Lendo uma Questão da Suma Teológica sobre a esperança. Duas anotações:
São Tomás coloca o desespero como contrário da esperança.
Sabem aquela frase de quem espera sempre alcança? Está lá na Suma. Um pouquinho diferente, mas está. Diz São Tomás “Ninguém espera o que não pode alcançar”.
O Santo também coloca as 4 condições da esperança:
Uma amiga começou a ler 1984, um excelente livro, sem dúvidas. Parece que a pandemia marcou uma crescente procura por ele, o que também me parece bem coerente. Mas aproveito a oportunidade para algumas pequenas reflexões e trago para a conversa uma outra distopia, não tão lida como 1984, mas que considero em outra prateleira em relação ao livro de Orwell, até mesmo ontologicamente.
1984 é uma distopia baseada em algo que Orwell estava vendo em sua época, não sem muita dor. Socialista, foi um daqueles que se desencantou com a União Soviética, especialmente depois do que viu na guerra civil espanhola. Sua distopia é um exercício imaginativo a partir de algo que já estava presente quando escreveu o livro, o estado totalitário policial.
Já Admirável Mundo Novo é de outra estirpe. Muito mais sutil, Aldous Huxley percebe os germes que estão presentes na ideologia progressista, que o próprio Orwell aderia junto com muitos socialistas decepcionados. Em sua distopia não havia estado policialesco, mas um que promovia a felicidade constante, inclusive com uso de drogas. A base do sistema era seleção genética e um sistema educacional que preparava desde o nascimento a criança para ficar feliz com o papel que desempenharia na sociedade (trabalhador braça, chefe, intelectual, médico, etc). A única coisa que era realmente combatida era a noção de valores morais. Família, casamento, Deus, história, nada disso era permitido. As orgias eram incentivadas para que não se houvesse laços entre homens e mulheres, os idosos eram afastados para que não houve contemplação da morte. O que Huxley descrevia era seu exercício imaginativo sobre o fim inevitável do progressismo. Um mundo em que todos são felizes, mas um mundo desumano.
Tenho muito mais medo da visão de Huxley do que de Orwell, porque esta continua presente hoje na visão das elites ocidentais por todo mundo. Deixemos os valores de lado e seremos todos felizes em um admirável mundo novo.
Vivemos tempos complicados. Parece-me que o grande inimigo é o que nos faz distintos na criação, o que nos torna imagem de Deus, a razão. Já dizia Aristóteles que o homem é um animal racional. Pois este racional necessita ser destruído para que as ideologias vençam. Talvez seja este o reino da besta que fala o apocalipse.
Os sinais desta batalha estão por aí:
ao mesmo tempo que se finge exaltar a ciência, a desacreditam
palavras perdem seu significado, impedindo o raciocínio e argumentação
lógica é combatida
verdades óbvias e ululantes são negadas (e ridicularizadas)
a verdade passa a ser declaratória (tudo pode ser verdade)
é mais importante demonstrar bons sentimentos que falar a verdade
o pensamento livre é considerado um crime
Em algum momento da história os comunistas entenderam que a cultura era o grande inimigo a ser batido. Na verdade, o grande inimigo para implementar qualquer sonho totalitário é a inteligência. Há décadas que este combate sem tréguas se estabeleceu. O resultado é o mundo caótico e sem valores que vivemos hoje, especialmente no ocidente.
Quando se fala em guitarristas do rock, os solos costumam ser soberanos, o principal critério para definir os grandes. Velocidade, habilidade, melodia. Como se a técnica fosse soberana; não é. Eu mesmo acabo, sem pensar, criando um pouco neste padrão. Costumo dizer que meu guitarrista favorito é o Rory Gallagher, que tem solos maravilhosos, mas também tem um imenso repertório que passa pelos riffs, bases, composição, variações e até mesmo a atitude, que também faz parte da cultura do rock. No entanto, creio que cometo uma injustiça com outro grande guitarrista que não se destacou tanto pelos solos, mas que nos outros fundamentos é igual ou melhor que o genial irlandês, trata-se de Pete Townshend, do Who.
Ele é constantemente subestimado nas listas. Não fazia muitos solos, é verdade, mas isso tem mais a ver com seu estilo próprio do que dificuldades com o instrumento. Se nos demais atributos é no mesmo nível dos melhores, é na composição que ele tem um patamar próprio. Uma sensibilidade impressionante e uma visão profunda da natureza humana e da sociedade. Basta escutar com atenção as duas óperas rock da banda, Tommy e Quadrophenia. É um guitarrista agressivo, com acordes hora nervosos, hora delicados, caindo bem com o sentimento que deseja passar.
Estive presente no show do Who no Rock in Rio de 2016 (ou foi 17?) e confesse que me emocionei em vários momentos. Quando ele girava aquele braço, sua marca registrada, a platéia ia a loucura com aquele setentão.
Acho que meu top 5 de todos os tempos seriam Rory, Pete, Robbie Robertson, Peter Green e um spot ainda vazio para eu pensar um pouco. Alex Liefson? Johnny Ramone? Ritchie Blackmore? Sinceramente, não sei.
Termino dizendo que estou falando de meu favoritos e não os melhores. É diferente. Escolher melhor guitarrista é para especialistas, não me julgo em condições. Mas escolher meus preferidos é algo bem particular, que não implica exatamente em virtuosidade e sim em quem eu efetivamente gosto mais de escutar.
Cabe a discussão de quem é o responsável pelo gigantesco fiasco que foi a retirada das tropas americanas do país. O que não deveria caber discussão são os efeitos do talibã no poder. As imagens de afegãos agarrados a trem de pouso de aeronave caindo dos céus é por demais eloqüente, embora existam os que, prisioneiros da falácia que sempre há um opressor e um oprimido, tentam negar o óbvio.
A democracia não se impõe. Por própria natureza do regime, tem que ser uma escolha livre dos povos. O projeto americano de implantar democracia em países falidos sob sua tutela era fadado ao insucesso desde o início. Ou seja, não deveria nem ter entrado, mas se entrou tem que saber sair. Abrir mão do poder costuma ter conseqüências trágicas. Temos um Saigon 2.0 transmitido em tempo real.
O problema é querer fazer um meio-imperialismo. Ou você invade e coloca logo um vice-rei no lugar, ou nem tenta uma aventura destas. Os Estados Unidos querem fazer uma espécie de imperialismo democrático, um omelete sem quebrar os ovos. Pois os talibãs pegaram a cartela inteira e jogaram os ovos para o alto.
Como dizia Joseph Conrad em Coração das Trevas: o horror, o horror!
Todos nós aspiramos à felicidade, mesmo que não saibamos exatamente o que ela é. Na visão clássica, felicidade é a posse de um bem final, que não é etapa para nenhum outro. É uma realização da perfeição do ser. Por isto mesmo é ao mesmo tempo um ideal a ser buscado e uma impossibilidade prática, o que não impede que o homem tenha momentos felizes.
Para Stork e Echevarría no capítulo 8 de Fundamentos de Antropologia, sentido da vida e felicidade estão relacionados. A vida é uma tarefa a ser realizada e buscar seu sentido é uma condição necessária para que se busque a felicidade. Se não temos sentido para nossa vida, não seremos felizes. Quando o homem recusa este entendimento passa a ter modelos diferentes de felicidades, que podem gerar momentos prazerosos, mas terminam invariavelmente na infelicidade, como bem demonstra a depressão crescente em nossos dias, que atinge agora até criança.
Alguns modelos que os autores analisam no capítulo são o niilismo, o carpe diem, o pragmatismo de interesse, o poder do dinheiro e o desejo de poder. Nenhum deles é capaz de satisfazer plenamente o homem pois ligam-se mais a aspectos exteriores da vida do que nosso interior, fonte autêntica da realização humana. O homem moderno tenta a todo tempo encontrar substitutos para o entendimento de que a felicidade está na perfeição do ser. Muitos colocam o bem-estar como felicidade; outros o prazer; outros a negação de um sentido para a vida. Por isso anda tão deprimido e recorrendo cada vez mais a drogas, legais ou ilícitas. Precisamos recuperar o ideal de felicidade.
O Capítulo 2 de A Noite Escura da Alma, de São João da Cruz descreve maravilhosamente parte da “nova direita”.
É praticamente um tratado sobre soberba intelectual.
1. O soberbo acha que com poucas leituras chegou no Olimpo e se propõe a iluminar e ensinar os outros.
2. Ressentem-se quando são chamados a atenção pelos verdadeiros mestres. Julgam que estes mestres não conseguem ver o suficiente e trocam por quem os elogiam.
3. Escondem suas faltas, enganam a si mesmos. Rejeitam quem os ensinem, tomando a palavra para mostrar que já sabem.
4. Se propõem a fazer muito e terminam fazendo pouco.
5. “muitos trazem certa soberba oculta, da qual lhes nasce o sentimento de satisfação com suas obras e consigo mesmos”
6. “querem mais ensiná-los do que aprendê-los. E condenam em seu coração aqueles que não seguem o caminho de devoção que supõem-se ser o melhor”.
7. “chegam a tanto mal que não desejariam que ninguém mais fosse bom senão eles”
8. “quando seus diretores espirituais (…) reprovam o seu temperamento e modo de proceder, julgam-se incompreendidos”.
9. “preferem ser orientados por quem se disponha a estimá-los e elogiá-los. E fogem como da morte, daqueles que os contrariam e tentam guiá-los no caminho seguro”
Ontem caminhei no Parque Olhos D´água, na Asa Norte de Brasília. Faziam alguns anos que não pisava ali e mesmo assim não conhecia as trilhas interiores do parque, apenas sua volta externa.
O parque é pequeno, mas uma excelente opção para abstrair um pouco da selva de pedra de Brasília e retomar o contato com nossa irmã mais velha, como dizia Chesterton, a natureza. (Alguns acham que ela é nossa mãe, mas isso é assunto para outra hora).
Enfim, não conhecia as trilhas internas. Nada de outro mundo. São algumas trilhas com distância em torno de 800 metros, o suficiente para andar um pouco dentro do mato e apreciar a paisagem do cerrado. Ideal também para idosos, pessoas com dificuldades de locomoção, que não aproveitariam tanto um turismo de aventura. Funciona como uma “amostra grátis”.
Curti bastante e pretendo voltar, explorar mais o parque.
Atualmente a paisagem de Brasília é seca, fruto do período sem chuvas, mas bastam as primeiras águas para tudo ficar verde novamente. Precisamos muito disso. Este é o mundo real e não o que passamos a maior parte do tempo.
De tudo que eu leio, uma coisa me parece cada vez mais clara: o homem moderno, em sua revolta contra o divino, e seu apego à matéria, é capaz de ser feliz, desde que as coisas lhe sejam favoráveis. É no momento de dor, quando algo dá profundamente errado, que reside sua grande fragilidade. Nas coisas pequenas, a frustração; nas grandes, o desespero.
Para lidar com as grandes tragédias da vida é preciso algo que lhe falta, a fé. O único remédio que conhece são os fármacos e por isso somos hoje tão dependentes das pílulas, mas estas não conseguem curar as maiores dores, aquelas que estão em nosso coração, que se traduzem em tristeza. Podem até mascará-las por algum tempo (em grande parte o que é a psicologia senão uma forma de nos convencer que aquela tristeza não existe?). O homem, para efetivamente superar suas dores, precisa abraçá-las e transcendê-las.
Uma aldeia vivia vem, cuidando de seus problemas, como é comum nas sociedade mais saudáveis.
Um dia apareceu um comerciante, com uma grande carroça, vendendo roupas.
A aldeia tinha 4 artesãos que faziam e vendiam roupas. A do comerciante era de melhor qualidade e, o mais estranho, mais barato.
Chegava a custar menos que o valor dos tecidos usados para fabricar as roupas.
Logo pararam de comprar dos 4 aldeões e eles passaram a ganhar a vida de outra maneira.
Os aldeões sábios, chamados de economistas, aplaudiram. Melhor alocação de recursos, disseram. Mais dinheiro nas mãos dos consumidores que não precisavam pagar tanto pelas roupas. Nova ocupações para os antigos aldeões, que não tiveram eficiência de competir.
A mão invisível agiu e todos ficaram bem.
Só que os antigos artesãos não tinham a mesma eficiência nas novas ocupações e passaram a ganhar menos.
Pelo menos os consumidores passaram a ter mais dinheiro para competir, alegaram os economistas.
Foi o que aconteceu. Por um tempo.
Assim que se viu sozinho, o comerciante aumentou seus preços. Dobrou, inclusive. Todos passaram a pagar mais do que pagavam antes. Procuraram os economistas, que sorriram complacentes: esperem que o mercado vai se ajustar!
E nesta crença a aldeia vive há décadas. Só que agora as roupas são piores e mais caras.