Olhando as estatísticas do blog, vejo que política, especialmente pandemia, são os temas que mais interessam ao leitor. Por que então não parar de postar sobre filmes, discos, literatura, etc? Não deveria me ater ao que desperta mais interesse?
Se fosse minha profissão, sim. Mas aqui é meu hobby, o que faço na minhas horas vagas. Uso o blog para me ajudar a pensar e manter um registro do que pensava no passado, o que ajuda também a pensar no presente.
Uma das coisas que mais acredito é que a politização de tudo é uma das marcas mais nefastas da modernidade. Se eu mudasse meu blog para tratar majoritariamente de política, o que já fiz em outro blog no passado, estaria me rendendo e participando justamente do que critico.
Ontem, lendo um ensaio da professora Eva Brann, sobre o livro Morte em Veneza, do Thomas Mann, ela defende que a tese central do livro é uma crítica à reação romântica, ou seja, uma crítica ao racionalismo da modernidade pela adoção de uma visão sentimental da realidade. Segundo ela, ao fazer isso, o personagem principal do livro, Aschenbauch, se torna o próprio objeto de sua crítica. Combater a modernidade adotando seus próprios pressupostos é penetrar mais profundamente nesta própria modernidade.
Assim é a política. Devemos sempre manter um certo nojo, uma distância segura para não nos deixar contaminar.
Por isso não tenho a menor intenção de me tornar mais um espaço para tratar da política, especialmente a brasileira. Aliás, cabe um registro, não acho que Estados Unidos e Europa estejam muito melhores não. Esta pandemia me mostrou que há muito verniz escondendo um corpo bastante apodrecido.
Não se enganem, o maior derrotado pela pandemia em todo o ocidente é a tão adorada democracia. Que na hora de enfrentar o primeiro perigo de verdade, mostrou que não tem instrumentos para enfrentar o medo e adota, a cada dia, os instrumentos dos regimes totalitários.