5 Notas da Semana

Olá pessoal!
Eis minha lista semanal de 5 coisas interessantes que andei fazendo (inspirado pelo Tim Ferris 5-bullets friday)

Um disco que andei escutando

Halfway to Sanity (Ramones). Um disco considerado menor na biografia da banda, virou praticamente o meu hit especial da quarentena brasileira. Tanto pelo título do disco, como pela música de abertura, talvez minha favorita do Ramones: I Wanna Live. Muito legal a participação da Debbie Harry em uma das faixas e a belíssima A Real Cool Time.

Um filme que assisti

Pauline na Praia, do Eric Rohmer. Terceiro filme da série Comédias e provérbios, que filmou na década de 80. Para mim, a chave para entender esta série é a insuficiência de uma vida sem um norte moral. Eles retratam uma juventude francesa na década de 80 que simplesmente queria viver a vida sem nenhuma amarra seja da tradição, família ou nação. O resultado é o tédio e uma certa insipidez da própria vida. Marion, Henri e Pierre são puro ego, colocando-se no centro do mundo e gerando expectativas nos outros que nunca serão cumpridas.

Um livro que li

The Guernsey Literary and Potato Pie Society. Guernsey é uma ilha britânica no canal da mancha que foi ocupada por nazistas na II Guerra Mundial. O livro é um romance escrito de forma epistolar (por cartas) muito interessante, tanto pela estória como pelas discussões literárias e narrativas sobre a ocupação, que indica como seria uma Inglaterra ocupada se houvesse acontecido.

Um canal do Youtube que ando assistindo

Para quem gosta de literatura, especialmente os clássicos, a Tatiana Feltrin é excelente (confira aqui). São muitos livros comentados, dicas e projetos em andamento, com comentários parciais de obras que ela está lendo. Acima de tudo, comentários espirituosos de quem ama a literatura e consegue passar toda essa empolgação em suas falas.

Um Pensamento que andei meditando

Well, I wanna live
I want to live my life
I wanna live
Well, I want to live my life

The Ramones

Reflexões de uma Pandemia – 17

A essa altura do campeonato, dois meses de pandemia se completando, cheguei à conclusão que NINGUÉM tem a menor idéia do que fazer.

Quarentena pode funcionar ou não, tem estatística para ambos os lados.

O mesmo vale para lockdown, seja vertical ou horizontal.

Não se sabe nem mesmo como este virus se transmite. Sério, até isso está em dúvida.

A cloroquinha pode funcionar, mas pode não funcionar. No início ou na internação? Sei lá. Está todo mundo chutando.

Médicos agem como se soubessem de estatísticas. Estatísticos agem como se soubessem de epidemia.

Imperial College? Uma gigantesca bobagem. Exponencial? Outra curva? Não se sabe.

Qual a porcentagem infectada? Qual a mortalidade? Não se sabe. Só se testa os mais graves. Países que testam em massa são ignorados.

Ninguém sabe porcaria nenhuma desta pandemia.

Só sabem como ganhar dinheiro e ferrar a população apavorada.

Vai ter segunda onda? Todo ano vai ter surto? Ninguém sabe.

Por todo mundo políticos tomam decisões totalmente no escuro, pressionados por jornalistas irresponsáveis que lucram com o caos.

O mundo está cheio de agentes do caos. Vai ser um DESASTRE.

Esta tragédia está só começando.

Eric Rohmer: assistindo(novamente) Comédias e Provérbios

Da primeira vez que assisti a série de 6 filmes, não identifiquei um tema que unisse os filmes.

Desta vez, com auxílio de C. G. Crisp, acho que encontrei a chave.

Se em Contos Morais os personagens tentavam tomar decisões morais, em Comédias eles as evitam. As personagens (agora são mulheres as protagonistas), nos anos 80 europeus, são auto-suficientes e querem viver a vida da forma que achar melhor, em virtude dos próprios egos.

O resultado é uma insuficiência devastadora.

Comédias é uma resposta de Rohmer a Freud.

Ainda escreverei sobre isso.

Pauline na Praia (1983)

Hazony e o cristianismo

Estou lendo A Virtude do Nacionalismo, do Yoran Hazony. Ele entende que existem duas grandes correntes de pensamento que disputam aforma de organizar uma ordem mundial: o nacionalismo e o imperialismo. Pretende defender o nacionalismo como melhor opção, mas de forma alguma perfeita.

O livro é muito interessante, mas chamou-me atenção que ele trate o catolicismo romano como um movimento imperialista, que ignora as lições do antigo testamento de respeitar as fronteiras com outras nações, e tenha se dedicado a um grande império cristão. Acho problemática a tese dele. No mínimo ignora completamente a formulação de São Paulo e do Santo Agostinho. É verdade que durante a Idade Média alguns papas e bispos tenham buscado o poder temporal, mas sempre foi ao arrepio da idéia cristã básica de separação das duas cidades. Cristo disse claramente que não importava a organização social, que não era para isso que tinha vindo. O catolicismo romano não tem uma doutrina de como organizar países e a ordem mundial. Meu reino não é deste mundo, foi o que disse o Salvador. Também acho problemático colocar como uma construção protestante não só o nacionalismo moderno, mas as instituições modernas tanto na cultura quanto na política.

Outra coisa, ao reduzir a disputa pela ordem mundial a dois movimentos opostos, que ao longo da história se revesam como dominante, parece-me que Hazony está raciocinando em termos de dialética histórica. Segundo ele, tivemos os Impérios da Antiguidade, Bíblia (Antigo Testamento), cristianismo, protestantismo, globalismo e agora uma tentativa de renascimento do nacionalismo.

O que achei interessante mesmo, foi entender o nacional socialismo alemão não como um movimento nacionalista, mas como um movimento imperialista. O mesmo se pode dizer da ordem liberal. Aí acho que concordo bastante.

Aliás, o liberalismo como ideologia me interessa cada vez mais como tema.

Conto da Semana: Jogo do Bicho (Machado de Assis)

Iniciei o projeto de ler um conto toda semana e dividir minha impressão inicial nestas páginas. Na verdade, ano passado dediquei-me bastante à leitura dos contos, inspirados em um capítulo do livro do Harold Bloom, Como e Por Que Ler. Este ano diminui um pouco o ritmo, mas dá para ler um conto por semana.

Jogo do Bicho (Machado de Assis)

Conta a estória de um rapaz de classe média baixa, recém-casado, que patina no emprego, sem conseguir a almejada promoção; ao contrário, vê os colegas sendo promovidos na sua frente. Também não mostra nenhum esforço para se destacar além de participar das fofocas internas. Seu principal esforço parece ser no Jogo do Bicho, que encara com racionalidade, como se fosse seu meio de ganhar na vida. Chega a convidar um bicheiro para ser padrinho de seu filho, na esperança de ganhar dicas dos vencedores.

Obviamente perde muito mais do que ganha. No fim, quando desolado ao fazer as contas e descobrir o tamanho de suas perdas, joga por uma última vez e ganha. Não o suficiente para repor suas perdas, mas serve para sua euforia, sua ilusão de sucesso. Em 24 horas gasta boa parte do que ganhou, mostrando o carácter temporário do dinheiro do jogo.

Machado parece estar mostrando algo bem típico de nossa gente, a tal “fezinha” no jogo como um substituto para investir em si mesmo e procurar ganhos permanentes através do próprio trabalho e desenvolvimento de habilidades. O narrador tem o sonho de ganhar o dinheiro que acha que merece e termina condenando sua família à mediocridade. Mais até do que o dinheiro perdido, há a questão do esforço que coloca no jogo, seja ele qual for, e, principalmente, a imobilidade. O achar que a solução está na sorte, deixa de lado o que realmente poderia estar fazendo para si mesmo ou por sua família.

Reflexões de uma pandemia – 16

A Caminhada

Hoje caminhei pela primeira vez desde o início da pandemia, ou melhor, do início das medidas restritivas adotadas pelos diversos governos estaduais. No Brasil temos uma imensa dificuldade de chamar as coisas pelo nome correto e nosso jornalismo contribui assustadoramente para essa situação. Chamam de quarentena, lockdown, o que na verdade se tratou de decretos dos governadores impedindo o funcionamento de diversos setores do comércio, eventos que geram aglomeração e instituindo o home office para a maioria dos servidores públicos.

Aliás, com o advento da informática, praticamente tudo que a maioria dos servidores realizam pode ser feito remotamente. O grande problema sempre foi criar mecanismos para que ele realmente trabalhe e não transforme o concurso público em uma forma de renumeração com pouca contrapartida. No longo prazo, possivelmente muitos estariam em um segundo emprego para aumentar a renda. Eu não sei o que vem primeiro, a confiança ou a responsabilidade, mas estamos presos em um ciclo vicioso de irresponsabilidade e falta de confiança. O que se paga ao servidor público não é o produto do seu serviço, mas a disponibilidade de estar de 9 as 5 no local de trabalho, independente do que esteja fazendo. Muito se condena os servidores, mas acho que esta realidade é cruel com as duas partes e não sei até que ponto influencia muitos comportamentos pouco recomendáveis de alguns.

Enfim, caminhei. Nada muito ousado. Algumas voltas no quarteirão, com máscaras. Muitos amigos estão realizando atividade física normalmente e pode ser que minha atitude de só sair de casa para trabalhar e mercado fosse exagerada __ leio aqui e ali que a chance de pegar o covid ao ar livre é mínima __ mas me senti compelido a ser mais cauteloso. O fato de ter um amigo que por muito pouco não nos deixou pela doença, contribuiu para isso. Curiosamente, também passei o mês na leitura de A Montanha Mágica, do Thomas Mann, que se passa em um sanatório para tuberculosos onde a chance de cura era mínima também colocou um bocado mais de cautela em minha conta pessoal.

Vi algumas pessoas caminhando com cachorros, alguns idosos com acompanhantes dando alguns passos nos pelotis de alguns prédios, gente correndo, gente de bicicleta. Como já disse uma vez, o meu lugar favorito de Brasília são as calçadas que circulam as quadras, sempre arborizadas, um oasis de natureza deste horrendo conjunto de concreto. Não conheço um prédio que ache bonito na cidade; nem os originais e nem os modernos; nem mesmo as Igrejas, desfiguradas de sua importância simbólica.

Claro que fez-me bem sair para este passeio. No fone, escutei duas entrevistas em um canal da fuvest, um sobre o livro Montanha Mágica e outro sobre Cem Anos de Solidão; ambas muito boas, por sinal. Confesso que sempre espero o pior de acadêmicos, especialmente na área de filosofia e letras, mas os dois foram bem, embora a segunda professora tenha segurado um certo marxismo latente, talvez uma vontade de falar da teoria da dependência, aquele monte de bobagens que tornou famoso um certo Fernando Henrique Cardoso, um intelectual de terceira ordem que terminou presidente. Mas pensei pouco em política e muito em literatura, esta paixão que tenho. É uma pena que tenha pouquíssimas pessoas para conversar sobre o tema. Felizmente tenho um filho que lê os clássicos e com isso temos boas conversas. Vejo que ele tem influenciado os amigos; bom sinal. Mas infelizmente nunca conseguir influenciar os meus. Acho que sou mau propagandista.

A maioria das pessoas estava de máscara. O mesmo tenho visto nos poucos lugares que tenho ido, mas vejo relatos que não está sendo sempre assim. Dizem que o brasileiro não tem responsabilidade, que ignora as recomendações. Que recomendações? Os governos estaduais foram muito pródigos em cercear as liberdades, mas fizeram quase nada em termos de comunicação. Antes que joguem no colo do governo federal, essa responsabilidade é sim de quem está na ponta, nos municípios. Campanhas de conscientização poderiam ter sido feitas ao invés de usar prioritariamente a repressão. O curioso é que são governos progressistas, que enchem a boca para dizer que a educação é tudo. Só se for na ponta de um porrete. Continuo achando que fizemos tudo ao avesso. Começamos fechando o comércio ao invés de começarmos com a prevenção e feito um plano de escalada de medidas, com preparação prévia. Ao invés disso, decretos escritos nas coxas e muita licitação emergencial. Claro que isso está fedendo e tomara que tenha desdobramentos posteriormente. A impressão é que fizeram uma farra com o dinheiro que nem temos e que passaremos anos, talvez décadas, pagando este cheque especial.

Vivo constantemente entre momentos de otimismo e de pessimismo. Tem momentos que acho que a situação está melhorando e outros que vai piorar ainda mais. Vi um filme, excelente aliás, sobre uma ilha no canal da Mancha que foi ocupada por nazistas durante a II Guerra Mundial. Estou lendo o livro que deu origem ao filme, todo escrito por meio de cartas entre os personagens. Um deles escreve à escritora Julie: no início achamos que levaria meses, depois nos conformamos que seriam ano. Tenho medo de estarmos justamente nesta fase, de começarmos a perceber que como as grandes guerras mundiais, pode demorar muito mais tempo do que imaginávamos.

Parece que a caminhada foi ruim? Foi nada. Ela me deu aquela impressão que temos que continuar andando, marchando através da história. Deu-me disposição de escrever este texto, o que está sendo muito bom. Colocar pensamentos no papel sempre foi uma catarse, mas dificilmente consigo fazer neste tom mais pessoal. Espero repetir mais. E um dia poder escrever sobre a pandemia que passou.

5 Notas da Semana: A Montanha Mágica, Paris, Texas, The Cure e Carpeaux

Paris, Texas

Fazia tempo que não destacava o que andei fazendo na semana. Notas da semana que passou:

  1. Um livro que terminei: A Montanha Mágica.

Cada vez mais entendo a Grande Guerra como o acontecimento central do século XX. Neste romance de formação, Thomas Mann descreve o clima intelectual que antecedo o início da guerra, o fascínio das ideologias, o grande tédio e o clima de beligerância. Hans Castorp representa a própria nação alemã, dividida por desejos díspares, que a levaria aos campos de batalha da Europa.

2. Um filme que assisti: Paris, Texas

Há formas diferentes de se perder a família. Travis perde a sua da pior maneira, pela loucura de sua obsessão e sua fraqueza pessoal. Ele recupera sua identidade ao viajar para Los Angeles. Depois, no retorno para o Texas, recupera sua família para aí perdê-lo do jeito certo, pelo sacrifício. (PS: O que era a Nastassja Kinski!)

3. Um disco que ouvi várias vezes: Seventeen Seconds

Toda melancolia do The Cure nesta viagem sombria de melodias que demonstram a angústia que marcaria o som da banda nos anos 80. Genial.

4. Um autor que andei lendo: Otto Maria Carpeaux

Quando Carpeaux imigrou para o Brasil na primeira metade do século XX, ele não se tornou o maior crítico literário na banânia, mas também revelou o provincianismo de nossos melhores, incapazes de realmente dialogar com a grande tradição ocidental. Os Ensaios Reunidos são aulas de compreensão da cultura que até hoje não se encontra por aqui.

5. Um pensamento que meditei:

A verdade está tão obscurecida nos tempos atuais e a mentira tão estabelecida que, a menso que se ame a verdade, não se consegue conhecê-la.

Pascal

Cinema é entretenimento

Ontem assisti novamente Vem Dançar Comigo (1992) do Baz Lurhmann. É um destes filmes desconhecidos que beira à perfeição, especialmente quando a lente que usamos para analisar é a que deveria ser principal quando se trata de cinema: entretenimento.

Lurhmann conta uma boa história, com humor, surpresa, romance, drama e uma tese central bem definida: viver com medo é viver pela metade.

Para ficar ainda melhor, ainda coloca um pérola da música pop muito bem encaixada no filme: Time After Time, da Cyndy Lauper.

É daqueles filmes que nunca vou cansar de ver!