O senso comum incomum de Aristóteles

Quando ouvimos falar da Aristóteles na escola, geralmente em aula sobre a história antiga, temos uma impressão de ser um gênio acima de nossa capacidade de entender, o que se confirma na maioria das aulas de filosofia, que costumam se prender muito na abstração de seu pensamento ao invés de priorizar a enorme relação com a realidade.

Aristóteles, assim como seu mestre Platão, partiu sempre do mundo real, de algo que podemos chamar de experiência comum. Ele tratou sobretudo do que é comum a todos nós e que pode ser expresso através de uma linguagem comum. Por isso a maior parte de seu pensamento será sempre atual. Ele não estava certo em tudo, mas em grande parte do que disse.

O que não significa que seu pensamento tenha parado no comum. Sim, ele partia do senso comum, mas nos apresentou uma forma de pensar que ia além da experiência comum e nos fazia compreender melhor estas experiências. O professor Mortimer Adler chamou esta capacidade de Aristóteles de censo comum incomum. Há um algo a mais em sua filosofia que ilumina tudo o mais.

A filosofia é, na essência, compreender o que já se sabe. Pelo menos era para Sócrates, quem a inventou. Foi na modernidade que assumiu, para muitos, um caráter quase exotérico, de conhecimento especializado para especialistas, praticamente uma anti-filosofia. Por isso que um diploma de filósofo geralmente significa um anti-filósofo. E por isso que digo sempre, muito seriamente, que há mais filosofia no Snoopy (e Calvin e Haroldo) do que toda filosofia moderna somada.

Exagero? Posso errar em um ponto ou outro, mas tirando algumas raras exceções, é isso mesmo. Charlie Brown e Calvin parte da experiência comum e fazem especulações bastante incomuns sobre elas. São espíritos realmente filosóficos. Já os que chamamos de filósofos criam sistemas ou teorias abstratas e tentam encaixar toda a realidade em um mundo imaginário que criaram.

Querem pensar bem? Se não conseguimos ler Aristóteles (ou Platão, Tomás de Aquino, Agostinho,…), leiam Calvin e Haroldo. Por via das dúvidas faço os dois.

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