Humanidade (Rutger Bregman): minhas notas

  1. O livro tem uma proposta bem clara de defender a tese que a humanidade é boa na sua essência, ou seja, que a maioria das pessoas agem corretamente.
  2. Um dos problemas é que os atos de maldade conseguem muito mais publicidade, o que gera um viés na própria mídia interessada em audiência (ver caso Kitty Genovese)
  3. O autor combate a teoria do verniz, que diz que quando retirados da zona de conforto, o pior de nós aflora. A base da teoria é Hobbes: a civilização nos mantém comportados. Bregman segue a linha de Rousseau, que somos bons e a civilização nos estraga
  4. A idéia mais interessante que achei no livro foi o de nocebo. Contrário ao placebo, um remédio que ao prometer alguma cura nos faz sentir melhor, o nocebo nos apresenta uma visão irrealista da natureza humana, como essencialmente má, e nos faz nos comportar como se realmente fossemos daquele jeito.
  5. Nos momentos mais críticos, como nas tragédias, guerras, perdas, o melhor de nós aflora e procuramos nos ajudar.
  6. O grande problema é que esta visão otimista é visto como uma irrealidade. O cinismo e o interesse pessoal são vendidos como a grande realidade (efeito nocebo). Muitas vezes nos comportamos assim porque fomos convencidos a nos comportar desta maneira.
  7. O grande mecanismo para superar todas as dificuldades é a regra de outro: tratar as pessoas como gostaríamos de ser tratados. O efeito é exponencial. Esta seria a grande transformação da sociedade.

Para resumo e notas completas, segue o link do evernote

Humanidade – Resumo Anotado

Rapidinhas de sexta (e bíblicas)

1

Quando o profeto Elias enfrentou os 400 sacerdotes de Baal, chama atenção o número. Era um único contra quatro centenas. Eles tinham que invocar o fogo sagrado, mas apenas Elias conseguiu. Ou seja, não adianta uma esmagadora maioria de idólatras. Só quem tem o verdadeiro Deus no coração pode invocar o fogo sagrado da verdade.

2

Quando Pilatos perguntou quem deveria libertar, o povo pediu por Barrabás. Com certeza haviam seguidores de Jesus no meio da multidão, mas como Pedro, preferiam se calar.

3

Os romanos nunca conseguiram entender porque aqueles cristãos entravam na arena de forma serena e cantando hinos. Não sabiam que iam morrer?

4

Dos 12 apóstolos, só João foi poupado do martírio. Todos os outros morreram, mas podiam ter escapado se dissessem que Cristo não ressuscitou. Nenhum deles o fez. Preferiram a morte, mas de alguma forma há os que acreditam que estavam espalhando uma mentira para enganar os tolos.

5

Se você adora algo de maneira absoluta, que não aceita nenhum questionamento, e esta coisa não é Deus, você está violando o primeiro dos mandamentos e principal deles. Você está praticando a idolatria, mesmo que seja com as melhores intenções.

6

Há muito deixou de ser ciência. É uma seita. Numerosa, mas mesmo assim uma seita. Tem até ritual de iniciação, com direito a fotos e cartazes.

Tratado da Lei: minhas anotações

Não sei se vai ajudar alguém, mas segue o link das minhas anotações sobre o Tratado da Lei, de São Tomás de Aquino (questões 90 a 108 do volume 2 da Suma Teológica). Basicamente ele divide em três tipos de leis: as leis humanas, a lei natural e a lei eterna (que divide-se em lei antiga e lei nova).

As leis humanas já dá bastante coisa para pensarmos na forma como fazemos nossas leis na democracia moderna. O principal aqui é que as leis humanas são justas à medida que estão de acordo com a lei natural, que pode ser alcançada pela nossa razão. Um dos problemas da modernidade é justamente o rompimento da lei humana com a lei natural. Nossos legisladores querem estabelecer à realidade ao invés de aceitá-la. Nunca vai dar certo.

Em amarelo são minhas observações pessoais.

Tratado da Lei

A política da intimidação

Há um ponto em comum na forma de lidar com a pandemia nos governos ocidentais. Digo ocidentais porque não tenho muita informação de como acontece no oriente, mas sempre sabemos alguma coisas dos países europeus e das américas. O ponto comum não é o lockdown, a vacinação, a testagem ampla, as medidas de isolamento. O ponto central foi muito bem demonstrado pela Autrália no caso Djokovic. O que une os governantes ocidentais, em níveis federal, estadual e municipal, com suas exceções, é a intimidação.

Nunca vi nada parecido em minha vida. Há uma aliança tática entre governos, mídia, academia, burocratas e big pharma em torno de um ponto comum: intimidar qualquer um que apresente qualquer objeção ao que definiram como verdade absoluta. Não importa quem seja. Pode ser um presidente da república, um prêmio nobel, um médico com 500 casos de covid tratados, um filósofo de verdade, uma mãe que perdeu o filho pela vacina; não importa. Quem ousar contrariar o dogma que foi estabelecido tem que ser ridiculizado, demonizado e retirado do debate público com desonra. É preciso intimidar antes que a coisa cresça e se torne uma bola de neve, levando as pessoas a começar a pensar que pode haver algo de podre na Dinamarca.

O argumento da seita é poderoso: ao apresentar questionamentos contra a política de enfrentamento do covid, estes negacionistas levam as pessoas comuns a tomarem decisões estúpidas que, no limite, custam vidas. Logo, é preciso neutralizá-las para proteger a população. O conjunto destes dogmas recebeu o nome carinhoso de “ciência”. É proibido questionar estes dogmas. Estamos em uma guerra e quem o fizer, é inimigo.

Isso é uma loucura. Qualquer um tem o direito de questionar qualquer política pública, principalmente quando é imposta sem possibilidade de discussão. Entendo que no início, na emergência, certas decisões tinham que ser tomadas de imediato, sem muitos dados para apoiar. O natural é cometer muitos erros, mas não fazer nada poderia ser ainda pior.

Só que já se passaram dois anos. Há dados em abundância para analisar e questionar muita coisa. Só que tudo isso foi proibido com o argumento definitivo que se trata da ciência. Pode-se observar em cada decisão restritiva de um governo, seja de que esfera for, que o único argumento apresentado é que “estou seguindo a ciência”, como se a ciência um dia não tivesse dito que o sol girava ao redor da lua ou que o mundo se aproximava de uma nova era glacial.

É justamente esta intimidação sem precedentes que me leva a questionar essa coisa toda. Se realmente há um consenso científico em torno de algo que deveria ser tão óbvio, por que essa intimidação toda? Por que um tenista tem que ser submetido a um ritual de humilhação pública para mostrar a autoridade do estado? Isso me parece aquela estória do pai que fez algo errado, sabe que errou, mas para mostrar autoridade castiga o filho com ainda mais rigor.

Tudo isso não vai passar sem graves consequências. A tirania deixa marcas e cicatrizes que não se apagam com facilidade. Neste período não faltaram tiranos e, infelizmente, massas que os seguiram convencidas que estavam promovendo o bem de todos, só esperando um sinal para iniciar o linchamento.

Rutger Bregman atirou no que viu e acertou no que não viu…

Eu não sei se é excesso de ingenuidade ou Bregman deixou seu espírito esquerdista falar mais alto no capítulo 15 de Humanidade. Antes que reclamem, o viés esquerdista do autor fica evidente quando ele aponta os 7 problemas da democracia moderna. Coincide 100% com o que pensa qualquer partido de esquerda.

Ele tenta salvar o comunismo do desastre que gerou fazendo, sem falar, a distinção do comunismo real com comunismo ideal. Para ele, o que define o comunismo é a cooperação. Assim, ele não enxerga o comunismo na União Soviética ou China, mas toda vez que alguém passa o sal na mesa sem cobrar nada (sim, ele usa este exemplo). Toda sociedade estaria construída sobre o comunismo, só que não pensamos nisso.

O truque aqui (ou erro) é justamente confundir comunismo com cooperação, ou comunitarismo. Ele considera que a modernidade é uma disputa entre capitalismo e comunismo em que o primeiro aparentemente venceu. O capitalismo erra ao considerar que o egoísmo é a grande força motor da sociedade e diz que é a cooperação, o que eu tendo a concordar. O problema é achar que a cooperação está no seio do comunismo quando na verdade é apenas outra forma de egoísmo disfarçado de boas intenções.

O que Bregman parece defender no capítulo é algo muito semelhante ao distributismo de Chesterton ou Beloc, que nada mais é que uma aplicação da doutrina social da Igreja Católica. Chesterton identificou muito bem que na briga entre o poder econômico e político, a pior coisa que poderia acontecer era a aliança dos dois (comunismo). Só que a solução não seria o capitalismo, até porque o comunismo é a realização final do capitalismo (um único proprietário), mas a propriedade distribuida para todos, como as cooperativas. Foi isso que ele chamou de distributismo.

Apertem os cintos: Omicron chegou.

Andei olhando os dados da África do Sul, onde começou a Omicron.

Dia 1 de dezembro o crescimento se tornou vertiginoso e subiu até 17 de dezembro, quando despencou. Em 31 de dezembro estava de volta ao patamar do dia 1, implicando em um ciclo de praticamente um mês.

Olhei Portugal. Lá começou a subir com velocidade no dia 19 de dezembro e teve o pico no dia 2 de janeiro. Já está caindo vertiginosamente. Na Inglaterra demorou um pouco mais, umas 3 semanas até começar a cair.

São os países que identifiquei a queda. Os demais ainda estão na subida, mas dentro deste prazo de 2 a 4 semanas.

No Brasil começamos agora. Há uma ou duas semanas de subida lenta e depois umas 2 ou 3 de subida vertiginosa. Ou seja, apertem os cintos. E vamos torcer para que realmente não converta tanto em óbitos.

Pela primeira vez há uma grande incidência de novas infecções. Ou seja, nesta ninguém está protegido. Com ou sem vacina. Que seja realmente rápida.

Como sempre, só podemos rezar. Não está no nosso controle, embora as autoridades se esforcem para fingir que sim.

O caso Kitty Genovese

O capítulo 9 de Humanidade me deixou revoltado. Ele contra e estória de Kitty Genovese, uma jovem que foi assassinada no Queens em 1964. O caso se tornou famoso porque teria sido cometido na frente de 38 testemunhas e nenhuma chamou a política, o que demonstraria que no fundo estamos sozinho. Ninguém se importa.

Só que 38 são as pessoas que foram entrevistadas e que admitiram terem escutado alguma coisa. Era 3 e meia da manhã. Alguns escutaram o grito, mas acharam que era briga de vizinhos, algo comum. Outros acordaram achando que tinham escutado alguma coisa, mas voltaram a dormir pois não ouviram mais nada. Duas ligaram para a polícia, mas esta achou que era marido batendo na esposa, o que infelizmente era tolerado na época. Apenas duas pessoas viram de fato o crime ser cometido. A primeira ignorou por completo, era um senhor anti-semita que viva no bairro. A outra, mais importante, era um amigo a vítima que não ligou para a polícia porque não queria se expor, pois era homossexual e voltava de uma festa.

Só que ele bateu na vizinha e falou o que estava acontecendo. A vizinha desceu imediatamente de camisola, sem se importar com o risco de encontrar o agressor, e abriu a porta do prédio quando Kitty estava caída na escada. Ela morreu nos braços dela, de uma vizinha que se importou.

Qual foi a revolta? Com o papel da imprensa, especialmente do reporter Abe Rosenthal que conduziu toda a matéria para provar a tese pessoal que as pessoas não se importavam. Ele ignorou todos os detalhes que mostravam o contrário. Lembrei do filme A Montanha dos Sete Abutres. Lembrei de As Ilusões Perdidas, de Balzac.

Não tem nenhuma instituição que eu tenha mais asco hoje em dia do que o jornalismo.

Não existe uma decadência do jornalismo profissional. Ele já é corrupto desde a origem. As redes sociais são estão mostrando a quantidade de mentiras que fabricam e por isso precisam ser combatidas. Sei que há gente boa ali, mas no conjunto, é uma nojeira só.