Ontem li esta passagem do livro Fundamentos de Antropologia, de Stork e Echevarría.
A conduta não mediada pela reflexão e pela vontade, dizer, o sentimentalismo, produz insatisfação. Adotar quer como critério para uma determinada conduta, a presença ou a ausência de sentimentos que a justificam, gera uma vida dependente dos estados de ânimo, uma certa atitude escravizada. Os ânimos são cíclicos e terrivelmente mutantes: as euforias e os desânimos vão se sucedendo, sobretudo nos caracteres mais sentimentais, desfazendo o domínio da vontade. A conduta deixa de responder a um critério racional e depende de como nos sintamos. Isso é o que chamamos “ter ganas” (de estudar, de trabalhar, de discutir, de dar explicações etc.).
Ter ganas de, como critério de conduta, não conduz à excelência, mas, sim, as subordinam ao fácil, ao que em longo prazo (e também em curto) decepciona. Uma sociedade sentimental é uma sociedade que fica nas mãos da causalidade. Nela, as pessoas querem deixar de ser responsáveis, enquanto navegam na turva “tentação da inocência”, que consiste em responder que não se queria fazer mal, quando por seguir o que se sente se comete uma injustiça contra a realidade do mundo. O infantilismo (medo de crescer, de assumir responsabilidade) é a grande enfermidade de nosso tempo.