Leituras de Natal: O Homem Eterno (G K Chesterton) – Cap 5

Série Leituras de Natal.

Todo domingo e feriado, um capítulo de O Homem Eterno, de Chesterton.

Capítulo 5: o homem e as mitologias

Os mitos não são sinônimos de mentira e nem foram construídos para serem argumentações racionais da verdade. Os autores dos mitos são poetas, mesmo que sejam pessoas comuns, e um mito é uma criação artística. Chesterton chama atenção que os mitos são criticados a partir der perspectivas racionais, por pessoas que não possuem sensibilidade artística sequer para entendê-los.

Os mitos respondem a necessidades religiosas do homem, como adorar, levar suas mãos aos céus, pensar no sacrifício, cultuar o transcendente. O paganismo é uma reunião de mitos, o que o faz parecer uma religião, mas parecer não significa ser. Mitologia diz respeito à beleza e não à razão. Caminhou paralelo com a filosofia até que chegou a Igreja de Cristo que promoveu a união dos dois, praticamente acabando com a mitologia.

O que Chesterton está nos dizendo é que o homem tem uma necessidade natural de uma ligação com a transcendência, algo que a verdadeira religião permite. Na ausência dela, vai buscar substitutos, como os mitos do paganismo. Os cientistas sociais não conseguem entender que a mitologia é uma resposta estética a este problema e tentam racionalizar o conteúdo dos mitos criando teorias que nunca estiveram na intenção daqueles que os criaram.

Leituras de Natal: O Homem Eterno (G K Chesterton) – Cap 4

Série Leituras de Natal.

Todo domingo e feriado, um capítulo de O Homem Eterno, de Chesterton.

Capítulo 4: Deus e a religião comparada

Neste capítulo, Chesterton apresenta sua crítica à idéia de religião comparada. É comum vermos as religiões colocadas em colunas verticais com os nomes de budismo, confucionismo, judaísmo, cristianismo, etc. Nas colunas horizontais as características destas religiões como fundador, profetas, localização, etc.

Pois esta comparação é uma grande falácia. Budismo e confucionismo não são religiões. A única coisa que se compara com o cristianismo é o islamismo, e apenas porque este veio depois como uma espécie de cópia. O cristianismo surge em oposição a uma realidade chamada paganismo.

Mesmo o paganismo já trazia algumas idéias do cristianismo como a certeza que algo grande existia e se afastou, a separação entre o céu e a terra, uma espécie de Deus acima de todos os deuses. Chesterton sugere que antes do politeísmo, existiu o monoteísmo, que depois terminou por se degenerar. As civilizações antigas não são jovens, como se costuma imaginar, mas velhas, que já passaram por uma realidade monoteísta, como o judaísmo e o livro de Jó.

Não há comparação possível entre Deus e os deuses; não existe isso de religião comparada.

A diferença entre monoteísmo e politeísmo não está na quantidade de deuses que se adora, mas de um abismo que existe entre mitologia e religião.

Eleições 2020: descrença no sistema

O Brasil, como qualquer país ocidental, tem uma divisão natural na sociedade em políticas mais à esquerda e mais à direita. Como sempre digo, os impulsos de renovação e de conservação, o que acho perfeitamente legítimo e saudável. No meu mundo, há espaço para as duas posições.

Em eleições com segundo turno, seria natural que candidatos representando estes dois lados chegassem para a disputa. O que acontece no Brasil? Em cidades como São Paulo o eleitor é obrigado a escolher entre esquerda e mais a esquerda. Isso é um disfunção, ainda mais quando se observa que não havia nenhum candidato viável à direita porque os partidos manobram para impedir estas candidaturas (o próprio Bolsonaro ficou a um milímetro de não ter partido nas últimas eleições).

Há algo de muito podre em nosso sistema eleitoral que ano após ano impede que uma grande parte da população tenha um candidato com um mínimo de alinhamento com sua visão de mundo. Quando acontece, como em 2018, é quase por acidente e logo todo o sistema entra parafuso para impedir que isso aconteça novamente.

A esquerda pode sorrir à vontade com esta deformação produzida, mas a panela só vai ganhando mais pressão, criando ressentimento, até uma explosão de consequências inesperadas.

Estão semeando um grande conflito social. E parece que um dia terão.

Benjamin Wiker e os livros que estragaram o mundo

Benjamin Wiker parte da afirmação que idéias tem consequências e que implica na constatação que más idéias tem más consequências. Para ele, há livros que teria sido bem melhor que nunca tivessem sido escritos, pois influenciaram o pensamento de agentes políticos e culturais que se empenharam para colocar estas idéias em realizações, gerando a sociedade disforme e profundamente infeliz que temos hoje.

Rosseau, Maquiavel, Hitler, Kinsey, Betty Friedman, Descartes, Hobbes, Freud e os demais que ele analisa, em suas obras chave, possuem algumas características em comum:

  1. Há algo errado no mundo e que pode ser corrigido.
  2. Ignoram a possibilidade de corrupção da alma. O homem é inocente. O problema é o mundo.
  3. Deus está morto (são secularistas). Só o homem pode corrigir o mundo.
  4. Todos estes autores criaram mitos (no sentido moderno da palavra).
  5. Há um chamado para ação.
  6. Negam o pecado original.

As 15 análises de Wiker são precisas e valem a leitura. Um panorama do que pior a pseudo-ciência produziu na modernidade.

Discos Favoritos: 5 – Revolver (The Beatles)

Sempre é difícil escolher um disco dos Beatles para uma lista de favoritos, mas desta vez fico com o Revolver. Gosto imensamente de todas as fases da banda, mas os discos da transição de um rock mais direto para um mais sofisticados me fascinam particularmente. Revolver culmina um trabalho que começa com Help! e passa por Rubber Soul.

Desde os acordes iniciais de Taxman, passando pela maravilhosa Eleanor Rigby, pelo riff de And Your Bird can Sing até terminar em Tomorrow Never Knows, tudo funciona à perfeição. Os Beatles em seu auge.

Maradona: palavra rápida

Foi um gênio com a bola. Não se discute seu talento e jogadas que ficaram para a história.

Em todo resto, um desastre. Infelizmente não serve de exemplo positivo para quase nada. Uma pena, uma pessoas com sua visibilidade poderia ser um exemplo e tanto para os jovens.

Serve de alerta para não confundirmos o talento para uma atividade especial com conduta moral e muito menos com entendimento da realidade. Infelizmente, neste mundo moderno de exposição 24/7 das celebridades, é justamente o que se faz: dar voz demais para artistas, atletas e intelectuais.

Falta muito de senso comum.

The Crown: Lady Di

Indo para o quarto episódio da nova temporada de The Crown, sabendo tudo que vai acontecer no futuro, dá uma agonia de ver como Diana foi sendo arrastada para uma casamento amaldiçoado deste o início.

A vontade é entrar na estória e gritar para ela: sai que é fria!

Esse é um dos grandes testes para a qualidade de uma obra de arte. Você sabe o que vai acontecer e mesmo assim se emociona.

Pobre princesa moderna.

Parábola dos Talentos

Talvez uma das parábolas mais difíceis de interpretar nos evangelhos seja a dos talentos. Um senhor, prestes a viajar, deixa para um empregado 5 talentos para cuidar. Para o segundo, deixa 3. Para o último, deixa 1. Depois que parte, os dois primeiros investem os talentos e conseguem retorno para apresentar ao senhor na volta. O último, sabendo que o senhor é severo, enterra o talento para não ter risco de perdê-lo. Quando o senhor retorna, os dois primeiros empregados devolvem com ganhos o que tinham recebido. O terceiro desenterra o talento e devolve o que recebeu, enfurecendo o senhor, que o manda castigar.

Muitos podem interpretar a parábola como uma espécie de defesa do capitalismo, da necessidade de investir o capital para obter os juros apropriados. O terceiro, justamente o mais pobre, é castigado por ter evitado o risco.

Só que um talento não é uma moeda, mas uma quantidade razoável de ouro, o que significa que mesmo o terceiro empregado tinha recebido uma riqueza muito grande. O que a parábola quer de fato dizer?

O senhor é obviamente Deus, que se oculta da criação, dando espaço para a liberdade do homem. O talento não é riqueza material, mas a riqueza espiritual, especialmente a misericórdia divina. E o que devemos fazer com a misericórdia? Gastá-la. Quanto mais misericordioso nós formos, mas teremos em retorno, maior será nossa riqueza. O que não podemos fazer é enterrá-la, ou seja, guardá-la. O terceiro empregado recebeu uma graça de Deus e deveria tê-la dividido com o próximo, mas guardou-a para si, enfurecendo seu senhor.

O que a parábola nos ensina é que temos um dever com nosso Senhor quando recebemos sua graça. Por isso, em outro texto do evangelho, Jesus nos diz que quando fazemos o bem para um dos seus pequeninos, estamos fazendo diretamente a ele; assim como ao recusarmos ajuda ao próximo, estamos fechando a porta para Ele. Com cada graça que recebemos, vem junto uma responsabilidade, uma possibilidade de ajudar alguém. Quando o Senhor voltar, nos cobrará a graça recebida e muitos de nós não terá nada para mostrar.

Conto da Semana: A Princesa Flor-de-Maio (Andrew Lang)

O segundo conto do Livro Vermelho de Andrew Lang retrata uma princesa que viveu numa torre do castelo até os 20 anos para fugir da maldição de uma bruxa, em uma estória que remete à bela adormecida.

Poucos dias antes de seu aniversário de 20 anos, em que estaria livre da maldição, ela não aguenta mais e sai da torre, apaixonando-se pelo embaixador que vem trazer o convite de casamento de um principe.

Ela foge com o embaixador para uma ilha deserta onde descobre o perigo que é entregar sua vida a quem mal conhece apenas pela primeira percepção da pessoa. Amor a primeira vista é sempre um perigo.

Leituras de Natal: O Homem Eterno (G K Chesterton) – Cap 3


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Todo domingo e feriado, um capítulo de O Homem Eterno, de Chesterton.

Capítulo 3: A antiguidade da civilização

Neste capítulo Chesterton nos chama atenção para o fato de que a aurora da história não nos mostra povos bárbaros, mas uma humanidade já civilizada. As duas primeiras sociedades que temos registro são Egito e Babilônia, e estas já tinham atingindo um grau de sofisticação que demonstravam produtos avançados, como o despotismo.

Aqui uma das grandes sacadas do Chesterton. Acostumamos a associar o despotismo com a barbárie, com uma civilização primitiva, que com o progresso ganharia tons mais democráticos. Ele discorda e mostra como o desportismo nasce de um certo cansaço com a democracia. Não há nenhuma evidência que o governo primitivo fosse despótico e tirano.

Se há um fato que podemos provar, a partir da história que realmente conhecemos, é o fato de que o desportismo pode ser fruto de uma evolução, muitas vezes uma evolução muito tardia, muitas vezes de fato o fim de uma sociedade que foi altamente democrático. Á medida que se abate um cansaço sobre determinada comunidade, os cidadãos sentem-se menos inclinados àquela eterna vigilância que com razão foi denominada o preço da liberdade; e preferem armar uma única sentinela para vigiar a cidade enquanto eles dormem.

A barbárie e a civilização não foram estágios sucessivos no progresso do mundo, mas existiram lado a lado, como ainda existem lado a lado.

Chesterton chama atenção também para o mediterrâneo, onde diversas culturas se encontraram e entraram em conflito, e originaram o mundo que vivemos hoje. Os dois tipos melhores de paganismo se enfrentaram na disputa de Roma e os fenícios. Além da importância de Tróia como a história da queda, morte e renascimento com a fundação de Roma. A sobrevivência a mil derrotas é seu triunfo.