Estou lendo Cidades Invisíveis, do Ítalo Calvino. Trata-se de um livro diferente, onde ele retrata diálogos imaginários entre Klubai Kahn e Marco Polo em que discutem as cidades visitadas pelo explorador italiano.
Há breves capítulos onde se relata cidades imaginárias de acordo com certas perspectivas, como a vida e a morte.
Demorou um pouco para eu começar a entender melhor o que Calvino está fazendo. Parece que estas cidades são símbolos da própria existência humana. Por exemplo, ele descreve uma cidade onde se construiu no subterrâneo uma réplica para ser habitada pelos mortos. Quando a pessoa morre, é colocada na cidade em uma pose descontraída, como uma mesa de jogos. Apenas os coveiros, chamados de encapsulados, podem descer e tudo sobre a cidade é contado por eles. Depois de um tempo, verificou-se que a cidade dos mortos não fica como era antes, sofre modificações e a cidade dos vivos começa a impá-las. Começam a acreditar que mensageiros do subterrâneo também visitam a cidade misturados aos encapsulados, a ponto de não se saber mais se um encapsulado está vivo ou morto. No fim, não se sabe mais qual a cidade dos vivos e qual a dos mortos.
Que simbolismo! Ainda estou tentando decifrar, mas me parece que os encapsulados são os que comunicam os dois mundos, como os profetas e que a cidade dos mortos pode ser a cidade espiritual. Talvez remeta às duas cidades de Agostinho, vai saber. Só um exemplo da riqueza do texto do Calvino.
Bem interessante.