Uma triste homilia

Pelo segundo domingo seguido o Padre usou a homilia para fazer pregação política. Através de indiretas bem diretas, ele ficou quase 30 minutos falando de negacionismo, vacina, armas, aglomerações e por aí vai. Chegou ao ponto de dizer que “certa pessoa” fazia isso pelo prazer de matar o próximo, porque era o próprio diabo agindo. Juro. Assim mesmo.

Aproveitou para atacar também os padres e bispos que reclamaram da campanha da fraternidade. Segundo ele, os críticos estavam sofrendo porque estavam cortando da própria carne, insinuando que tratam-se de sacerdotes preconceituosos que precisam ser corrigidos.

Teve uma hora que minha filha olhou para mim e se ajoelhou. Depois da missa me disse que parou de escutar e foi rezar. Pelo padre.

Não pretendo voltar na missa deste horário. Vou procurar outra Igreja.

Mas vou rezar por teste padre. Está muito enganado e fazendo algo muito feio. Usar a homilia para despejar seus ressentimentos.

Jesus de Nazaré: o novo Moisés

Prosseguindo no projeto da quaresma de reler Jesus de Nazaré, do Papa Bento XVI, trato hoje do breve capítulo de introdução, Um Primeiro Olhar sobre o Mistério de Jesus.

A chave para entender o Novo Testamento está no anúncio da vida de um novo Moisés, no livro do Deuteronômio. Assim, Deus promete não um rei, um novo Davi, para Israel e sim um profeta. Não se trata de um tipo de adivinho, como era comum na antiguidade. O profeta não existe para evocar os mortos e satisfazer a curiosidade sobre o futuro, mas para guiar, mostrar o caminho, porque recebe a orientação do próprio Deus.

Outra passagem fundamental, do livro do Êxodo, é o pedido de Moisés de ver a face de Deus, que é rejeitado pois nenhum homem pode suportar a visão do rosto do Senhor. Só o novo Moisés terá esta visão e poderá falar da união íntima com Deus, pois é seu Filho. Moisés era capaz de falar diretamente com Deus, até mesmo como amigo, mas mesmo ele estava limitado e no máximo pode ver as costas do Senhor.

Jesus veio como o Filho que revela seu Pai. Esta é a autoridade de seus ensinamentos, não de alguma doutrina, mas de sua própria Pessoa. Sem este entendimento, a Sua figura se torna contraditória e não pode ser realmente compreendida. É apenar por Jesus que se chega a Deus.

O Trabalho Intelectual: O Monstro

No Capítulo IV, Jean Guitton trata de uma das idéias mais interessantes do livro, o monstro.

Ele defende que o trabalho intelectual não surge da inspiração súbita, que surge quando menos estamos esperando. Isso leva o escritor a se entregar à preguiça, esperando uma inspiração que não vem. Em geral, a inspiração surge dentro de uma cultura, a partir da absorção de uma tradição e trabalho constante de dar forma aos pensamentos e reflexões.

Assim, o escritor deve colocar as idéias no papel de uma vez, sem filtros, sem preocupação com forma. São pensamentos, trechos lidos, reflexões, enfim, qualquer elaboração de uma idéia geral, que se pretende escrever. É este conjunto que se chama de monstro. O mais famoso da história foi Pensamentos, de Pascal. Não se trata de um livro acabado, mas um monstro que veio a luz porque seu autor morreu antes de dar-lhe um acabamento definitivo. E que resultado formidável alcançou Pascal!

Mas não é só isso. È preciso deixar o monstro num canto por um tempo. Deixar maturar as idéias em nossa mente, mesmo que não estejamos pensando nelas. Para Guitton, o inconsciente é um poderoso aliado para desenvolvermos o trabalho intelectual. Deixe o monstro repousar para só então ir para elaboração final, em busca da perfeição.

Por fim, nos ensina que há dois métodos principais para trabalhar o monstro. O primeiro é usá-lo como um esboço, trabalhando os trechos até dar-lhe uma forma final. O segundo é usá-lo como primeiro pensamento, substituindo-o por um texto definitivo, feito depois. Ambos os métodos são eficazes.

Em resumo, produzir o monstro, deixá-lo descansar, resistindo á tentação de trabalhar sem parar nele, e partir para o acabamento em busca da perfeição.

MENGO!

Que sufoco!

Ano passado o Flamengo foi campeão no ônibus, em jogar. Este ano foi parecido. Também não jogou, mas ganhou assim mesmo.

O Internacional teve a chance de ouro para ganhar seu Brasileirão que persegue há 40 anos. Precisava ganhar em casa do péssimo time do Corinthians. Faltou pouco. Impedimentos milimétricos, defesas do Cássio e ainda teve a última bola do campeonato. Acabou que dependeu só dele, mas acho mesmo que perdeu o título naquele jogo com o Sport.

O Flamengo jogou mal o campeonato inteiro. Conto nos dedos de uma mão as boas partidas. Excepcional mesmo só o segundo tempo contra o Grêmio. De resto, algo entre razoável e péssimo. O que mostra o desequilíbrio do futebol brasileiro hoje.

Mas temos que lembrar também que foi o campeonato do Covid. Isso mudou tudo. Quatro meses dos times parados e subitamente, sem preparação adequada, entram em campo. Contusões, jogadores e treinadores contaminados, muita irregularidade. Não dava para ser diferente. Ninguém conseguiu ser regular.

Enfim, terminamos campeões e espero que ao longo do próximo campeonato comecemos a retomar a normalidade. Um ano sem torcedor no estádio é triste demais.

Bora, Flamengo!

Chegou o dia. Acho que para compensar a forma como ganhamos ano passado, com os jogadores bêbados dentro do ônibus, sem precisar entrar em campo, desta vez teremos que vencer o último jogo. Não acredito que o Inter perca pontos para o Corinthians.

Não dá para ficar tranquilo, especialmente após a derrota do São Paulo para o Botafogo, que colocou em risco a vaga direta na Libertadores. Eu já não achava que o tricolor facilitaria por conta da rivalidade e do fator Ceni, agora então, virou jogo de vitória para eles também.

Um dos problemas dos pontos corridos é enfrentar times que não disputam nada na última rodada, como acontece no jogo do Internacional, mas já tivemos esta sorte em outras ocasiões também. Uma pena que tenham abandonado os clássicos na última rodada, achava a solução ideal.

Enfim, hoje termina o Brasileirão 2020. O campeonato que foi disputado inteiro de portas fechadas. O próximo também começará assim, mas vamos torcer que tenhamos alguma flexibilidade ao longo do caminho.

Título está longo de estar ganho.

Bora, Mengão!

Afinal, quem é o Papa Francisco?

“Talvez Francisco seja o menos compreendido das personalidades atuais, criticado justamente por aqueles que teriam a obrigação de pelo menos compreendê-lo. Como será isso possível? Como este homem se tornou tão odioso a alguns membros da Igreja do Cristo? O que teria ele feito ou dito para torná-lo tão combatido por alguns católicos, muitos fervorosos, crentes autênticos? O que estariam vendo ele que eu não percebo?

Uma das lições preciosas que aprendi com G. K. Chesterton foi que os ataques à Igreja normalmente não são ataques realmente a ela, mas a uma imagem distorcida. Isso vale tanto para quem está atacando-a de fora, quanto aos que a atacam de dentro. Seria possível que estivessem atacando um Francisco que não existe de fato? Afinal, quem é o Papa? O que pensa? São perguntas que me fiz recentemente e que estou apenas começando a investigar.”

Texto completo aqui.

Poesia, Enigma e Paradoxo

Uma dica sobre como ler G K Chesterton.

Ele acreditava firmemente que as grandes verdades da transcendência não conseguem ser expressas pela linguagem racional humana. Sempre há um limite até onde nossa razão alcança.

Mas estas verdades existem, e surgem a nossa frente todos os dias.

As formas como nós humanos, mesmo que de forma imperfeita, conseguimos expressá-las é pela poesia, um enigma ou um paradoxo.

Não deixem de ler Chesterton. O mais alegre dos sábios da modernidade.

Jejum de opinião

Em um mundo em que já ocorreu a rebelião das massas, conforme previra Ortega y Gasset, com a ascensão fulminante do idiota não só ao poder, mas também aos postos culturais que lhe permitem ditar as narrativas, e considerando que todos nós temos algo deste espírito de massa, desta idiotia que nada mais é que uma expressão de uma certa ignorância, talvez um bom jejum para esta quaresma, mais até do que de alimentação, seja um jejum de opinião.

Tirando coisas banais como discos e filmes, vou tentar a partir de hoje segurar minha opinião sobre assuntos da sociedade, política ou mesmo da fé. Vou usar este espaço, nesta quaresma, para colocar perguntas, minhas dúvidas sinceras, sobre o que vejo no mundo. Não sei se ajudará alguém, mas certamente me ajudará, o que já é um baita ganho, convenhamos.

Por um mundo com menos opinão e mais entendimento da própria ignorância.

Jesus de Nazaré: novo projeto dos domingos

Hoje começo um novo projeto de domingos, como preparação para a Páscoa reler Jesus de Nazaré, do Papa Bento XVI.

Este livro foi escrito no contexto dos vários estudos sobre Jesus feitos utilizando o método histórico-crítico, ao longo do século XX. Bento XVI alerta que muitas vezes estes estudos levaram a uma separação do Jesus dos Evangelhos do Jesus histórico, quase como se fossem duas pessoas diferentes.

No prefácio ele explica que não se trata de combater o método histórico. Jesus de fato existiu na história e deve ser estudado também por esta dimensão, mas deve-se levar em conta que não se trata do único método e que ele possui limitações. Por exemplo, o método histórico deixa a palavra no passado, o que não alcança uma palavra que faz parte de um sujeito vivo, que participa da história e do presente. A Bíblia foi escrita para o homem de todas as épocas e não apenas para o tempo que foi redigida. A percepção que o conjunto de livros da Bíblia tem uma unidade também ultrapassa o método histórico, faz parte da fé.

O que Bento XVI propõe em seu livro é reaproximar o Jesus dos Evangelhos do Jesus histórico, ou seja, mostrar que o Jesus que lemos na Bíblia é um Jesus real, que participou da história, que a encarnação é de fato uma verdade fundamental. Seu livro dialoga com os diversos métodos de estudo e defende a unidade de seu objeto, que é Jesus de Nazaré.