O problema da atenção

Ainda sobre o curso de escutatória, Thomas Brieu fala muito sobre a necessidade de atenção no ato de escutar. Isso acontece porque escutar é mais exigente que imaginamos. Temos que escutar o que o outro está falando, captar sua postura, pensar no que ele quer dizer, captar as palavras, pensar sobre elas, compreender o que está sendo dito, colocar na memória. É muita coisa e por isso temos que ter bastante atenção.

Pensando a partir deste ponto, fico refletindo que é justamente a atenção um dos principais problemas do momento. Este mundo crescentemente digital, com excesso de informações, parece só contribuir para nossa perda da capacidade de atenção. Queremos fazer tudo ao mesmo tempo e sem pensar no que estamos fazendo. Ou seja, não temos a devida atenção com nada.

Pelo que Brieu nos fala, sem atenção, não escutamos direito. E se não escutamos, a porta está aberta para o conflito. Não é surpresa, portanto, o ambiente belicoso que estamos vivendo, dentro de nossas próprias famílias.

O ponto positivo é que depende de nós diminuir esta fervura. Basta escutar com atenção. A pergunta que fica é: estamos dispostos?

O poder da escuta

Nas últimas semanas assisti um curso sobre escutatória. Foi uma experiência bem interessante e uma oportunidade de refletir sobre um tema que talvez mereça muito mais destaque do que imaginava. Até que ponto estamos realmente escutando o outro? E não escutando, que consequências temos no diálogo e até na possibilidade de se buscar entendimentos necessários? O curso teve como foco o ambiente de trabalho, mas creio que traz importantes reflexões para nosso dia a dia.

Quando olhamos para o ambiente tóxico de muitas redes sociais, especialmente as que se prestam mais a discussões públicas, não posso deixar de me perguntar até que ponto não é nossa incapacidade de escutar de verdade que geram muitos desentendidos e conflitos, muitas vezes no seio de nossa própria família. Ouvimos, mas não escutamos. Lembra algo que um antigo mestre falou diversas vezes: ouçam os que tem ouvidos para ouvido. Ter ouvido não significa realmente que estamos escutando.

Recentemente participei de uma reunião que o personagem central demonstrou não estar ouvindo, o que gerou muito desentendimento. Faltou-lhe abilidade para escutar mais e falar menos, o que teria resolvido a crise que se instalou de maneira muito mais proveitosa e simples, evitando todo um desgaste desnecessário. Será que a sabedoria não está em escutar mais e falar menos? Afinal, como ponderar e nos aconselhar se não temos material para trabalhar? Se não escutamos de verdade o argumento do outro?

A sabedoria popular já nos alerta que temos uma só boca e dois ouvidos…

Dia dos pais

De todos os papéis que exerço nesta vida, talvez nenhum seja tão importante do que ser pai. É uma baita responsabilidade, uma dedicação sem fim e, sobretudo, um ponto central em tudo que fazemos a partir do momento que temos a oportunidade, um verdadeiro presende de Deus, nosso Pai maior, de ter uma pequena criaturinha em nosso braço. Engano. Começa antes, bem antes. No momento que nos abrimos para esta possibilidade e temos a confirmação que nosso filho está a caminho. Afinal, ele já existe desde o momento da concepção (por isso mesmo a data da encarnação não é 25 de dezembro como muitos pensam, mas 25 de março. Neste dia o Senhor já estava entre nós).

Infelizmente há aqueles que pensa num filho como um custo e uma obrigação, uma espécie de âncora que impede a liberdade. Só em na cultura doente, para não dizer moribunda, que vivemos para uma visão destas ter alguma relevância. Meus filhos nunca significaram isso para mim. Sempre foram expressão da minha liberdade e fonte de luz para minha própri vida. O meu norte passa por eles, sempre.

E, claro, dia dos pais é dia de agradecer. Ao meu pai, que tenho o privilégio do conviver há quase 50 anos. E também ao nosso Pai maior, que está nos céus. Há eles devo o dom da vida e os bons conselhos que me ajudaram a direcionar minha vida todos estes anos. Ser pai é algo poderoso, embora há os que tentem diminuir esta importância, geralmente por questões ideológicas. É estarrecedor ver tantas crianças crescendo sem pais, fruto desta liberdade sexual desenfreada que nada mais é que uma desculpa para o hedonismo e destruição da família. Precisamos resgatar o papel do pai dentro da família e o papel da família dentro da sociedade. Somos a verdadeira resistência!

Parabéns a todos os pais deste mundo! Não é fácil nossa tarefa, mas é, acima de tudo, um presente dos céus.

P J Wodehouse

Estou lendo um livro de contos de P J Wodehouse, chamado Carry On, Jeeves. Entretenimento de primeira. Coisa fina.

Jeeves é o valete de um jovem nobre, Bertie, protagonista das estórias, mas é Jeeves que conduz a solução dos diversos problemas. Ele domina a arte de comandar sendo comandado. Coisa para poucos.

Wodehouse é irônico, satírico, bem na tradição dos grandes escritores ingleses. Não foram poucas as vezes que me vi rindo sozinho. Fazia tempo que não me divertia tanto com um livro.

Retomando, again.

Entre idas e vindas, retomo este espaço.

Nas últimas semanas as coisas andaram agitadas. Mudei-me com a família para uma casa, o que ainda nos exige um bom tempo de arrumação; tempo este, inclusive, que nem tenho, pois o trabalho tem me exigindo muito, especialmente em viagens. Nos últimos 2 anos e meio o que colecionei de milhas aéreas é uma grandeza. Acho que voei mais neste período que toda minha vida somada. Reclamo? Não. O job mais do que compensa, embora sinta falta de ficar mais tempo em meu lar. Ainda mais com casa nova!

Não foi só isso. Também usei este tempo para refletir mais e opinar menos. De vez em quando passo por este ciclo. Já dizia a antiga sabedoria: há tempo para tudo nesta vida. Há tempo de recolhimento, crescimento interno e há tempo para expansão, para dividir o que achamos bom. Estou entrando novamente nesta segunda fase do ciclo.

Atualmente estou lendo o livro dos provérbios. Segue um que tem a ver com o que disse acima:

O caminho do estulto é reto aos seus próprios olhos, mas o sábio escuta o conselho.

Pv 12, 15

Como estou aprendendo com São Tomás, na Summa, conselho não necessariamente vem de fora, de outra pessoa, mas do uso da nossa razão. Nós frequentemente nos aconselhamos; é uma das partes da razão. Só que para isso, temos que refletir, entender o nosso contexto e deliberar sobre o que é melhor, sempre visando os bens verdadeiros. Por isso precisamos de tempo, de parar um pouco esta roda viva da modernidade, desacelerar. Quando nos tornamos escravos deste ritmo louco da modernidade, perdemos a capacidade do conselho e passamos a agir sem o uso de nossa razão, que no fundo é um processo de desumanização.

O processo de nos tornarmos “integralmente humanos” passa pelo tempo que separamos para refletir sobre nossas vidas. Ou seja, precisamos recuperar nosso controle sobre o uso do tempo. É difícil? Se, é! Mas não temos outra escolha. Se não o fizermos, veremos a nossa vida passar em um instante e, no fim, nos restará o arrependimento de ter vivido muitas experiências e não termos aproveitado nenhuma.