
Quando pensamos em ideais, olhamos para o futuro, em algo que entendemos como desejável, um objetivo que gostaríamos de ver concretizados.
Na política está muito associado ao pensamento de esquerda: “sociedade sem classes”, “igualdade absoluta”, “justiça social”, “novo homem e novo mundo”. Podemos dizer que a esquerda é uma busca por realizar ideais.
Uma grande exemplo é a letra de Imagine, do John Lennon. É praticamente uma lista de ideais.
Já quando falamos em princípios, não pensamos em futuro. Não é algo a ser alcançado. É antes um ponto de partida, uma base para entender uma situação e ter um guia para a atitude a tomar. Um princípio não é um dogma, ele não deve ser aplicado a todas as situações, mas deve ser ponderado para o caso concreto. É como se disséssemos em princípio seria A, mas nesta situação, fica melhor B.
Daí fica a diferença entre um pensamento realmente conservador, no sentido da tradição inglesa de Burke. Para um conservador, não existe uma solução universal para os problemas do homem, mas princípios para entendermos a sociedade e guiar nossas ações.
Por exemplo, em princípio, um conservador tem a prudência como principal virtude do estadista. Sempre? Não. Dependendo da situação terá que se guiar pelos sentimentos, pela vontade, pela intuição. É a situação concreta que vai dizer.
Um conservador que coloca ideais acima dos princípios está apenas emulando a forma de pensar da esquerda, muitas vezes apenas mudando o sinal.
Manter tudo como está não é um pensamento aceitável para um conservador, e sim para um reacionário. O conservador deve ponderar, e mudar com a convicção que é a melhor solução, depois de ter analisado as opções. É necessário tanto as mudanças quanto a permanência. O segredo é dosar tudo isso.
Eu não gosto de rótulos, como usei aqui de esquerda e direita. A coisa é muito mais complexa que isso. Talvez a grande divisão seja entre aqueles que colocam os ideais acima dos princípios e aqueles que colocam os princípios acima dos ideais.
Eu, de minha parte, me alinho mais com o segundo comportamento, até porque é comum formular ideais que ignoram a condição humana, tratando o homem como uma espécie de massa que pode ser moldada, um tipo de pensamento que conduz, muitas vezes, ao fenômeno da desumanização, tão comum no século XX nos regimes totalitários.