Finalmente assisti o tal Não Olhe Para Cima (Don´t Look Up). Sim, sou desses que quase nunca acompanha a multidão. Quando esquecem de um assunto é que começo a me interessar por ele. Retornemos.
Trata-se de uma sátira à sociedade atual, que acerta em muitos pontos, mas que gerou um estranho fenômeno. Muita gente enxergou o filme como uma crítica ao “outro lado”, o que evidencia que somos justamente o que é satirizado no filme. Estamos em bolhas, incapazes de qualquer empatia e imersos em nossas prisões mentais.
A fala mais importante do filme é quando o cientista grita na entrevista final que é impossível comunicar desta maneira. É isso mesmo. O maior perdedor da modernidade é a própria idéia de verdade e sem colocá-la no centro da existência em sociedade, o que resta são discursos e narrativas, que estão livres para defender qualquer absurdos, assim como estamos livres para escolher a “verdade” que mais nos convém. Não queremos saber, queremos ser felizes.
O filme inteiro fiquei pensando em Poncio Pilatos e a pergunta fundamental que fez ao Cristo: o que é verdade?
Pilatos não pergunta qual é a verdade, o que implicaria em aceitar a idéia da verdade. Ele faz uma pergunta retórica para o Cristo, o que é. Não que queira saber, não se trata disso, mas de uma pergunta que esconde uma convicção: que a verdade é aquilo que precisa ser estabelecido para sustentar os próprios planos. A verdade passa a ser um instrumento e não um fim.
Vivemos a era da manipulação e só vai piorar.
