Há muita gente que defende que o governo deve ser feito por técnicos. Se existe um fato histórico que enterrou em mim qualquer chance de pensar assim, foi esta pandemia. Foi o triunfo da tecnocracia, onde políticos seguiram cegamente as recomendações (e histeria) dos técnicos de plantão. Não vejo muita diferença de tecnocracia para totalitarismo pois os técnicos, em geral, tem o perigoso hábito de acharem que sabem mais sobre como uma pessoa deve viver do que ela própria. A liberdade de escolha é algo perigoso, que deve ser controlado.
Vai muito além da questão ideológica, pois tecnocratas existem em todas as matizes. Técnicos são muito bons para estudarem problemas e proporem soluções, mas péssimos na previsão das externalidades e na consideração de fatores humanos. Eles possuem extrema dificuldade de lidar com a condição humana e costumam enxergar a sociedade como um sistema, onde cada parte tem um papel a desempenhar. Qualquer dissonância é vista como uma anomalia, que deve ser concertada. Desta forma, a sociedade está sempre doente e precisa de tratamento.
Esta analogia da sociedade com um corpo humano é uma das principais premissas equivocadas da modernidade. Não somos um sistema, somos uma comunidade. E uma comunidade que envolve todas as pessoas que estão vivas, as que já foram e as que virão. O verdadeiro pacto social, se é que existe, é entre as gerações do passado, presente e futuro, mas isto é tema para outra conversa.
A política, por sua vez, falhou miseravelmente em ser a voz da moderação da sociedade. Em tempos de redes sociais preferiu se alinhar com os histéricos e o bom senso foi executado na primeira semana de batalha. Depois, nas batalhas seguintes, perdemos a dignidade, decoro, prudência. O mundo inteiro ficou de joelhos para os especialistas esquecendo que faltam a eles justamente o sentido do geral, que deveria ser a principal virtude dos políticos. Para piorar, os políticos começaram a se ver como especialistas.
Vivemos o triunfo da tecnocracia. E ela fede.