O problema do Brasil é o jeitinho, a confusão do público com o privado, a tendência de entender a vida pública como extensão da família, etc. Assim nos dizem os grandes intérpretes da cultura brasileira (e muitos asnos palpiteiros também).
E se for o inverso? Explico. Queremos ser a Europa, impessoais no trabalho, verdadeiros autômatos, que cumprem regras fielmente, sem fazer distinção de pessoas ou seguir as próprias percepções. Não por acaso há tantas distopias com ambientes “hospitalares”, tudo muito arrumadinho, limpo e… desumano!
Temos mil problemas com nosso jeito de ser, mas será que somos um fracasso tão grande? Outro dia Dom Bertrand disse uma frase que ficou gravada na minha memória: um país que alimenta um terço da humanidade não pode ser considerado um fracasso. Eu acrescentaria, um país que se torna a sétima ou oitava economia do mundo com índices educacionais tão ridículos tem algo a ser estudado. Se tirássemos a violência, este sim um problema crônico, mesmo com todas as nossa mazelas, ainda seríamos um bom lugar para morar. Será que queremos ser realmente primeiro mundo? Queremos ser um europeu rico, sem filhos, sem Deus, com ajuda estatal para tudo e usar nossas férias para fazer turismo?
Luis Sérgio Coelho de Sampaio foi o primeiro a me despertar para este problema em seus vídeos sobre antropologia cultural no youtube (considero esta série de vídeos um dos maiores tesouros da rede). Guerreiro Ramos em A Nova Ciência das Organizações me dá outro insight, o da lógica de mercado invadindo toda a vida social. Não somos este tal de homem econômico, somos muito mais ricos que isso. E talvez o Brasil ainda tenha algo de preciosos que o tal primeiro mundo perdeu faz tempo.