Altos e Baixos
À medida que vai ficando claro que a pandemia vai durar por um longo tempo, a coisa vai se encaminhando para uma estranha rotina. Sabemos que o perigo está nos rondando, que por mais que tenhamos cuidado podemos nos contaminar por um único descuido; mas não é só isso, há os efeitos colaterais, pois pode nos faltar o socorro por um outro problema qualquer, como uma doença crônica, um acidente; já que os recursos estarão esgotados por conta da pandemia e, mais ainda, haverão as consequências terríveis da paralisação econômica que pode levar perfeitamente a uma convulsão social de difícil previsão e um colapso do tecido social que marca a nossa sociedade. Tudo isso no curto espaço de um ano.
Sempre imaginei o que pensava um inglês médio durante a II Guerra Mundial, vivendo aqueles longos 5 anos até a derrota final do regime nazista. Quando Churchil fez seu discurso, todos sabiam que seria um longo período de provação; que levaria alguns anos para serem felizes novamente, sem ressalvas, sem a tensão de ter uma ameaça permanente sobre suas cabeças. O grito da vitória em 1945 foi não só pela derrota de Hitler, mas pela certeza que poderiam aproveitar cada momento de alegria sem temer o que aconteceria no dia seguinte, sem a sensação incômoda que o inimigo estava à espreita, que poderiam ser golpeados a qualquer momento. Não, a alegria do dia da vitória é que tudo tinha acabado; os mortos estavam mortos, mas os vivos ganhavam finalmente um futuro sem amarras, sem considerações estatísticas sobre o dia de amanhã.
Estamos, de certa forma, em 1940. Procuramos alguma notícia boa, um fio de esperança, mas vamos nos dando conta que o inimigo é muito mais poderoso do que supúnhamos, e que muito nos será exigido. Alguns ainda teimam, fingem que não há nada demais, mas também estão com medo __ é perceptível. Dizem que na aparente tranquilidade de um avião, apenas 2% passam o vôo inteiro sem sentir um fio de medo. A grande maioria finge, e reza para todos os seus deuses a cada turbulência, a cada solavanco. Estamos um pouco assim. Muito fingimento, mas um medo real, o receio da incerteza de tudo que está por acontecer neste inesquecível ano de 2020.
Nunca mais seremos os mesmos.