Desde que começou a pandemia no Brasil que não faço um churrasco. Tempo demais!
Hoje vou reunir uns amigos e assar uma carne. Brasília amanheceu ensolarada, bonita. Tudo para ser um grande dia.
Este ano já fui internado por covid, retirei a vesícula. Acho que mereço algo singelo como fazer um churrasco.
Os profetas da desgraça já estão em histeria com previsões de 2021 pior que 2020. Enquanto os deuses decidem nossas sorte, vou colocando carvão e fazendo meu fogo.
Eis minha lista semanal de 5 coisas interessantes que andei fazendo (inspirado pelo Tim Ferris 5-bullets friday)
1. Um passatempo: montar quebra cabeças
Faziam alguns anos que não montava um quebra cabeças. Minhas filhas andavam pedindo para eu comprar um para montarmos juntos. Um bom rock tocando, diversão garantida. Apenas minha coluna não é mais como era antigamente…
2. Um disco que ando escutando: Foregn Affair (Tina Turner, 1989)
Pessoal se impressiona com as Lady Gaga da vida, que é excelente cantora, diga-se, mas ainda acho que com Tina Turner não dá para competir. Além da presença, da voz, a qualidade das músicas era muito superior a estas divas de hoje. Sério. Esse disco então, simplesmente perfeito. Que rainha!
3. Um livro que terminei: O Defensor (G. K. Chesterton)
Chesterton viveu a transição para o século XX e viu com muita clareza onde as correntes de pensamento que tomaram as mentes dos intelectuais iria dar. Neste livro, em vários ensaios, ele defende as coisas mais triviais, e que estavam sob ataque severo de uma mentalidade que desejava fazer tábula rasa de tudo que herdaram de seus antepassados.
4. Uma série que estou assistindo: The Crown (temporada 4)
Sim, Mrs Tatcher dá as caras! Só assisti os dois primeiros episódios, mas me divertir muito com o contraste entre a classe média da primeira Ministro e da aristocracia de Elizabeth II. Além disso, ainda temos uma Diana tocante; ainda mais quando sabemos onde aquilo tudo vai dar.
5. Um pensamento que ando refletindo
A pseudociência é, portanto, serva da ideologia. A política é sua ferramenta.
Independente da forma de governo, e da constituição, creio que é função do estado promover o bem comum, respeitando a dignidade das pessoas. O bem comum não corresponde necessariamente à vontade de qualquer grupo, mesmo que seja um grupo majoritário. É perfeitamente possível que o desejo da maioria seja contra o interesse geral, incluindo a própria maioria.
Infelizmente a democracia moderna tornou-se instrumento da implementação de desejos cada vez mais particulares, que atendem os grupos de influência e não o bem comum. Em As Leis, Platão alertava que o bem comum une uma sociedade e os desejos tendem a separá-la:
a verdadeira arte política necessariamente zela pelo interesse público e não pelo privado, isto porque o interesse público aglutina os Estados enquanto o privado o rompe.
Não é surpresa que os estados nacionais estejam cada vez mais desordenados e com conflitos cada vez mais latentes. Somente a promoção do bem comum, através de soluções de compromisso, pode dar suporte a uma ordem perene na sociedade.
Estamos caminhando para o caos.
E como afirmou Platão, e nos mostrou George Lucas, do caos nasce a tirania.
Eric Voegelin não se deixava enganar por rótulos. Não basta dizer que um determinado país é democrático para ser realmente democrático. A quantidade de nações totalitárias que tinha democracia no nome demonstravam isso.
Ele entendia que eram 3 as condições de uma democracia:
1- Um aparato institucional. Partidos políticos, imprensa livre, sistema eleitoral, direito ao voto, debate público, justiça funcionando, etc. Este é o nível básico, e o mais fácil de instalar. Mas, por si só, não garante um regime democrático.
2- Uma elite política comprometida com os valores democráticos. Se ela não existir, todo este aparato institucional será usado para impor um regime autoritário, com o agravante que terá um verniz de democrático.
3- Um programa de governo que possa ser aprovado nas eleições e avaliado durante sua realização. Para isso, a população em geral tem que entender a proposta e ter os mecanismos para acompanhar, e se for o caso, impedir seu desvirtuamento.
Eu tinha certeza que estes dois últimos já não existiam no Brasil (e alguns outros países chamados democráticos) faz tempo. Agora vejo que o primeiro também já foi comprometido.
O Uriah Heep é uma das minhas bandas favoritas e o Magician´s sempre foi meu disco favorito deles. Para mim é um dos discos perfeitos do rock.
Começando com Sunrise, passando por minha favorita deles, Blind Eye, a tocante Rain e finalizando com aquele épico sensacional que dá nome ao disco. Absolutamente brilhante.
Este ano nos despedimos de dois músicos que cometeram esta obra prima, Lee Kerslake e Ken Hensley. Já tinham partido Gary Thain e David Byron. Mick Box que abra o olho!
A mentira é, antes de tudo, uma arte. É o que nos mostra este conto do Marques Rebelo, comparando a forma como o narrador e seu irmão, ainda crianças, contam mentira para o pai.
Contar uma mentira não se resume à mentira em si, precisa de boa imaginação para preencher os detalhes e torná-la verossímil, mesmo que a pessoa não acredite nela. Acho esta a parte mais interessante, o pai sabe que o irmão do narrador contou uma mentira, mas o fez com tanto talento que acaba por se render.
Já no caso do narrador, é justamente o que lhe falta, a imaginação. E sem imaginação, resta-lhe um papel de um mentiroso vulgar.
Publicado em 1987, o ensaio The Conservative Purpose of a Liberal Education é um dos melhores textos do Russell Kirk.
Liberal no contexto que ele apresenta não tem nada a ver com corrente política, que terminou sendo associada à esquerda americana, mas no sentido de libertar o estudante. Libertar do que? Da prisão do espaço e do tempo. Do provincialismo que vivemos quando não usamos nossa razão apropriadamente.
Esta educação liberal se opõe à chamada educação profissional ou técnica, que tem seu mérito, mas não produz as lideranças que uma sociedade necessita para se desenvolver. A universidade de hoje mais parece uma agência de empregos do que um templo de sabedoria.
A educação deve ser voltada para desenvolver a ordem correta da alma e não para nos conseguir empregos melhores. Sem uma educação liberal, uma sociedade passa a ser governada por uma máquina supervisionada por especialistas, uma elite sem imaginação moral e deficiente em seu entendimento de ordem, justiça e liberdade. E depois disso, o caos.
É o mundo que Edmund Burke chamou de mundo do antagonista, da loucura, discórdia, vício, confusão e uma tristeza inútil.
Em todo ocidente há dois temperamentos que dividem as pessoas: o reformista e o conservador. Nenhum deles em si estão errados, mas o exagero leva a dois tipos extremos: o revolucionário e o reacionário. A grande maioria de nós está em algum ponto entre estes dois. Costumamos usar os termos esquerda e direita, mas acho esta classificação bem problemático. O fato é que, grosso modo, uma sociedade tem uns 30% de um lado, 30% do outro e uns 40% no centro. Estes 40% que na maioria das vezes decide as eleições. Isso é o geral, no particular a coisa é diferente. Se observarmos bem, as grandes cidades, tem muito mais esquerdistas e nas médias e pequenas os conservadores são maioria. Basta ver o mapa dos votos nos EUA e na Europa. O Brasil não é muito diferente. O grande problema que temos, a meu ver, é não termos opções conservadoras ou de direita. O resultado é que existe um gigantesco contingente que não encontra forma de expressão e acaba votando no “menos esquerda”. Eu sou um exemplo: já tive que votar nos porcarias do Aécio, Alckmin e Serra (nunca vou perdoar o PT por isso).
Em 2018, o Bolsonaro, fez campanha afirmando ser de direita, algo INÉDITO no país em eleições presidenciais pós CF-88. Basta lembrar o Aécio dizendo que “para direita não adianta me empurrar que não vou” e o Lula dizendo que a eleição de 2010 era uma evolução porque todos os candidatos eram de esquerda.
A situação era tão complicada em 2018 que qualquer um que dissesse ser de direita ganhou eleições (vide Witzel).
O problema é que a cultura política que se construiu no pós “democratização”, com apoio da mídia, é que direita era o mesma coisa que demônio e TODO partido brasileiro passou a se declarar de esquerda. Vejam o próprio PFL, mudou para “dem” para se identificar com os partido democrata americano. Todos tem social no nome, nenhum usa o termo conservador.
O resultado foi termos eleição disputada entre Aécio x Dilma X Ciro ou Serra x Lula, etc. Ou seja, uma esquerda light (PSDB) e uma radical (PT), mas que na propaganda da mídia era direita (PSDB) x centro esquerda (PT).
Só num país como o Brasil pode-se chamar PSDB de direita e PMDB de centro.
Quem mais trabalhou para impedir a candidatura do Bolsonaro em 2018, e quase conseguiu, foi o PSDB. Eles sabiam que se Bolsonaro fosse candidato, eles perderiam o voto da direita (um voto que ele sempre tiveram nojinho, diga-se). Foi o que aconteceu. PSDB teve 5% de votos.
O sistema trabalhou para evitar candidatos de direita e o fato do governo não ter partido ajudou muito isso. Não temos partido de direita e um candidato declaradamente de direita é algo raro (quase todos tem medo da mídia).
Ou seja, nosso sistema é totalmente torto. Os votos existem, mas faltam os candidatos para recebê-los.
Volto ao mesmo ponto: que opção tinha SP ou RJ? Só ver a lista de candidatos. Só piora a cada ano.
Por fim, quem perdeu mesmo com o bolsonarismo foi o PSDB. Deixou de ser a opção à direita. Cada vez mais ele se torna um partido restrito à São Paulo e se segurando na força do governo do estado, que está na mão de um político que não é exatamente um tucano autêntico.
Só teremos o quadro completo no fim do segundo turno. É prudente esperar um pouco antes de tirar conclusões definitivas.
Todo domingo e feriado, um capítulo de O Homem Eterno, de Chesterton.
No Capítulo 2, Catedráticos e homens pré-históricos, Chesterton nos chama atenção que a história humana não pode ser estudada da mesma forma como a fabricação de um avião. Neste último caso, pode-se construir o avião e testá-lo, mas não podemos construir o homem do passado para estudá-lo. Assim, os erros derrubam o avião nos testes, mas o erro da avaliação da história não é derrubado da mesma forma.
Quando se trata de pré-história, a coisa é ainda mais complexa, justamente porque ela é pré história, ou seja, anterior aos registros humanos. Rigorosamente, nada sabemos sobre ela além do fato que o homem pré-histórico tinha capacidade de se expressar através da arte, o que em nada o difere do homem de hoje. No entanto, os catedráticos insistem em tirar conclusões elaboradas sobre quem seria este ser. No fundo, o que eles apresentam são suas hipóteses, que possuem tão pouca evidência que Chesterton insistem que são mais fantasias do que qualquer outra coisa.
A única evidência que temos deles é que possuíam uma das características distintivas da espécie humana: as artes, coisa que nenhum animal tem, nem em grau rudimentar. O macaco não desenha mal e o homem, bem. O macaco simplesmente não desenha. Outra distinção da espécie humana é a religiosidade e talvez por isso alguns cientistas tentem a todo custo mostrar que o homem primitivo não a possui.
Outra coisa que podemos deduzir é que houve em algum momento uma família humana formada por um pai, uma mãe e um filho. Esta trindade primordial é necessária para que a espécie tenha se reproduzido. Posteriormente haverá uma inversão desta trindade, que será formada por um filho, uma mãe e um pai, e a chamaremos de sagrada família.