Acostumamos a pensar que o bipartidarismo é uma coisa boa, muito pela tendência de considerar os Estados Unidos como exemplo de democracia, como eles mesmos se consideram. A estabilidade política do país, que nunca sofreu revolução, e a constituição duradoura, eram evidências desta condição.
As cenas do capitólio na semana passada demonstram que algo se rompeu no equilíbrio bipartidário que sempre existiu por lá.
Pergunto-me se a raiz do problema não está justamente neste bipartidarismo, que conduz a uma polarização, e vice-versa, o que evidentemente só piorar com as redes sociais.
Não vou entrar no mérito de quem está com a razão; possivelmente ninguém. Só constato que para um republicando, nada vai convencê-lo que a eleição não foi roubada. Para um democrata, nada vai convencê-lo que tenha existido qualquer irregularidade. Sem espaço para um compromisso, nenhuma argumentação racional serve para nada. Estamos lidando com sentimentos e não com a razão, embora as duas partes se achem perfeitamente racionais.
Aprendi no montanhismo que o equilíbrio só existe com 3 apoios. A mesma lição aprendia na engenharia, basta observar um teodolito ou um tripé de câmera fotográfica. Sem um terceiro ente para apelar, a tendência é sempre existir uma polarização.
Conheço muitas famílias com 3 filhos, em que um deles sempre acaba fazendo o papel de fiel da balança, levando os outros dois a conversarem e chegarem em um ponto comum. Talvez seja exatamente o que falta em uma polarização que vemos na política americana e que tende a só piorar (e neste sentido o banimento do Trump das redes sociais parece-me algo bem temerário, reforçando a narrativa de perseguição).
Não sei o que vai acontecer, mas acredito que a política falhou. E quando ela falha, é preciso ir além, é preciso ir na cultura. É preciso resgatar os valores que formaram a nação americana e refazer o compromisso entre as gerações e entre as pessoas. Se isso não foi feito, não será a política que evitará o desastre.