
Ainda vou escrever um texto decente sobre este assunto, mas há uma enorme confusão entre alegoria e simbolismo.
A alegoria ocorre na literatura quando se cria uma estória para representar uma determinada realidade. O crônica mais famosa de Nárnia, O Leão, A Feiticeira e o Guarda-roupas, é uma alegoria da vida de Cristo. A Revolução dos Bichos uma alegoria à revolução russa.
Já o simbolismo é de outro patamar. Algo é simbólico quando remete a uma realidade, mas por uma força do próprio ente ou acontecimento. A água, por exemplo, entre outras coisas, representa a renovação. O fogo representa o espírito e assim por diante.
Infelizmente, na modernidade, o homem perdeu o sentido simbólico das coisas e quando muito consegue enxergar uma alegoria, o que empobrece a sua compreensão das grandes obras do espírito.
Vejamos o caso de O Senhor dos Anéis. Um pensador alegórico vai enxergar no livro de Tolkien uma alegoria ao nazismo, com os hobbits no papel do ingleses e Sauron de Hitler. Faz sentido, mas é muito pouco.
Pois o simbolismo que Tolkien desenvolve é de muito mais profundidade. O anel é um símbolo das idéias circulares, pequenas, mas que aprisionam a mente de quem a possui. Uma pessoa poderosa com um anel é um perigo para todo mundo, pois ele possui meios de ação para impor a idéia representada pelo anel. Por isso ele tem que ser destruído. Os muitos anéis da obra são ideologias, que corrompem até mesmo o mais inocente que o utiliza. Frodo, Aragorn e Gandalf simbolizam juntos o Cristo, através de seus três papéis: servo sofredor, rei e profeta. Toda a saga é o simbolismo da luta da matéria para derrotar o espírito, que sempre termina em fracasso, mas nem sem grande sofrimento.
Praticamente todo teatro de Shakespeare tem este sentido de revolta da Terra contra o Céu, mas somos incapazes de perceber porque perdemos a capacidade simbólica.
Muito do que estudo é justamente para adquirir esta capacidade de enxergar estes símbolos. Depois que você começa a conseguir, um mundo infinito se abre para você.