O homem moderno e os prazeres

Não é sem esforço que leio diariamente a Suma Teológica. A falta de conhecimento filosófico, especialmente de Aristóteles, e a distância da Idade Média atrapalha um pouco, mas tenho tido bom apoio em um livro do Peter Kreeft sobre a Suma.

O que me impressiona nos grandes filósofos, especialmente o Top 5 (Sócrates, Platão, Aristóteles, Agostinho e Aquino) é a atualidade do pensamento deles. Arrisco a dizer que são mais atuais hoje do que quando foram escritos. O motivo é simples: males que eles observaram em potência ou germinando se tornaram realidades flagrantes nos dias de hoje.

Pois estava hoje lendo alguns artigos da questão 31, volume II, que tratam dos prazeres. Para São Tomás há 3 naturezas de prazeres: corpóreos (sensitivos), intelectuais e espirituais. Ele argumenta em um dos artigos que os prazeres intelectuais e espirituais são maiores que os sensitivos, o que contraria o senso comum que os fruto dos sentidos são mais intensos e em maior número.

Para São Tomás, parece ser assim porque conhecemos mais os prazeres da carne. Os prazeres do espírito ou do intelecto exigem uma atitude mais ativa de nossa parte. Quantas vezes nos olham de forma esquisita quando dizemos que temos prazer lendo um clássico da literatura? Que eu prefiro um bom livro a um bom filme? Que meu ideal de uma manhã de sábado é sentar em uma cadeira ao sol e ler um bom livro?

O homem moderno vive a cultura não só do imediato, mas da confusão de prazer com prazer físico. Só este que existe, o que importa são os sentimentos. Quantas vezes já escutamos isso? Ele quer se sentir bem. Por isso ignora as verdades que lhe são inconvenientes, por isso tenta reduzir a moral ao comportamento socialmente aceitável, definido pela liberdade de se fazer o que quiser, dentro de alguns poucos limites como não matar ninguém.

São Tomás, seguindo os gregos e Agostinho, considera os prazeres do intelecto ou espirituais como superiores em gênero, de outro patamar como diz um grande filósofo da modernidade, Bruno Henrique da Academia Flamengo de Filosofia Prática. A minha experiência confirma este entendimento. Há uma ordem correta da alma, como descobriu Sócrates, em que há uma hierarquia onde os bens que nos ligam a Deus, e nos distinguem dos animais, são mais preciosos do que compartilhamos com eles, ou seja, os prazeres da carne, que não são necessariamente males, desde que conforme nossa própria natureza e na dosagem correta.

O homem moderno é um homem amputado de sua própria humanidade. Precisamos resgatar nossa integralidade com urgência pois o mundo que estamos construindo é um enorme castelo de ilusões.

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