Feliz 2021!

Chegamos ao fim de 2020, este ano tão diferente.

Sim, tivemos a pandemia, mas não foi ela que marcou o ano para mim. Foram algumas reações que ela provocou.

Primeiro a extrema hipocrisia de artistas, jornalistas, comunicadores, que em sua maioria usou as redes sociais para sinalizar falsas virtudes e agir como bedel da vida alheia.

Segundo pela postura da maioria dos governos, aqui e pelo mundo, que usaram a pandemia como desculpa para exercer a tiraria sobre cidadãos assustados, em uma covardia que poucas vezes vi em vida.

Mas 2020 não foi só isso. Foi também da solidariedade, do carinho uns com os outros. Duvida? Olhe para as pessoas que você conhece em vez do que é noticiado pela mídia. A imprensa, em geral, só quis gerar o caos para combater o governo que consideram inaceitável. Mas não foi só isso. Eles aproveitaram para exercer o desprezo que possuem pelas pessoas comuns, retratando-as sempre pelos exemplos ruins, ao invés de mostrar os que estas pessoas tem de melhor.

Enfim, 2020 foi o ano da hipocrisia e do autoritarismo. E não foi dos chamados “fascistas”. Foi justamente dos espíritos progressistas, os que se consideram iluministas da modernidades. Mas foi também um ano para repensarmos nossas vidas e dar mais valor ao que realmente importa.

Que 2021 desmascare os ruins e coloque luz nos que realmente se importam.

Feliz 2021 a todos!

Uma palavra rápida sobre Felipe Neto

Eu não tenho nada contra o sucesso e o rapaz demonstrou sua competência na atividade que se dedicou: youtuber. Também não vejo demérito nenhum nesta atividade. Como gosto de dizer, o youtube está cheio de gente boa e aprendo uma enormidade com estas pessoas. Nunca teria este acesso sem a rede; é bom lembrar disso quando parece que rede social virou sinônimo de porcaria, o que é absolutamente falso.

Só que o cartaz que deram para este rapaz fora de seu campo de atuação, como se ele tivesse algo de relevante a contribuir para o debate público, é um sintoma da doença da burocracia cultural brasileira (jornalistas, intelectuais, comentaristas em geral). Se fizessem um roda viva com ele para discutir seu sucesso, o rapaz ficou milionário com vídeo para pré-adolescentes, tudo bem, mas para comentar a cultura e política brasileira? Sua única autoridade no assunto é seus milhões no banco, que não tem nada a ver com entender qualquer coisa que seja sobre o mundo real.

Felipe Neto diz muito mais sobre este pessoal que vive falando em promover a qualidade do debate do que sobre ele mesmo. Ele é apenas um dos sintomas de uma profunda doença do espírito que acometeu nossas elites intelectuais. O Brasil não tem qualquer chance enquanto ela der as cartas na vida pública deste país. Sonho com o dia que estas pessoas serão solenemente ignoradas.

Festival de hipocrisia

O youtuber jogando futebol, mas no gol, claro, porque tem pouco contato.

As atrizes em festa privada em uma ilha.

O governador que se mandou para miami.

O ex-governador do Ceará beijando prefeito em festa bem aglomerada.

A apresentadora e marido “candidato dos sonhos” reunindo a família.

Esta gente me dá asco.

Notas soltas de um louco

Recebi um email de alguém que se denominou observador louco. Resolvi reproduzir.

Corte, 28 de dezembro.

  1. Bolsonaro participou de um jogo beneficiente em Santos. O foco da mídia, claro, ficou em uma falsa violação das medidas de afastamento social pois seu único interesse, e obsessão é derrotar o presidente eleito. O jogo não teve público, mas não importa. Ele está dando mau exemplo. Já até esqueceram daquele governador que foi para Miami enquanto deixou seu estado em lockdown. Aliás, este gravou um vídeo dizendo quejá tinha retornado. Pode até ser, mas muita gente não acreditou.
  2. No vídeo, este governador disse que tinha ido para Miami para participar de duas conferências pré-agendadas. Esta ninguém acreditou mesmo. Conferências no meio da pandemia? Que tipo de idiota ele acha que nós somos?
  3. Sobre a Flórida, uma curiosidade: é um dos estados americanos que menos utilizou medidas de lockdown e tem um dos menores índices de mortalidade. O que mais adotou, a Califórnia, é o de maior mortalidade. Significa que lockdown não funciona? Não sei. Mas também não comprova que funciona.
  4. Olhando os números pelo mundo, observo que os países mais afetados são os países ocidentais, especialmente a Europa. O que explica este fenômeno?
  5. Voltando ao Bolsonaro, acho que o que mais incomoda a mídia é sua autenticidade. O sindicalista precisou colocar terno armani e fingir ser o que não é para ser eleito. Bolsonaro não é muito diferente do que sempre foi. Em um mundo em que só vale a falsidade, ser autêntico incomoda toda essa classe de pilantras que ganha dinheiro com opiniões tão verdadeiras quanto notas de 2 reais.
  6. Vieram falar comigo sobre o jornalista preso pelo STF. Sim, o perseguidor está abusando de seu poder, mas não significa que o perseguido seja um santo. Parece-me que ele quis forçar uma cena no Ministério que demitiu sua esposa e comprometer a Ministra. Sob aplausos de uma certa mídia que se intitula independente.
  7. Aliás, não pensem que todos que elogiam Bolsonaro estão com ele realmente. Tem um herói que sonham ver governador que nunca me enganou. Vi de perto que o whiskey não é tão puro quanto imaginam. Ele falou muita coisa que gostaríamos de ouvir, mas na segunda camada tinham interesses bem mais mundanos.
  8. O espírito moderno (outro nome para o progressismo) é facilmente conquistado pelas aparências. Se a pessoa fala a coisa certa, do jeito certo, está aprovado. Mas se recebe o selo “um dos nossos”, nem precisa se esforçar muito nas aparências. Aí vale qualquer barbaridade.
  9. O dia que as feministas de última geração defenderem uma mulher que discordam, começo a prestar atenção. Por enquanto, coincidentemente, só defendem as que tem o “discurso correto”. O mesmo vale para os movimentos anti-racistas.
  10. Não é que tenha sido roubada. Foi muito roubada, mas reconhecer isso seria um atestado jamais visto de incompetência, inocência e estupidez. Por isso vemos a mídia tão empenhada em esconder toda a sujeira.

Um observador louco.

Os Bancos

Houve um tempo em que as praças tinham bancos; mas veio a pandemia e foram arrancados. Retiraram as placas de pedra, que formam o assento, e ficaram apenas os pés. Tudo para evitar que as pessoas fiquem sentadas na praça. Aparentemente não há problema em sentarmos no ônibus ou no avião; mas na praça? Proibido.

__ Estamos em pandemia, ninguém deve ficar à toa em uma praça pública _ me diz um destes fiscais amadores do covid.

__ Mas e no ônibus?

__ Neste caso, a necessidade justifica pois a pessoa precisa trabalhar…

O problema, parece-me, não é exatamente sentar ou não, mas ocupar um espaço público sem motivos. A cruzada está voltada para estas coisas prosaicas que fazemos sem aparente utilidade nenhuma, como sentar numa praça e contemplar o horizonte.

Talvez a pandemia tenha dado um motivo para que o Estado conseguisse banir do convívio estas pessoas perigosas que cometem este intolerável crime de dedicar-se à uma atividade contemplativa. Vivemos no mundo em qualquer coisa que fazemos tem que ter um fim considerado útil. Assim, não podemos caminhar despreocupadamente pelas calçadas; temos que realizar caminhadas, o que é bem diferente. Caminhar pode significar andar a esmo, talvez refletindo sobre estas coisas grandiosas mas consideradas inúteis, como nosso papel no universo. Já realizar uma caminhada significa vigiar o relógio gps para ver se atingimos a frequência cardíaco de trabalho. Temos que focar as metas, sejam elas em calorias ou minutos. De preferência com um fone de ouvido para aproveitar e escutar um podcast. Precisamos, insistem, aproveitar o tempo _ seja lá o que esta expressão signifique.

Quanto lembro do romance Admirável Mundo Novo, recordo que tudo era feito para as pessoas não pensarem. Foi uma das coisas mais assustadoras que li no livro. Não pensar, viver de sensações. Pensar é um expediente muito perigoso se queremos um mundo onde todas as pessoas sejam felizes. Carpe diem é a regra, mas não no sentido original, mas no sentido de aproveitar a vida como se não houvesse amanhã. Não pense, aja.

Por efeito de uma cirurgia, nada muito complicada, não estou podendo fazer caminhadas, apenas caminhar. Sem máscara, pois entendo que alguma rebeldia é necessária para manter a sanidade. Na pequena praça ao lado do prédio que moro, termino estes passeios (fazia tempo que não me dedicava a esta esquecida atividade!) com meus exercícios respiratório, herança de um covid que já foi. Olho para os pés dos bancos, sem os assentos, e penso na incompletude do que vejo. Se simplesmente tirassem os bancos por inteiro, talvez não pensasse muito. Mas do jeito que está, resta um certo desconforto, de algo que está faltando, de um mundo em que partes foram retiradas para atender uma certa histeria sanitária e tentar mostrar que estão fazendo algo, mesmo que este algo não funcione para nada.

__ Você tem que entender __ diz o sanitarista amador __ que não dava pra tirar o banco inteiro.

__ Talvez por isso __ retruquei __ não se devesse ter tirado nada.

No fundo, talvez seja como me sinto em relação a este ano tão terrível para todos. Sem poder resolver o problema, optou-se por tentar demonstrar que pelo menos se tentou, mesmo que o único efeito seja acalmar os mais apavorados. Não que não tenhamos motivos para recear esta doença maldita, mas aprendi anos atrás, escalando uma montanha, com minhas pernas tremendo, que o mais importante é como lidamos com o medo e não o que fazemos para evitá-lo. O mundo não suporta a inação, muito menos a resposta “não sei”. É preciso fazer algo, nem que seja o inútil.

O mundo se tornou um imensidão de bancos sem assentos. Bases sem nenhuma utilidade além de nos lembrar que alguém está cuidando de nós. O problema é que cada dia fica mais claro que este alguém não tem a menor idéia do que está fazendo. Sob aplausos dos sanitaristas amadores que tomaram o globo.

Rock/pop este ano

Resgatando alguns comentários que fiz ao longo do ano:

  1. Finalmente The Smiths me conquistou. Baita banda.
  2. A Forest é a melhor música do The Cure.
  3. Os discos do Uriah Heep nos primeiros anos sem David Byron são excelentes. Inclusive a sonoridade é melhor que a fase clássica.
  4. Cindy Lauper era muito melhor que a Madonna.
  5. Tina Turner é um monstro.
  6. Rock anos 80 é mais legal de ouvir que anos 70. Aceitem.
  7. Simple Minds dá coro no U2.
  8. Kanye West: tentei. Zero chances.
  9. Dead Kennedies: idem.
  10. O último ao vivo do Iron Maiden está um espetáculo.

A Infância de Jesus (Bento XVI)

Já é terceiro natal que releio este livro, uma das leituras que pretendo repetir até o fim de minha vida. Acho o título intrigante, pois o único episódio da infância de Jesus retratado é o epílogo, o de Jesus aos 12 anos no templo. Todo o restante do livro trata do nascimento de Jesus. Por que então Ratzinger, que tem enorme atenção ao significado das palavras, não deu o nome de O Nascimento de Jesus ou algo parecido? Eis uma pergunta que gostaria de lhe fazer.

A Infância de Jesus é especial pois nos ensina o que significou o nascimento do Cristo. Bento XVI nos ilumina sobre o ambiente em que este fato histórico ocorreu, seu significado, suas consequências. Junto com o Homem Eterno, do Chesterton, são as duas obras que nos iluminam sobre o papel de início de uma revolução que a encarnação significou para o mundo. Um reino havia sido destronado e ele só pode ser recuperado por uma revolta. Neste caso, uma revolta do espírito.

O pequeno livro de Ratzinger vai nos mostrar o que significa a linhagem de Jesus, as passagens mais enigmáticas do anúncio à Maria, o porquê da manjedoura, o significado da visita dos reis magos, o papel de José como um homem justo, o sim de Nossa Senhora. Sem evitar as questões históricas, o papa emérito nos mostra que há uma conciliação possível entre as sagradas escrituras e os registros encontrados até hoje. Não se pode separar as duas visões, defende ele.

São pouco mais de 100 páginas de puro deleite. Uma leitura, como disse, para a vida inteira.

3 Visitas no Natal

Hoje é meu 47º dia de natal. Meu celular está repleto de mensagens, em sua maioria cartões virtuais, mas que não deixam de cumprir sua finalidade. É prático, mas algo se perdeu na passagem dos velhos cartões por correio para o mundo do whatsapp. Mas voltando ao natal, sempre é bom recordar o significado desta data, que não rugiu por acaso em nosso mundo, mas nos foi dada de presente. Sim, o natal significa o nascimento do Cristo entre nós, mas não é este ponto que gostaria de chamar atenção e sim nas visitas que uma criança na manjedoura recebeu há 2000 anos: os pastores, os magos e os demônios.

Não nos enganemos, a vinda do Cristo foi uma declaração de guerra aos príncipes deste mundo. Um mundo que havia sido usurpado pelo antagonista e que os demônios passeavam sobre a terra. O nascimento daquela criança é o equivalente a uma invasão que atendia uma busca que tinha duas naturezas.

A primeira delas era de natureza poética, no coração do homem comum. O mundo visível não respondia à sua inquietação profunda. Algo estava em falta. Esta busca por um fundamento para a própria existência, por um sentido para a vida, se traduzia na poesia, que tinha sua forma melhor acabada na mitologia. Os pastores que visitaram o menino Jesus são estes homens comuns, que encontraram sua resposta em uma pessoa. Naquele momento, a mitologia chegava ao fim, pois, como lembrava Chesterton, mitologia é busca.

A segunda busca vinha dos filósofos da antiguidade. O menino recebeu também a visita de 3 magos do oriente, Miquéias, Gaspar e Baltazar, mas poderiam ser Platão, Confúcio e Buda. A filosofia também é busca e a grande especulação da antiguidade tinha chegado em perguntas que não conseguiam responder. Os sábios do oriente, em seu caminho, encontraram também a resposta naquela manjedoura. E se admiraram com algo bem diferente do que imaginavam, mas que reconheceram como realidade. É bom repetir este ponto: diante da verdade, os sábios do oriente se ajoelharam.

A terceira visita é pouco lembrada, até porque nunca aconteceu. O grande problema é que poderia ter acontecido. Além de pastores e sábios, outros elementos do mundo antigo perceberam o que estava acontecendo, são eles os demônios. Coube a um deles, chamado Herodes, tentar encontrar este invasor. Não conseguindo, fez o que se espera de um demônio, mandou matar os recém-nascidos porque há sempre uma luta contra a infância por parte destas almas caídas. Herodes intuiu muito bem que aquela criança não viera para negociar a paz, mas para reconquistar um reino.

É disso que também se trata o natal. O início de uma rebelião contra as trevas, pois é a única forma de reestabelecer um reino destituído. Jesus nasceu e morreu fora da cidade, mostrando claramente que não pertence a este mundo, mas o ama o suficiente para sofrer por ele.

Uma observação fortuita sobre a pandemia

Outro dia, em um almoço, uma conhecida, dentista, comentou com minha esposa que seu faturamento tinha subido este ano em relação ao anterior. Fiquei intrigado pois um outro conhecido, também dentista, que possui uma clínica, teve seu movimento reduzido para mais da metade, além de ter ficado fechado por algumas semanas. Como seria isso possível? Qual a diferença?

Lembrei que as duas clínicas tinham um perfil bastante distinto. A primeira, da conhecida, fica no Gama e é voltada principalmente para a população de baixa renda. A segunda clínica, em Sobradinho, atende mais o perfil de classe média alta. Pode ser um indicador que as pessoas de baixa renda tocaram normalmente suas vidas durante a pandemia, enquanto que as de melhor condição, como era de se esperar, tomaram seus cuidados e se isolaram em casa, evitando sair mesmo que para o dentista.

Uma questão então me ocorreu. Há uma animosidade de parte da população em relação aqueles que estão desrespeitando as orientações das autoridades sanitárias, especialmente nos municípios, de distanciamento social. Mas quem exatamente está reclamando e quem está desrespeitando? Por este caso que acabei de narrar, os brasileiros irresponsáveis seriam justamente os mais pobres, para horror da classe média alta. Será?

É curioso que justamente as pessoas que mais aproveitavam as maravilhas da vida moderna, restaurantes, bares, viagens, sejam justamente os que mais se privaram destas delícias. Não estou aqui discutindo se com ou sem razão, se deveríamos ficar em casa ou não, mas que parece claro que foram elas que mais obedeceram estas recomendações. Nada de ir ao shopping, restaurantes ou aquela sonhada viagem de férias, especialmente para o exterior. Já seria o suficiente para deixá-las de mal humor.

Mas eis que passam a ver pelo noticiário que as pessoas mais humildes estão fazendo tudo que elas se privaram. Os bares da periferia estão cheios, shoppings lotados, comércio na 25 de março bombando e agora, pasmem, aeroportos lotados. O que esta gente pensa que é? Como ousam? Enquanto tomo meu vinho Catena em casa fazendo selfie, tem gente irresponsável tomando Brahma em buteco e comendo torresminho!

Estarei exagerando em pensar que parte, eu digo parte, da revolta dos virtuosos é pura inveja de quem não quis fazer o mesmo sacrifício que eles fizeram? Quem tem um fundo de esnobismo nessa revolta toda? Não vou firmar posição aqui, mas fico, sinceramente, com esta sensação.

O Papagaio e o Executivo

Um executivo, que tinha medo de voar, pediu para aeromoça um copo de água para se acalmar.

Passaram 15 minutos e nada. Ao seu lado, viajava um papagaio, que mal humorado pediu uma dose de whiskey, sendo prontamente atendido.

Novamente, pediu educadamente um copo de água.

O papagaio novamente, com ofensas, pediu mais gelo para sua bebida. Rapidamente a aeromoça providenciou seu pedido.

Finalmente, o executivo se irritou:

__ Escuta aqui, sua idiota, me traga esse copo de água agora! Incompetente!

A aeromoça se irritou e foi no comandante, reclamando de dois passageiros que a tratavam mal.

O comandante mandou que atirasse os dois pela porta da aeronave.

Enquanto caia, o executivo percebeu o papagaio que voava tranquilamente ao seu lado.

__ Para quem não sabe voar, você é bem folgado!

Moral da estória: quem não tem asas, não fala o que quer.