Viramos estatística: o covid nos pegou

Confirmado mesmo está minha esposa e meu filho mais velho, os primeiros com sintomas. Ela, dor no corpo, cansaço, nariz entupido. Ele, dor no corpo. Fizeram o exame no início da semana e saiu a confirmação hoje.

Minha filha do meio está com bastante coriza e teve dor de cabeça. A filha menor não teve nada. Temos uma visita em casa, que está conosco há dois meses. Também sem sintomas.

Eu? Leve irritação na garganta e também uma leve dor de cabeça. Nem adianta eu e a filha fazermos exame, já sabemos o que virá.

Estamos fazendo tratamento, com acompanhamento médico, protocolo completo: hidroxicloroquina, azitromicina, vitamina z, d, invermectina. Não sei se essa negócio funciona, mas aceito meus riscos. Se for placebo, que seja.

No mais, vamos tocando. Esposa e filhos já melhoraram bem.

Dizem que o período crítico é do 7º ao 9º dia dos primeiros sintomas. Justamente neste fim de semana para a patroa. Vamos acompanhando e rezando para não termos nenhuma complicação.

Segue o baile.

5 Notas de Sexta

Olá pessoal!

Eis minha lista semanal de 5 coisas interessantes que andei fazendo (inspirado pelo Tim Ferris 5-bullets friday)

Uma disco que estou escutando

A trilha sonora de Era Uma Vez no Oeste, composta por Ennio Morricone. Uma das mais belas trilhas do cinema. O tema principal me arrepia toda vez que escuto.

Um filme que assisti

Em 1948, John For lançava Fort Apache, o primeiro filme do que ficou conhecido como a trilogia da cavalaria. Henry Fonda mostra a tragédia de um homem moralmente bom, mas consumido pelo ressentimento e desejo de glória, surdo aos conselhos do prudente Capitão York (John Wayne).

Vídeos que estou vendo no youtube

Quem me conhece sabe que meu grande ídolo no futebol é o Zico, mas poucos sabem que o segundo é Leandro. Nos últimos dias andei vendo videos sobre ele, o mais trágico dos heróis rubro-negros. Terminou a carreira cedo, aos 31 anos, por conta dos problemas crônicos no joelho.

Um livro que terminei

A Febre da Bola, do Nick Hornby. Um torcedor do Arsenal conta sua história através da obsessão que ele tem por seu time. Reflexões bem interessantes sobre a relação de um torcedor com seu time e como sua vida é afetada por esta relação.

Um pensamento

Assim morrem as verdades: quando não se podem mais pronunciar ao acaso.

Constantin Noica

Conto da semana: As 12 princesas bailarinas

No fim do século XIX, o poeta escocês Andrew Lang organizou coletâneas de contos de fadas, geralmente traduzidas por sua esposa Nora. Estas coletâneas foram dividas em cores, sendo The Red Fairy Book, ou o Livro Vermelho, a segunda delas.

Os contos de fadas geralmente não tem autor definido. São estórias que atravessam gerações, geralmente passadas por contadores ou poetas, que terminaram tendo alguma versão final escrita por estudiosos do folclore, como os irmãos grimm. São fontes preciosas de sabedoria e ricas em simbolismos da condição humana.

As 12 Princesas Bailarinas é o conto que inicia o livro vermelho. Uma estória de astúcia, persistência e disciplina para obedecer os conselhos que o personagem principal recebe para conquistar o coração de uma princesa.

Chesterton estava certo. Os contos de fadas são a melhor fonte de moral que temos produzida pelo homem, justamente por condensarem ensinamentos imemoriais.

Fort Apache (1948)

Cel Thursday(Henry Fonda) é o irmão do filho pródigo. É um homem honesto e bom, mas que deixou o mal do orgulho se instalar em seu coração. Busca a glória e se deixa cegar para as circunstâncias reais da vida.

Seu contraste é o Capitão York (John Wayne), um homem prático, que procura se colocar no lugar dos apaches e entendê-los. Por isso consegue ver o que Thursday é incapaz: que os indígenas não são seus inimigos. Pelo contrário, são gente honrada que deseja a paz.

Baita filme.

A loucura de quem confia demais em si mesmo

Em tempo: Este filme diz muito sobre o atual movimento conservador brasileiro, que infelizmente está repleto de Cel Thursday.

Atualização:

Ocorreu-me que temos aqui as virtudes aristotélicas-platônicas. Os quatro sargentos se deixam levar pelos desejos. Já o Cel Thursday tem a virtude da temperança (controla seus desejos), mas se prende na vontade, sem abertura para a sabedoria. York é temperante, corajoso (no sentido de Aristóteles, de ter a vontade no lugar certo) e prudente (sabedoria), assim como o Sargento O´Rourke. Justamente por dominas os três aspectos da alma, York e O´Rourke são exemplos de justiça.

O jovem O´Rourke representa o homem comum, que diante dos exemplos tem que decidir que vida vai levar. O casamento dele como Philadelphia representa a escolha pela vida virtuosa, que é simbolicamente premiada pelo filho do casal. É também o símbolo a união da terra ( o jovem tenente) com o céu (a moça virtuosa).

Small is Beautiful: o problema do homem economicus

Alguns livros conseguem nos encantar a cada frase; Small is Beautiful é um desses. É um livro sobre economia, mas num sentido mais amplo do que nos acostumamos. Para Schumacher, a economia é parte de um tudo e não pode ser visto isoladamente, a partir de abstrações como acontece usualmente. Ele rejeita totalmente o homem economicus, assim como qualquer outra simplificação.

Somos um tudo, um ser complexo, que nos ligamos com a matéria, os outros, o mundo, Deus, realidades que são colocadas diante de nós de forma simultânea. Pensar o homem apenas sob o prisma quantitativo, em termos de custos e benefícios, é nos reduzir à humanidade.

Somos muito mais que um homem economicus, ponto de vista que é compartilhado por, entre outros, Guerreiro Ramos em A Nova Ciência das Organizações. Somos a sociedade que foi tomada pela lógica do mercado, algo único na história humana.

3 ensaios do fim de semana

Nos fins de semana costumo interromper um pouco as leituras regulares e focar mais em ensaios, geralmente de autores diferentes das diversas coletâneas que tenho na estante. Gosto particularmente deste gênero porque o autor está mais solto para refletir e especular, nos colocando muitas vezes opiniões provisórias e abertas, de uma forma mais fluída do que um livro tese.

Neste fim de semana que passou fui particularmente feliz com 3 ensaios sensacionais, que de certa forma comunicam um com os outros. São eles.

Dos Estudos Clássicos (Eric Voegelin): uma reflexão sobre a importância da recuperação da compreensão que os antigos gregos tinham da nossa humanidade. O retrato que Voegelin faz da modernidade é cirúrgico e via nos pontos chaves. Infelizmente o quadro que ele visualizou em 1973 só se agravou e fica fácil entender o momento de loucura coletiva que nos encontramos hoje.

In Pursuit of an ideal (Isaiah Berlin): o autor mostra a insuficiência da idéia utópica de promover uma sociedade perfeita a partir da convicção de que se tem o entendimento para seu problema e a solução que se deve implementar. A consequência que chega também é atual: para promover a sociedade perfeita, o que nos impede de remover os obstáculos, aquelas pessoas que se colocam no caminho de uma humanidade mais justa e em paz? Berlin acrescenta: cada vez mais se quebram os ovos e o omete não vem.

On T. S. Eliot Wasted Land (Russel Kirk): analisando o poema enigmático de Elit, Kirk procura lhe dar um sentido geral, entendendo que há linhas obscuras que nos deixam perplexos, mas que há uma clareza no poema como um tudo. Os grandes críticos literários são justamente aqueles que nos conseguem fazer ver a unidade de uma obra enquanto a maioria só consegue produzir textos gigantes que não conseguem chegar nem perto da essência do que o autor quis comunicar, o que só revela a falta de sensibilidade e poder de reflexão. Para Kirk, Wasted Land não é uma simples descrição do estado de espírito do poeta, mas uma reflexão sobre o problema da modernidade e suas raízes, colando uma luz nas causas de uma decadência civilizacional.

Covid: não foi desta fez

Depois de 3 dias isolado no quarto, finalmente fiz o exame do covid, aquele do cotonete. Deu negativo, vida que segue; não foi desta vez.

Digo isso porque é bem possível que boa parte de nós tenhamos o covid de uma forma ou de outra. Cada vez sou mais descrente da eficácia destas medidas de restrição. Acho que nossa melhor arma continua sendo água e sabão (e a invermectina, que tomamos todos aqui em casa).

Falam do positivismo dos militares, mas ninguém foi mais positivista nessa crise que governadores, prefeitos, médicos mandetianos, intelectuais, juízes e jornalistas ao colocar a ciência como valor absoluto, ignorando seus princípios e limites metodológicos.

Room office

Ficar preso em casa já é ruim, imagine preso no quarto?

Na segunda tive contato com alguém que foi positivado para covid. Significa que tenho que cumprir um protocolo agora de 14 dias de isolamento para não ter risco de contaminar ninguém, CASO eu tenha sido infectado.

Por segurança, somos 6 aqui em casa, fui isolado em um dos quartos. Como é suíte, não saio nem para ir no banheiro. Estou com zero sintomas e amanhã vou fazer exame (o ideal é entre o 5 e 7 dia). Fazer antes é besteira. Provavelmente vai dar negativo.

É uma experiência interessante se isolar dessa maneira. Minha esposa deixa a comida em uma mesinha colocada na porta. Ela toca o sino e se retira. Só então posso abrir e pegar a bandeja. Estou há 3 dias sem contato com ninguém.

Faz parte desta praga que nos atingiu. Ela vai embora.

Brasil: o jeitinho é realmente nosso grande problema?

O problema do Brasil é o jeitinho, a confusão do público com o privado, a tendência de entender a vida pública como extensão da família, etc. Assim nos dizem os grandes intérpretes da cultura brasileira (e muitos asnos palpiteiros também).

E se for o inverso? Explico. Queremos ser a Europa, impessoais no trabalho, verdadeiros autômatos, que cumprem regras fielmente, sem fazer distinção de pessoas ou seguir as próprias percepções. Não por acaso há tantas distopias com ambientes “hospitalares”, tudo muito arrumadinho, limpo e… desumano!

Temos mil problemas com nosso jeito de ser, mas será que somos um fracasso tão grande? Outro dia Dom Bertrand disse uma frase que ficou gravada na minha memória: um país que alimenta um terço da humanidade não pode ser considerado um fracasso. Eu acrescentaria, um país que se torna a sétima ou oitava economia do mundo com índices educacionais tão ridículos tem algo a ser estudado. Se tirássemos a violência, este sim um problema crônico, mesmo com todas as nossa mazelas, ainda seríamos um bom lugar para morar. Será que queremos ser realmente primeiro mundo? Queremos ser um europeu rico, sem filhos, sem Deus, com ajuda estatal para tudo e usar nossas férias para fazer turismo?

Luis Sérgio Coelho de Sampaio foi o primeiro a me despertar para este problema em seus vídeos sobre antropologia cultural no youtube (considero esta série de vídeos um dos maiores tesouros da rede). Guerreiro Ramos em A Nova Ciência das Organizações me dá outro insight, o da lógica de mercado invadindo toda a vida social. Não somos este tal de homem econômico, somos muito mais ricos que isso. E talvez o Brasil ainda tenha algo de preciosos que o tal primeiro mundo perdeu faz tempo.

Antes do sol nascer

Escutei em um podcast que acordar antes do sol nascer é uma boa prática. Nos torna despertos e mais produtivo ao longo do dia. É um momento para ler, pensar, se preparar para o que vem pela frente.

Resolvi experimentar. Estou no segundo dia.

Acordo pouco antes das seis. Faço um café sem açúcar e me coloco a ler; minha mesa fica em frente à janela. O primeiro dia foi ok, não senti sono e realmente fiquei bem animado. Repararam no trabalho.

Vamos ao segundo.