Estou terminando o volume I de As Ilusões Perdidas, de Balzac. Uma das ilusões que eu perdi foi que o jornalismo começou por um ideal e foi corrompido nas últimas décadas. Balzac nos mostra que desde o início, ainda no século XIX, já havia uma promiscuidade de jornalistas com artistas, empresários e políticos.
Os jornalistas usavam seus artigos para atacar alvos que interessavam a seus patrocinadores ou pior, alvejar alguém importante para receber ofertas de suas próprias vítimas e “aliviar a barra” deles. Viviam em uma estranha simbiose de parasitismo mútuo. Por exemplo, livreiros tinham todo interesse de ter uma crítica positiva no jornal X, e tudo faziam para agradar o crítico. Ao mesmo tempo, o jornalista tinha interesse em publicar um livro seu na editora Y, e muitas vezes conseguia a publicação após publicar um artigo demolidor contra um autor daquela editora.
Lucien representa um dos tipos mais comuns. É um escritor promissor, um poeta, que tem talento, mas que se vê entre a opção de prosseguir em sua vocação, encarando uma vida de privações, nem sempre com reconhecimento e de muito trabalho de seguir a carreira de jornalista, recebendo todo tipo de bajulação, possibilidade de publicação e promessa de melhores salários.
É claro que trata-se de um jogo perigoso, que ao menor deslize pode ser expulso desta sociedade hipócrita e despida de outra ética que não seja a do benefício imediato, mas ao mesmo tempo é um mundo a parte, alheio as principais preocupações das pessoas comuns, e que desperta a vaidade de qualquer um.
Cuidado com os que nos bajulam; eles são o caminho de nossa própria perdição.
