Desde que Bob Dylan venceu o nobel de literatura, para horror de alguns, fiquei curioso para conhecer um pouco de sua prosa. Ao contrário do que se diz por aí, Dylan não ganhou o prêmio por causa de suas letras, mas também por uma carreira como cronista e escritor. (Outro dia, quando elegeram Fernanda Montenegro para a ABL, compararam com ele. Uma injustiça tremenda, pois ao contrario de Dylan, Fernanda nunca escreveu uma linha relevante para um prêmio desses).
Pois este ano peguei para ler seu Crônicas, Volume I. O título é um tanto enganoso. O livro é uma autobiografia, na forma de crônica. Dylan conta um pouco da sua história, mas sem deixar de fazer uma análise arguta do seu contexto. Ao mesmo tempo que trata dor diversos personagens, famosos ou anônimos, que teve contato na vida, não deixa de fazer uma análise cultural do mundo em que vive, como um bom cronista faria.
Sua prosa é fluída e sua sinceridade um ponto alto. Ele é muitas vezes duro com si mesmo, e não doura palavras para descrever suas inseguranças e dúvidas existenciais. Embora eu tenha penado um pouco nos primeiros capítulos, muito voltado para a cena folk do início dos anos 60, coisa que não entendo quase nada, acabei me apaixonando pelo salto no tempo que realiza até o fim dos anos 60 e o ano de 1988, onde conta a gravação de Oh Mercy em uma mítica Nova Orleans. (Estou há dois dias escutando este disco sem parar. Uma pérola).
Enquanto escrevo estas curtas linhas, escuto Woody Guthrie, o grande herói e influenciador de Dylan.
Querem saber? Um nobel bem dado. Melhor que muito premiado por aí.
(Embora o Nobel tenha a mácula de ter ignorado Borges, uma vergonha).