Trabalho Intelectual: Leitura como enriquecimento de si

No capítulo VI de O Trabalho Intelectual, Jean Guitton trata da leitura. Ele defende a idéia que a principal função da leitura é o enriquecimento de si. Parece trivial, mas está em contraste com a idéia de que a leitura é principalmente uma fonte de obtenção de informação ou conhecimento, bem típica da visão utilitarista que caracteriza a modernidade.

Desta forma, rejeita a idéia de que devemos ler muito; ao contrário, pede que resistamos a esta tentação. É preciso selecionar bem o que vai ler e fazê-lo com atenção. Uma grande imagem que chama atenção é de saber parar a leitura quando um trecho tocar nosso espírito. Não podemos seguir adiante, mudar de página, sem refletir sobre a mensagem que nos chegou na alma. Esta é a imagem de uma boa leitura, a pessoa com o livro aberto, pensando no que acabou de ler.

Guitton também argumenta que os romances, as boas obras de ficção, são a melhor fonte para entender as questões fundamentais da vida. Os bons romancistas, em cada geração, são poucos pois é muito difícil contar uma estória. Muito mais fácil é descrever as superficialidades da vida. Temos que ter todo cuidado com as obras das ciências, costumam ter vida útil muito curto, não mais que 30 anos (uma geração). Já as obras de poesia e filosofia costumam ser perenes.

Se alguém deseja um texto curto sobre a arte da leitura, este capítulo de Guitton é uma ótima pedida. Tem insights ótimos, daqueles que ele mesmo descreve, de nos fazer parar para refletir.

Ah, e tem este parágrafo sensacional:

Precisamos ler os romances para conhecermos o sentido de nossa vida e da vida dos que nos rodeiam, um sentido que o embotamento do quotidiano nos esconde; precisamos lê-los para penetrar em meios sociais diferentes do nosso e para neles encontrarmos, para além da diferença dos costumes, a semelhança da natureza humana; para estudarmos, como se fosse num laboratório, os problemas fundamentais, que são os do pecado, do amor e do destino, e isso de forma concreta e sem as transposições da moral; enfim, para que enriqueçamos a nossa vida com a substância e a magia de outras existências.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *