Eduardo Paes está muito errado

Esta semana uma declaração do Eduardo Paes chamou minha atenção.

Disse ele que sobre a pandemia, segue fielmente o que determina os especialistas de saúde do município, e que torce para voltar à normalidade logo.

É uma completa inversão da hierarquia.

Especialistas não possuem a visão geral e nem a responsabilidade de terem sido eleitos para representar o povo. Quem deve ter as duas coisas é justamente Eduardo Paes. O que ele está tentando fazer é não ser cobrado pelas decisões sobre a pandemia.

Não foi para isso que foi eleito.

A grande verdade é que a pandemia está mostrando em todo ocidente a fraqueza dos políticos em geral. São um bando de aproveitadores, falsos políticos na verdadeira acepção da palavra. Um político é quem promove a harmonia nos interesses da sociedade em favor do bem comum.

O que temos são picaretas votados.

O sorriso de Rayssa

Eu só assisti o vídeo da fadinha após a medalha de prata. Tinha lido em algum lugar que o skate levaria uma menina de 13 anos para os Jogos, mas a primeira vez que a vi foi quando ela apareceu para sua primeira volta nas classificatórias. De cara encantei-me com seu sorriso contagiante, próprio das crianças felizes.

Que alegria vê-la tão solta, brincando como se nada daquilo fosse muito sério. Talvez por isso as mais novas tenham se destacando tanto, as três medalhistas eram menores de idade, enquanto que as mais experientes tenham o semblante mais concentrado, e mais tenso.

Nada entendo de skate e ao contrário de muita gente, não finjo conhecer. Tudo aquilo me parece muito difícil e fico pensando quantas quedas uma menina aquelas leva para chegar naquele nível. Talvez seja um dos melhores ensinamento do esporte: perseverança. A vida é uma sucessão de obstáculos, tombos, mas também de uma disposição de seguir em frente, de vencer.

Há no skate também um componente de auto expressão, que também faz parte da vida. Queremos vencer, mas também temos nosso estilo pessoal, nossa filosofia, nossa maneira de ver as coisas. Todas as meninas tinham suas personalidades bem destacadas, e distintas.

Foi muito divertido ver a competição. Vários sorrisos me encantaram, não só o da Raíssa, mas também a da filipina, da americana gordinha que tinha a melhor cara do mundo apesar das inúmeras quedas, a da holandesa que quase surpreende. Todas são vitoriosas à sua maneira. Quando terminou a prova, vi uma abraço sorridente entre Raíssa e japonesa medalha de ouro, também de 13 anos. As suas estavam felizes, como deve ser. Aliás, o tom da competição era de muita cumplicidade e não de rivalidade.

Aprendi muito vendo estas meninas e talvez por isso um mestre antigo tenha dito para ser como os pequenos.

Justiça e amizade não existem separadas

Do livro Fundamentos de Antropologia:

Quando as relações interpessoais se exercitam segundo a amizade e o amor, a justiça acompanha essas relações. A perda da amizade acarreta na perda da justiça. Uma sociedade sem amizade só pode resolver seus conflitos mediante os tribunais e os advogados, e não mediante o diálogo e a concórdia: aparece então uma “judicialização” da vida social e uma tendência progressiva em direção à violência, pois tudo se torna litígio. O amor e a justiça são, portanto, os dois tipos de relação interpessoal mais propriamente humanos e se necessitam mutuamente. O interesse (biológico ou intelectivo) exige ser elevado até eles, pois, por si só, olha somente para si próprio. Quando fica sozinho, dá à luz a uma luta violenta.

Pouca coisa retrata mais os dias de hoje que este parágrafo.

Boa parte do chamado mundo moderno desistiu da amizade é quer mesmo é impor suas convicções. Receita para o desastre.

Um pouco sobre o amor

No Capítulo 7 de Fundamentos de Antropologia, livro que estou relendo de Stork e Echevarría, os autores tratam das relações interpessoais, principalmente da maior delas, o amor.

O homem necessita destas relações e um homem isolado, sem conexões reais, é um homem amputado de sua própria dignidade. Os autores seguem a linha mestra de Aristóteles sobre o tema. O homem é um animal social.

Destaca-se a principal das relações, o amor, que é entendido como o querer bem a quem se ama. Não se trata de um sentimento, mas de um ato da vontade. Muitas vezes o amor se acompanha de sentimentos como o desejo e o afeto, mas nem sempre. O homem que tem o sentimento sem o amor cai no sentimentalismo, um vício que desordena.

Amar de verdade é amar para sempre. O matrimônio surge como uma promessa que se deve cumprir e não como um pacto, um contrato que vale enquanto for bom para as partes. Neste ponto, a concepção de Stork e Echevarría é profundamente anti-moderno. O casamento não é um simples contrato, é uma promessa das mais solenes que se pode fazer, é uma jura de amor eterno, mesmo nas condições mais sofridas.

Por fim, tratam da amizade e relembram que há também uma relação com a justiça. Amizade implica e dar a parte justa. Uma sociedade que perde a amizade, perde também a justiça. O sistema legal se torna legalismo e não tarda descambar em violência, pois não se forma a coesão de uma sociedade pela força e sim pela amizade.

Um capítulo fundamental para os dias de hoje.

Mini Crônica: Dança da Chuva

Não sei se ainda existe seção da tarde, mas esta estória me foi contada quando ainda se ficava à toa, sem rede social para distrair, vendo filme dublado na globo, após o almoço. Uma época que para trocar o canal da televisão tinha que levantar da poltrona e apertar o botão diretamente no aparelho; ou seja, na época em que os dinossauros andavam entre nós.

Conta que uma jovem menina, que deveria ter uns 14 anos, aproveitando suas férias, assistia um filme de faroeste na televisão junto com a vó, que tricotava pacientemente. A cena mostrava um grupo de índios (hoje o correto é falar indígenas) dançavam ao redor de uma fogueira, repetindo cantos e movimentos, invocando os deuses para que fizesse chover. Foi então que a menina, que acompanhava tudo meio distraída, meio preguiçosa, se ajeitou no sofá e disse uma frase que espantou sua avó.

__ Vó, eu sou igual estes índios!

__ Como assim, minha filha? O que tem você a ver com eles?

__ Eles estão repetindo um ritual e é isso que faço o ano todo. Repito um ciclo. Acordo, tomo café, vou para escola, volto, estudo de tarde, janto, vejo televisão, vou dormir. No dia seguinte acordo, tomo café, vou para escola, volto, estudo, janto, televisão, durmo de novo. Todos os dias. Também estou fazendo um ritual, a diferença é que eles fazem para os deuses deles, para fazer chover. E eu? Para quem faço este ritual todo? Pelo menos eles têm um propósito!

Acho que foi a primeira fez que aquela avó ficou sem ter o que dizer. Tricotou por mais alguns minutos, mas já não conseguia se concentrar. Pela primeira vez em muito tempo pensou em sua própria vida.

Intenções ocultas

Tenho percebido que muitas pessoas tem uma tendência para achar que sempre há uma intenção oculta em tudo que se faz.

Muitas vezes agimos sem um propósito bem definido, seguindo por vezes o instinto ou o caminho que achamos mais razoável, mas sem deliberar muito do por que. Para alguns, há um propósito muito bem definido e oculto, geralmente pernicioso.

Outras vezes temos o propósito bem definido e o declaramos, mas em vão. Acreditam piamente que nosso propósito é outro, escondido, também pernicioso.

Estas pessoas desconfiam de tudo e de todos. Outro dia vi de perto o estrago que uma coisa assim gera. Uma pessoa próxima acreditou ter um propósito oculto onde na verdade não tinha. Tomando isso como verdade, iniciou uma série de ações que gerou um tremendo mal entendido e prejudicou algumas pessoas, especialmente ela.

Por isso tenho uma tendência a confiar mais nas pessoas, pelo menos até que me provem o contrário. Tomo meus tombos? Claro.

Mas a responsabilidade moral está sempre em quem dá o tombo e não em quem toma.

Maria Madalena: exemplo para todos nós

Hoje a Igreja celebra Maria Madalena. Assim como muitos santos, foi uma pecadora. Foi especialmente para nós que Jesus veio, para nos salvar do pecado.

O grande mérito de Maria foi ter se aberto para a verdade e acreditado na Palavra. Não é o ponto de partida que conta, mas o fim. Ela realmente se converteu e passou a seguir fielmente Jesus. É um exemplo para todos nós.

Santa Maria Madalena, rogai por nós pecadores!

Freud e o desejo mimético

Lendo A Violência e o Sagrado, de Rene Girard. Capítulo que trata do complexo de Édipo.

Segundo Freud, o menino tem um desejo instintivo pela mãe que o leva a querer matar o pai para eliminar o rival. Para não lidar com isso, joga tudo para o subconsciente.

Rene Girard defende que o desejo é mimético, ou seja, que o menino tem o pai como modelo e por isso tende naturalmente a querer o que o pai também quer. É praticamente uma inversão da teoria de Freud. A mãe não seria o centro do desejo do menino, mas sim a imitação do pai.

Girard ainda argumenta que Freud tinha consciência do desejo mimético mas escolheu escondê-lo no superego para que não tivesse que lidar com a principal implicação, de que não haveria um desejo direto do menino por sua mãe, o que questionaria seriamente sua teoria.

Então ficamos entre duas teorias: que o homem pode ter um desejo sexual pela mãe ou que pode ter um desejo inconsciente de imitar o pai.

Qual tem mais lógica?

Liberdade e autoritarismo

O defeito contrário à tolerância absoluta está em dizer que a liberdade é menos importante que assegurar que ela seja bem utilizada, e que, portanto, se necessita de uma autoridade forte encarregada de decidir por todos o que deve ser feito. O autoritarismo é uma institucionalização da atitude paternalista, e leva consigo um desprezo pela pessoa já que a considera incapaz de ser responsável por si mesma. O autoritarismo trata seus homens como meninos, como imbecis. O autoritarismo considera que não se pode correr o risco de que as pessoas sejam livres porque agiriam mal, porque não saberiam sê-lo.

Stork e Echevarría, Fundamentos de Antropologia

Eis, para mim, o maior problema da gestão da pandemia.