No disco Signals, de 1982, Neil Peart nos trás uma excelente reflexão sobre o mundo que se consolidava no início dos anos 80. O lado A tem uma temática em comum ligando Subdivisions, Analog Kid, Chemistry e Digital Man, mas é assunto para outro post. Meu assunto aqui é Digital Man.
Trata-se do outro lado do garoto analógico que é descrito na segunda música do disco. Um jovem deita no gramado, sonhando com a cidade, sem perceber a riqueza que ele tem ao seu lado. Quer ter sucesso, quer o movimento, quer sair daquele ambiente um tanto quanto bucólico. Sua realização é o homem digital da música que fecha o Lado A.
Em Digital Man, encontramos um típico funcionário de escritório, passando o dia no computador, de certa forma vigiando a vida dos outros. Não é isso que fazemos? Sejam contas bancárias, padrões de consumo, comportamento nas cidades, utilização do sistema de saúde, meio que tudo se resume numa espécie de vigilância, em que o próprio digital man também é monitorado (e olha que nem existiam ainda as redes sociais).
His world is under observation
We monitor his station
Under faces and the places
Where he traces points of view
Pois este homem é infeliz e sonha com seu retorno a Sião (ou Jerusalém, um dos símbolos mais poderosos do paraíso). Ele está na Babilônia a tempo demais. Nos versos finais, anseia pela morte.
He’d love to spend the night in Zion
He’s been a long while in Babylon
He’d like a lover’s wings to fly on
To a tropic isle of Avalon
Trata-se de uma vida que não tem tempo para contemplação ou reflexão. Curioso que Peart coloca como sinal desta desumanização ser escravo da “ciência do dia”. Não é o que vemos hoje?
His reliance on the giants
In the science of the day
É uma visão pessimista sobre a sociedade que estávamos construindo no início dos anos 80. Será que ele acertou em sua visão?
