porque ao ler o JB de ontem fiquei estarrecido com a idéia que Temporão tem deste debate.

Para início de conversa foi taxativo. O aborto não é questão que envolva filosofia e religião, é saúde pública. Então estamos gastando dinheiro sem necessidade. Dengue? Taca fogo! Um bom incêndio controlado resolve qualquer epidemia como provaram os europeus na Idade Média. Resolve o problema de saúde. É claro que vão morrer alguns milhares ou milhões, mas isto é questão de filosofia. Ou de religião.

Depois ainda sai com mais uma pérola. A discussão é machista. Disse que se homem engravidasse o problema já estaria resolvido. É um dos piores argumentos que já escutei em toda minha vida sobre o assunto. E vindo de um ministro de estado, devidamente preparado para o cargo, é mais revoltante ainda. Tem mil maneiras melhores de defender o aborto como um direito de escolha da mulher do que usando um palavreado de bar da esquina como este. Nenhum dos mil convenceu-me até hoje que um ser humano pode ter direito de escolha sobre a vida de outro.

Por fim resolveu, no dia da chegada do papa, criticar a decisão de Bento XVI de apoiar os bispos mexicanos que excomungaram políticos daquele país que lutam pelo direito de abortar. Alguém deve lembrar ao prezado ministro que trata-se de um chefe de estado, e um ministro criticar suas decisões durante uma visita oficial é uma grosseria diplomática sem tamanho. Não vejo o governo brasileiro criticar Fidel Castro nem de longe, quanto mais em visita. E olha que o ditador cubano faz aborto de seres humanos na idade adulta!

Por fim, na conversa oficial entre os dois chefes de estado o presidente levou a primeira companheira. Não lembro de ter visto o nome desta mulher na cédula eleitoral. Educadamente, o papa comentou que este fato é inédito em sua vida. Uma coisa que aprendi a duras penas é que quase tudo (e estou sendo bondoso) que é inédito por aqui não costuma ser boa coisa. É claro que tratava-se de um troco do presidente brasileiro pela audácia do papa em defender a posição da igreja em sua chegada ao Brasil. E isto de um homem que diz que pessoalmente sempre foi contra o aborto…

Quer saber? Está mais do que na hora do parlamento brasileiro aprovar um plebiscito sobre o tema. Quero ver essa gente na televisão. Quero ver a cara de Temporão, Lula, e tantos outros na telinha defendendo suas posições. E deixem a população expressar a sua. Aproveitem as eleições municipais do próximo ano. Só não vale pergunta manipulada.

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